O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que o combate à fome é uma escolha política dos governantes. “A fome não resulta apenas de fatores externos, ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas. Hoje o mundo produz alimentos mais do que suficientes para erradicá-la. O que falta é criar condições de acesso aos alimentos”, afirmou.
Ele criticou os gastos com armamentos, que subiram 7% no último ano, atingindo US$ 2,4 trilhões. “Inverter essa lógica é um imperativo moral, de justiça social, mas também essencial para o desenvolvimento sustentável”, destacou Lula durante o evento de pré-lançamento da força-tarefa para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, no Rio de Janeiro.
A iniciativa propõe um compromisso internacional para obter apoio político, recursos financeiros e conhecimento técnico para implementar políticas públicas e tecnologias sociais eficazes na erradicação da fome e da pobreza. Entre as iniciativas bem-sucedidas estão programas nacionais de transferência de renda, alimentação escolar, cadastro de famílias vulneráveis, apoio à primeira infância, agricultura familiar, assistência social, protagonismo feminino e inclusão socioeconômica.
“A fome não é uma coisa natural, a fome é uma coisa que exige decisão política”, reforçou Lula. Ele criticou a necessidade de pedir aos líderes mundiais que olhem para os pobres como seres humanos que merecem oportunidades, em um momento em que a inteligência artificial já é discutida.
A aliança, proposta pelo Brasil no G20, teve seus documentos fundacionais aprovados pelos ministros no Rio de Janeiro, permitindo a adesão de países interessados. O lançamento oficial será na Cúpula de Líderes do G20, em novembro, também no Rio.
Lula explicou que a aliança busca promover a cidadania através da articulação de todos os atores relevantes, compartilhando políticas públicas eficazes. Ele enfatizou que a adaptação e implementação dos projetos serão lideradas pelos países receptores.
A Aliança Global contra a Fome e a Pobreza será gerida por um secretariado nas sedes da FAO em Roma e Brasília, com financiamento até 2030, sendo metade dos custos cobertos pelo Brasil. Lula agradeceu aos países que já se comprometeram a contribuir, ressaltando que não serão criados novos fundos, mas que os recursos existentes serão redirecionados para as políticas de estado de cada país.
O Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Banco Africano de Desenvolvimento já declararam apoio à aliança, estabelecendo novos mecanismos financeiros e recompondo capital para ajudar os países mais pobres.
Lula defendeu ainda a reforma das instituições de governança global, incluindo as financeiras, para enfrentar os complexos problemas da atualidade. Ele criticou a representação distorcida no FMI e no Banco Mundial, que prejudica o enfrentamento da fome e da pobreza.
A FAO lançou seu Mapa da Fome antes da reunião ministerial, revelando que uma em cada 11 pessoas pode ter passado fome em 2023. No ano anterior, 28,9% da população mundial enfrentava insegurança alimentar moderada ou grave. O presidente considerou os dados “estarrecedores” e ressaltou que a fome é mais grave para mulheres e crianças.
Lula destacou que a globalização neoliberal, a concentração de riqueza e as crises simultâneas agravaram a pobreza mundial. Citou a pandemia de covid-19, conflitos armados, eventos climáticos extremos, subsídios agrícolas em países ricos e o protecionismo que prejudica os produtos de países em desenvolvimento.
Segundo a FAO, 2,5 milhões de brasileiros ainda enfrentam insegurança alimentar severa. Em 2014, o Brasil havia saído do Mapa da Fome, mas voltou ao relatório em 2021. Lula reafirmou seu compromisso de erradicar a fome no Brasil até o final de seu mandato.