Lula desmontou o ato antidemocrático na Paulista

por Eduardo Silva

Jair Bolsonaro, Silas Malafaia e outros líderes da extrema-direita mobilizaram esforços durante um mês para reunir 1 milhão de manifestantes na Avenida Paulista, com o intuito de protestar. No entanto, o propósito da manifestação era pouco claro e dividido. Malafaia queria o impeachment e a prisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes (o “ditador da toga”), enquanto Bolsonaro, temendo sua própria prisão, gravou vídeos convocando o público a defender a anistia dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, incluindo ele mesmo.

A expectativa inicial foi severamente frustrada: apenas 45 mil pessoas compareceram, o que representou apenas 4,5% do público esperado. Parte dos presentes foi atraída pela possibilidade de uma “treta” provocada por Pablo Marçal, e, se não fosse sua presença confirmada, o ato teria sido ainda mais esvaziado, talvez com cerca de 20 mil participantes. Ou seja, muita gente compareceu por sua causa e não por Bolsonaro.

Por que a manifestação fracassou?

Apesar de Bolsonaro ainda contar com um grupo de seguidores fiéis, conhecidos como “bolsonaristas raiz”, muitos se decepcionaram com sua postura acovardada nos últimos tempos. Esse público, aos poucos, tem migrado para figuras como Pablo Marçal que demonstra a ousadia que o capitão deixou de ter. Além disso, uma parte significativa da população percebeu as acusações contra Bolsonaro — como o caso das joias pertencentes ao Estado — como legítimas, e não como perseguição.

A pesquisa Genial/Quaest aponta que 89% da população condena os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, indicando que a maioria da população não está contra Alexandre de Moraes. Quanto à suspensão do X no Brasil, a grita parte mais da grande mídia do que do usuário comum que já migrou para o bluesky.

Outro fator do fracasso foi o cenário econômico mais favorável. A fala da deputada Bia Kicis, afirmando que o “Brasil está sendo destruído”, contradiz os fatos percebidos por muitos: alimentos mais baratos, queda do desemprego, gasolina a preços mais acessíveis, inflação sob controle e programas sociais robustos. Mesmo críticos de Lula têm se beneficiado da melhoria econômica, o que enfraqueceu a razão para o protesto. Lembremos que Pablo Marçal afirmou em entrevista que só disputará as eleições presidenciais de 2026, caso Lula não se candidate. Ele sabe que, a continuar o sucesso econômico do atual governo, não terá chances, portanto, faz uma leitura correta da conjuntura, ao contrário dos bolsonaristas.

A análise final mostra que a base de apoio de Bolsonaro está encolhendo, enquanto outros nomes começam a atrair seu eleitorado desiludido. O isolamento o enfraquece cada vez mais. Esse enfraquecimento se reflete também na crescente pressão legal, com temas como as joias, falsificação do cartão de vacinação e sua conexão com a tentativa de golpe de estado pairando como ameaças iminentes em torná-lo réu.

Como o capitão voltou a questionar a lisura do processo eleitoral de 2022, este momento de isolamento e enfraquecimento seria estratégico para o PGR Paulo Gonet pedir sua prisão preventiva.

Eduardo Silva é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.

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Última Atualização: 10/09/2024