Lula condena as tarifas de Trump e promete reação legal com base na Lei de Reciprocidade, recém-sancionada em meio à escalada de tensões com os EUA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com firmeza às novas tarifas anunciadas pelo ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, afirmando que o Brasil não aceitará medidas unilaterais sem uma resposta proporcional e legal. Durante pronunciamento nesta quarta-feira (9), Lula destacou que as ações do governo norte-americano serão enfrentadas “à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica”, instrumento jurídico recentemente aprovado para responder a pressões comerciais externas.
“O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”, afirmou o presidente em uma postagem nas redes sociais, reforçando o tom de defesa nacional diante das declarações vindas de Washington. A mensagem foi direta: o país tem autonomia para decidir sobre seus assuntos internos, especialmente os de natureza judicial, como o processo que investiga supostos planos de golpe de Estado envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Esse processo é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”, ressaltou Lula, referindo-se à tentativa de interferência estrangeira em pautas domésticas. O presidente também aproveitou para defender o conceito de liberdade de expressão no Brasil, frisando que ela “não se confunde com agressão” e defendendo maior responsabilização das plataformas digitais em relação ao conteúdo veiculado em suas redes.
A escalada comercial entre os dois países teve um novo capítulo quando Trump anunciou, por meio de sua rede social Truth Social, a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil. Segundo ele, a medida seria necessária devido à forma como o Supremo Tribunal Federal (STF) tem tratado o caso envolvendo Jair Bolsonaro, além de uma suposta desvantagem comercial histórica sofrida pelos EUA. O anúncio pegou o governo brasileiro de surpresa, mas não deixou dúvidas quanto à intenção protecionista por trás da decisão.
Lula, porém, rebateu imediatamente as alegações de Trump sobre relações comerciais “injustas”. Para o presidente brasileiro, os números contam uma história diferente. Ele destacou que dados oficiais dos próprios Estados Unidos mostram um superávit americano de cerca de US$ 410 bilhões no comércio bilateral nos últimos 15 anos — o que contradiz diretamente a narrativa do ex-presidente republicano.
Diante do anúncio das tarifas, Lula convocou uma reunião emergencial com os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e vice-presidente) e Mauro Vieira (Relações Exteriores). O objetivo foi traçar uma estratégia conjunta para responder aos Estados Unidos dentro do marco legal, priorizando a reciprocidade comercial e a proteção dos interesses brasileiros.
A principal ferramenta à disposição do governo é a chamada Lei de Reciprocidade Econômica, sancionada ainda neste ano em meio a tensões iniciais provocadas por Trump. A legislação permite que o Brasil retome controle sobre suas vantagens comerciais e aplique contramedidas contra países que adotem políticas consideradas injustas ou unilaterais.
A lei foi aprovada com amplo apoio no Congresso Nacional, incluindo partidos da base governista e da oposição, e entrou em vigor sem vetos presidenciais. Seu escopo vai além da simples retalição comercial, estabelecendo critérios claros para a suspensão de concessões em áreas como investimentos, comércio e direitos de propriedade intelectual, sempre levando em conta o impacto econômico sofrido pelo Brasil.
As contramedidas previstas na lei podem incluir:
- Imposto sobre importações de bens ou serviços de países que impuserem barreiras comerciais ao Brasil;
- Suspensão de direitos de propriedade intelectual concedidos a empresas ou governos desses países;
- Retomada de benefícios concedidos em acordos comerciais multilaterais ou bilaterais.
Importante notar que todas essas medidas devem ser proporcionais ao impacto causado pelas ações estrangeiras, garantindo assim uma resposta justa e equilibrada. Além disso, a legislação prevê a possibilidade de negociação diplomática para resolver conflitos antes que as represálias sejam efetivamente aplicadas.
Com esse arsenal jurídico e político à disposição, o Brasil entra numa fase delicada de sua relação comercial com os Estados Unidos. Lula deixa claro que não tolerará ingerências em sua política interna nem aceitará tratamento desigual no comércio internacional. Sua resposta, embasada na recém-criada Lei de Reciprocidade, pode abrir um precedente importante no cenário global, onde países em desenvolvimento buscam cada vez mais proteger seu espaço econômico frente a práticas comerciais agressivas.
Enquanto isso, a comunidade internacional observa atentamente os próximos passos. A crise comercial entre Brasil e EUA pode ter repercussões maiores, influenciando não só o fluxo de mercadorias, mas também a dinâmica das relações diplomáticas e a própria ordem multilateral no comércio global.