O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou neste domingo (25) como “vergonhoso e covarde” o ataque aéreo israelense que matou nove dos dez filhos da médica palestina Alaa al-Najjar, em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza.
O bombardeio, realizado no sábado (24), atingiu a casa da família enquanto a pediatra trabalhava no Hospital Nasser, um dos poucos ainda em operação na região.
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“A morte de 9 dos 10 filhos da médica palestina Alaa Al-Najjar, como consequência de ataque aéreo do governo de Israel na Faixa de Gaza, é mais um ato vergonhoso e covarde. Seu único filho sobrevivente e seu marido, também médico, seguem internados em estado crítico”, declarou o presidente, em nota oficial publicada no site do Planalto.
Lula afirmou que a ofensiva de Israel já ultrapassou qualquer limite de legitimidade.
“Já não se trata de direito de defesa, combater o terrorismo ou buscar a libertação dos reféns em poder do Hamas. O que vemos em Gaza hoje é vingança”, escreveu.
Segundo o presidente, o único objetivo da atual fase do conflito é “privar os palestinos das condições mínimas de vida com vistas a expulsá-los de seu legítimo território”.
Massacre expõe padrão de ataques a civis no sul de Gaza
A tragédia que vitimou a família Al-Najjar ocorreu em Khan Younis, área sob intenso bombardeio desde o início da nova ofensiva israelense, batizada de Operação Carruagem de Gideão.
O pai das crianças, Hamdi al-Najjar, também médico, estava em casa no momento do ataque e ficou gravemente ferido. O único filho sobrevivente, Adam, de 10 anos, também encontra-se em estado crítico.
Vídeos divulgados pela defesa civil local mostram os corpos carbonizados sendo retirados dos escombros. Em frente ao Hospital Nasser, onde os corpos foram levados, familiares denunciaram o ataque como crime de guerra.
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“De repente, um míssil de um F-16 destruiu a casa inteira, e todos eram civis — minha irmã, o marido dela e seus filhos”, disse Wissam Al-Madhoun, tio das crianças.
No mesmo dia, outros 15 palestinos foram mortos em bombardeios em diferentes bairros de Khan Younis, incluindo duas crianças e seus pais, mortos durante a madrugada no bairro Amal.
Bombardeios avançam sobre hospitais e áreas residenciais
Desde o início da nova ofensiva, Israel tem intensificado ataques contra centros médicos, áreas densamente povoadas e estruturas civis.
Segundo levantamento do Haaretz com dados da OMS, ao menos 10 hospitais e clínicas foram atingidos em uma semana, incluindo o Hospital Europeu de Gaza, o Kamal Adwan, o Hospital Turco-Palestino e o próprio Hospital Nasser, onde Alaa al-Najjar atuava.
A Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 400 mil palestinos estejam sem acesso a atendimento médico funcional.
O Hospital Al-Awda, no norte da Faixa de Gaza, chegou a ser saqueado após evacuação forçada e funciona com capacidade crítica. Cirurgias são feitas sem anestesia e pacientes dormem nos corredores.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou neste domingo (26) que os palestinos vivem “a fase mais cruel deste conflito cruel”.
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Ele classificou como “inaceitável” o ritmo de entrada de ajuda humanitária e alertou que “sem acesso rápido e seguro à assistência, mais pessoas irão morrer — e as consequências para a população serão profundas”.
Justificativas militares contrastam com realidade da ofensiva
O Exército de Israel confirmou ter realizado o ataque em Khan Younis, alegando que o alvo era um grupo de “suspeitos” em uma zona de combate previamente evacuada.
A justificativa militar, recorrente nas últimas semanas, sustenta que o Hamas opera entre civis e usa hospitais como escudo.
No entanto, o caso Al-Najjar exemplifica o abismo entre a retórica militar e a realidade vivida pela população civil. O bombardeio atingiu uma casa residencial ocupada por crianças e ocorreu enquanto a mãe estava de plantão em um hospital. Não houve alerta prévio ou prova de atividade militar na área.
“Esse episódio simboliza, em todas as suas dimensões, a crueldade e desumanidade de um conflito que opõe um estado fortemente armado contra a população civil indefesa”, escreveu Lula.
Para o governo brasileiro, o caso representa não apenas um massacre, mas parte de um padrão de ação cujo objetivo é “a expulsão dos palestinos de seu legítimo território”.
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