Na abertura da 10ª reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), nesta quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu uma reforma profunda na arquitetura financeira internacional e criticou a lentidão no repasse de recursos prometidos pelos países ricos para enfrentar a crise climática. Ao lado da presidente do NDB, Dilma Rousseff, Lula destacou o papel estratégico da instituição criada pelos BRICS e reforçou a necessidade de novos mecanismos de financiamento sem condicionalidades.
“Nosso banco é mais do que um grande banco para países emergentes. Ele é a comprovação de que uma arquitetura financeira reformada é viável e que um novo modelo de desenvolvimento mais justo é possível”, afirmou o presidente.
Lula celebrou o crescimento do NDB desde sua criação em 2014, na cúpula dos BRICS realizada em Fortaleza, além de saudar o interesse de outros países em aderir à instituição – o que reforça a credibilidade do banco como alternativa inclusiva e eficaz ao sistema financeiro tradicional.
“O NDB financia projetos alinhados às prioridades nacionais, sem impor condicionalidades. E mais: 31% desses projetos já são executados em moedas locais, fortalecendo a soberania dos países membros”, apontou Lula.
Desde sua fundação, o banco já aprovou mais de 120 projetos, somando US$ 40 bilhões em áreas como energia limpa, transporte, abastecimento de água e proteção ambiental. No Brasil, mais de 20 projetos já foram beneficiados, totalizando mais de US$ 3,5 bilhões.
O presidente também destacou a resposta rápida do NDB às enchentes no Rio Grande do Sul como exemplo da agilidade da instituição em momentos de crise. Além disso, afirmou que o banco tem papel relevante na transição digital, investindo em tecnologia nos setores de saúde, educação, transporte e infraestrutura. Lula mencionou a expectativa de o NDB financiar um estudo de viabilidade para um cabo submarino de dados entre os países dos BRICS, reforçando a soberania digital dos membros.
Durante seu discurso, Lula criticou duramente o sistema financeiro global, que, segundo ele, impõe austeridade aos países pobres enquanto o mundo gasta trilhões com armamentos. Ele lembrou o compromisso assumido pelos países ricos na COP15, em 2009, de destinar US$ 100 bilhões anuais para o combate às mudanças climáticas — valor que até hoje não foi efetivamente repassado.
“O que era US$ 100 bilhões por ano, hoje já deveria ser US$ 1,6 trilhão. Sem esse aporte, não será possível cumprir as metas de limitar o aquecimento global a 1,5°C”, alertou. “Não existe outro planeta habitável até agora. Temos que cuidar deste.”
Lula também criticou o peso da dívida externa sobre países africanos e sugeriu que instituições como o FMI e o Banco Mundial sejam reformadas para considerar as novas realidades geopolíticas e climáticas do século XXI. “Não é possível que o continente africano deva US$ 900 bilhões, e o pagamento de juros supere a capacidade de investimento desses países”, disse.
Em uma fala emocionada, o presidente mencionou a situação do Haiti, que classificou como “semidestruído”. Ele revelou ter discutido com o presidente francês Emmanuel Macron a dívida paga pelo país à França em troca de sua independência. “O Haiti deveria receber de volta US$ 28 bilhões”, afirmou.
Lula defendeu que o financiamento internacional seja visto não como caridade, mas como uma ferramenta de desenvolvimento. “Não é doação. É empréstimo para dar uma chance a quem está na miséria”, enfatizou.
Por fim, Lula convocou o NDB a assumir protagonismo na criação de novas formas de financiamento, afirmando que a lógica da austeridade só aumenta as desigualdades. “Toda vez que se fala em austeridade, o pobre fica mais pobre e o rico mais rico. É isso que nós temos que mudar.”
A fala do presidente ocorre em um momento em que o NDB busca ampliar sua base de membros e consolidar sua relevância no cenário financeiro internacional. A próxima grande etapa para as discussões sobre financiamento climático será a COP30, em 2025, em Belém do Pará — evento que Lula afirmou ser uma oportunidade histórica para o Brasil e para o mundo.
LEIA TAMBÉM: