O presidente Lula abriu, nesta sexta-feira (13), a sessão plenária da Cúpula Brasil-Caribe, realizada no Palácio Itamaraty, em Brasília. Diante de chefes de Estado, ministros e representantes dos 15 países da Comunidade do Caribe (CARICOM), além de Cuba, República Dominicana e organismos regionais como CAF e BID, Lula defendeu a retomada de uma agenda estratégica com o Caribe e anunciou medidas concretas para ampliar a cooperação entre o Brasil e os países da região.
Logo na abertura, Lula destacou a importância histórica e geopolítica do encontro. “Fortalecer a nossa conexão entre nossos países é uma tarefa inadiável”, afirmou.
Segundo o presidente, os laços entre o Brasil e o Caribe passaram por avanços e retrocessos ao longo dos anos, mas agora a retomada precisa ser consistente e ambiciosa. “O lema desta reunião, ‘aproximar para unir’, vem da frase final do discurso que proferi na Cúpula Brasil-Caricom de 2010. Passados 15 anos, ele traduz um desafio inacabado.”
Comércio e diplomacia enfraquecidos
Lula criticou a estagnação das relações comerciais e diplomáticas na última década. De acordo com o presidente, o intercâmbio comercial entre o Brasil e os países caribenhos caiu 30% desde 2010, passando de US$ 6 bilhões para cerca de US$ 4 bilhões.
Além disso, o fechamento de embaixadas brasileiras na região enfraqueceu o vínculo diplomático. “Ao final do meu segundo mandato, contávamos com embaixadas residentes em todo o Caribe. Cinco delas foram fechadas por meus antecessores. Estamos trabalhando para reverter esse quadro e já reabrimos a representação em São Vicente e Granadinas.”
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Cinco eixos de cooperação
A Cúpula Brasil-Caribe se estrutura a partir de cinco eixos principais de cooperação: mudança do clima, transição energética, segurança alimentar, conectividade e apoio ao Haiti.
Segundo Lula, esses temas refletem prioridades regionais e são campos em que o Brasil tem condições de contribuir ativamente.
“Esta cúpula é o primeiro passo”, declarou. “Identificamos cinco áreas nas quais a colaboração entre o Brasil e o Caribe tem potencial de render resultados concretos.”
Preparação para a COP30
O primeiro eixo destacado foi a crise climática. Lula afirmou que os países precisam se preparar para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, em 2025. “Precisamos chegar unidos à COP 30”, disse.
O presidente apresentou a nova meta brasileira de redução de emissões, entre 59% e 67%, e anunciou apoio técnico aos países caribenhos na elaboração de suas próprias metas climáticas.
“Sabemos que para países em desenvolvimento a elaboração de uma NDC é um esforço árduo. Por isso, este ano o Brasil se uniu à Dinamarca para copresidir a Parceria para as NDCs.”
Lula também anunciou que o Brasil vai compartilhar imagens de satélites sino-brasileiros com os países da América Latina e Caribe, ajudando no monitoramento da elevação do nível do mar.
“Avançar na adaptação à mudança do clima e na compensação por perdas e danos é uma questão existencial para os pequenos países insulares em desenvolvimento.”
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Transição energética justa
A transição energética foi outro tema enfatizado por Lula durante seu discurso. Ele defendeu uma transição justa e adaptada às realidades dos países em desenvolvimento.
“Dispor de diferentes fontes de energia faz parte dessa estratégia. A opção brasileira pelos biocombustíveis permitiu que a cana-de-açúcar passasse de símbolo do passado colonial a passaporte para um futuro sustentável.”
Lula destacou ainda o potencial caribenho na produção de energia eólica e solar e anunciou uma missão do Ministério de Minas e Energia e da Empresa de Pesquisa Energética à região.
Combate à fome
Na área da segurança alimentar, o presidente apontou que mais de 12 milhões de pessoas ainda convivem com a fome no Caribe, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Para enfrentar esse desafio, defendeu a articulação de boas políticas públicas com financiamento adequado. Lula celebrou a adesão de Santa Lúcia, Cuba e do Banco de Desenvolvimento do Caribe à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, liderada pelo Brasil. “Espero que os demais se juntem a nós nessa aliança em breve.”
O presidente também propôs o compartilhamento de programas brasileiros com impacto social comprovado, como o Garantia-Safra e o Programa de Cisternas, além da integração do Caribe à Rede de Sistemas Públicos de Abastecimento Alimentar.
“Sei do interesse do Caribe de diversificar seus fornecedores de alimentos. Não faz sentido que o Brasil, celeiro do mundo, não esteja presente na mesa do consumidor caribenho.”
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Caminhos abertos
Para Lula, a baixa conectividade física e logística é uma barreira concreta à integração.
“Mercadorias só circulam quando há caminhos abertos. A escassez de conexões explica por que o Caribe importa mais dos Estados Unidos, da China e da Alemanha do que do Brasil”, afirmou.
Ele destacou a importância do programa Rota da Integração Sul-Americana e mencionou acordos com o BID para investir US$ 3 bilhões em infraestrutura regional. “Parte desses recursos está sendo empregada em iniciativas na Guiana e no Suriname, que são nossas portas naturais para o Caribe.”
O presidente também informou que apenas três países caribenhos mantêm acordos aéreos vigentes com o Brasil. “Queremos e precisamos ir além”, disse.
No encontro, foram firmados novos instrumentos com Barbados e Suriname e está previsto um fórum para ampliar a conectividade, com apoio da CAF.
Além disso, Lula anunciou o aporte de US$ 5 milhões do Brasil ao Fundo Especial de Desenvolvimento do Banco de Desenvolvimento do Caribe. “Esses recursos atenderão os países mais vulneráveis da região.”
Apoio ao Haiti
No quinto eixo, dedicado ao Haiti, Lula enfatizou o compromisso histórico do Brasil com o país caribenho, que enfrentou terremotos, crises políticas e abandono da comunidade internacional.
“O Haiti não pode ser punido eternamente por ter sido o primeiro país das Américas a se tornar independente”, afirmou. Ele informou que a Polícia Federal brasileira iniciará, nos próximos meses, o treinamento de 400 membros da Polícia Nacional Haitiana.
Lula também mencionou iniciativas como o novo programa de transferência de renda no Haiti, estruturado com recursos do BID, e a inauguração do Centro de Treinamento Profissional Paulo Freire no país.
Para o presidente, garantir a estabilidade política e social do Haiti é fundamental. “Estabilizar a situação de segurança é fundamental para que se possa dar o próximo passo do processo político e realizar eleições presidenciais.”
Soberania
No encerramento do discurso, Lula enfatizou que a aproximação com o Caribe é também uma afirmação de soberania frente às hegemonias globais.
“A aproximação entre o Brasil e o Caribe reafirma nossa busca pela autonomia frente às velhas e novas hegemonias”, disse.
Ele também condenou o bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba e defendeu sua retirada da lista de países que apoiam o terrorismo. “Devemos seguir condenando o convimento embargo contra Cuba e sua descabida inclusão em lista de países que apoiam o terrorismo.”
Ao final, Lula anunciou a criação do Fórum Ministerial Brasil-Caribe, que terá a tarefa de dar continuidade às ações propostas na Cúpula. “Garantir que caminharemos lado a lado, com o olhar no futuro, será a tarefa mais urgente do Fórum Ministerial que criamos hoje.”
Da Redação