O presidente da República criticou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa básica de juros, a Selic, em 10,5% ao ano. Em entrevista, o presidente questionou a autonomia do órgão e afirmou que a decisão favoreceu especuladores.
O presidente da República nunca se mete nas decisões do Copom ou do Banco Central. O [ex-presidente do BC Henrique] Meirelles tinha autonomia comigo tanto quanto tem esse rapaz de hoje. Só que o Meirelles eu tinha o poder de tirar, como o Fernando Henrique Cardoso tirou tantos, como outros presidentes tiraram tantos.
O presidente criticou a autonomia do Banco Central implementada durante o governo de Jair Bolsonaro, questionando para quem essa autonomia realmente serve. Autonomia de quem? Autonomia de quem para servir? Autonomia para atender a quem?
O presidente destacou os altos custos associados aos juros. Nós temos a possibilidade de ter um déficit de R$ 30 bilhões, R$ 40 bilhões. Aí eu fico olhando do outro lado da folha que me apresenta, só de juros no ano passado foi de R$ 790 bilhões que a gente pagou. Só de desoneração foram R$ 536 bilhões que a gente deixou de receber.
O presidente reafirmou seu compromisso com gastos de qualidade e investimentos no povo brasileiro, defendendo que os recursos sejam direcionados para áreas essenciais como saúde, educação e pagamento de salários.
Decisão do Copom
A decisão do Copom foi unânime, incluindo os conselheiros indicados pelo presidente, que votaram pela manutenção da taxa. Desde agosto de 2023, a Selic vinha sendo reduzida de 13,75% para 10,5%, com sete reuniões consecutivas de queda interrompidas pela decisão atual.
O Copom justificou a manutenção da taxa citando incertezas externas e internas. No comunicado, o órgão mencionou a elevada incerteza sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e a velocidade de queda da inflação em diversos países.
Críticas e contexto político
A manutenção da taxa Selic foi recebida com críticas do presidente, que tem sido um dos principais opositores aos juros altos, argumentando que prejudicam o desenvolvimento econômico. O presidente questionou a autonomia do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmando que ele possui um viés político.
O presidente comparou a situação atual com seus dois primeiros mandatos, quando Henrique Meirelles presidia o BC com autonomia, mas ainda sob a possibilidade de ser destituído pelo presidente.
A decisão do Copom era esperada pelo mercado financeiro. Analistas que respondem à pesquisa semanal Focus do próprio BC projetam que a Selic terminará 2024 em 10,5% ao ano, indicando que não haverá reduções adicionais até dezembro.
Eleições municipais e segurança pública
O presidente afirmou que pretende fazer campanha para candidatos nas eleições municipais deste ano, especialmente contra adversários “negacionistas”. O presidente também mencionou a possibilidade de disputar a reeleição em 2026 para evitar a vitória de um candidato alinhado ao ex-presidente.
O presidente ainda comentou sobre a segurança pública, mencionando que o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, está trabalhando em uma proposta de ações na área, e criticou a política de Bolsonaro que facilitou o acesso às armas.
Greve nas universidades federais
O presidente destacou os investimentos do governo em universidades e mencionou a greve dos técnicos administrativos e professores das universidades federais, que já dura três meses. O presidente ressaltou que o governo ofereceu uma reposição salarial significativa e está aberto a negociações.