Em entrevista coletiva concedida em Pequim no dia 14 de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas à ausência de investimentos da Europa e dos Estados Unidos na América Latina e na África, ao passo que esses mesmos países demonstram preocupação crescente com o aumento da imigração. Segundo Lula, essa contradição revela uma hipocrisia estrutural: as potências ocidentais ignoram o papel que o desenvolvimento econômico desempenha na redução dos fluxos migratórios.

“Ao invés das pessoas ficarem preocupadas com a China, deveria todo mundo utilizar a mesma forma. Há quanto tempo que não há investimento americano na América Central e na América Latina? Há quanto tempo não há investimento da União Europeia na América Latina? Há quanto tempo não há investimento na África?”

Lula usou o exemplo da China para demonstrar que há alternativas à política de negligência praticada pelas potências ocidentais. Segundo ele, a potência asiática tem ampliado sua presença econômica em regiões historicamente marginalizadas pelo capital europeu e norte-americano.

“A Carta de Pequim é um alento muito grande de que você tem um país com a potência econômica da China pensando em contribuir para o desenvolvimento dos países mais pobres da América Latina e da África.”

Para o presidente brasileiro, não há como dissociar os fenômenos migratórios da falta de oportunidades nos países de origem. Quando o mundo rico abandona ou destrói as economias da periferia, o resultado inevitável é o deslocamento de milhões de pessoas em busca de sobrevivência.

“O que é só ter um jeito dos países deixarem de ser pobres? É o crescimento econômico. O que é só ter um jeito de crescer economicamente? É você ter investimento. […] Senão não vai acontecer nada.”

Lula criticou diretamente a postura de países ricos que, ao mesmo tempo em que dificultam o acesso de imigrantes, não contribuem para criar condições dignas nos países emissores dessas populações.

“O que nós queremos é igualdade. Nós queremos parceiros. Nós gostamos de respeitar e gostamos de ser respeitados. […] Se o mundo rico continuar trabalhando para destruir as economias da América Latina e da África, qual o sentido em criticar a imigração?”

A fala foi feita no contexto de um forte apelo à revisão das prioridades da política internacional. Lula defendeu um mundo multipolar, com mais investimentos em infraestrutura, tecnologia e educação nos países em desenvolvimento — medidas que, segundo ele, são a chave para reduzir a desigualdade e os deslocamentos forçados.

“É você ter investimento em infraestrutura, você ter investimento em tecnologia, em educação.”

A crítica do presidente brasileiro se articula com seu discurso mais amplo em defesa da reforma das instituições internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU e os órgãos financeiros de Bretton Woods (FMI e Banco Mundial), que, segundo ele, permanecem dominados por uma lógica excludente, voltada aos interesses das potências centrais.

“Essas instituições não mudam. E não mudam nem na direção, nem mudam no modo de ser.”

Lula tem reiterado que o Brasil quer ser tratado como parceiro, e não como subordinado. Ao elogiar a China e ao propor maior integração entre os países do Sul Global, ele reafirma a estratégia de construir novos caminhos para o desenvolvimento, livres das imposições do Norte.

A crítica à negligência ocidental e a ênfase na necessidade de investimento no Sul Global revelam a visão de Lula sobre a relação entre desenvolvimento e justiça social — tanto dentro dos países como no sistema internacional. Sem esse compromisso, adverte o presidente, os dilemas globais, como a crise migratória, apenas se agravarão.

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Last Update: 14/05/2025