Durante a sessão plenária da Cúpula dos Chefes de Estado do BRICS, no Rio de Janeiro, neste domingo (6), o presidente Lula reforçou o compromisso do Brasil com uma ordem mundial mais justa e inclusiva. Na sessão “Fortalecimento do Multilateralismo, Assuntos Econômico-Financeiros e Inteligência Artificial”, Lula reforçou o papel do bloco na luta por um mundo multipolar e no combate às desigualdades globais.
“O BRICS é ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico”, afirmou Lula no início do discurso.
O presidente fez duras críticas ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Para o mandatário brasileiro, as estruturas das instituições perpetuam uma lógica desigual que beneficia os países mais ricos, em vez de apoiar efetivamente o desenvolvimento das economias do Sul Global. Segundo Lula, “as estruturas do Banco Mundial e do FMI sustentam um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes e em desenvolvimento financiam o mundo mais desenvolvido”.
Ele observou que os países do Sul transferem mais recursos para instituições financeiras do que recebem em investimentos, tornando-se financiadores do desenvolvimento dos países ricos. Além disso, criticou a concentração de poder decisório no Banco Mundial e no FMI, apontando a insuficiente representatividade do BRICS e de outros países em desenvolvimento nas organizações. Lula argumentou que é necessária uma reforma urgente para que os países emergentes estejam mais bem representados. O presidente também apontou que a lógica neoliberal e as políticas de austeridade impostas frequentemente prejudicam o combate à desigualdade e o investimento no desenvolvimento humano.
Concentração de renda global e reforma do FMI
“Três mil bilionários ganharam US$ 6,5 trilhões desde 2015. Justiça tributária e combate à evasão fiscal são fundamentais para consolidar estratégias de crescimento inclusivas e sustentáveis, próprias para o século XXI”, comentou o presidente, em crítica direta à concentração de renda global. Ele celebrou a Declaração do BRICS em apoio à negociação de uma “Convenção Quadro da ONU sobre Cooperação Tributária Internacional”.
No discurso, ele abordou ainda a necessidade de uma reforma nos organismos multilaterais. Lula adiantou que o Brasil apoia “um processo de realinhamento de quotas inclusivo, com fórmula de cálculo simples, equilibrada e transparente” no FMI. E voltou a defender que o poder de voto dos membros do BRICS reflita seu real peso econômico global.
Governança global justa para IA
Ao tratar da governança de Inteligência Artificial (IA), Lula destacou a importância de um modelo global que seja justo e acessível a todos. “As novas tecnologias devem atuar dentro de um modelo de governança justo, inclusivo e equitativo”, ressaltou. O presidente manifestou preocupação com a concentração de poder a partir do uso da tecnologia. “O desenvolvimento da Inteligência Artificial não pode se tornar privilégio de poucos países ou um instrumento de manipulação na mão de bilionários”, advertiu.
Para Lula, é essencial envolver o setor privado e a sociedade civil no debate sobre IA e demais avanços tecnológicos. “Tampouco é possível progredir sem a participação do setor privado e das organizações da sociedade civil”, observou. O presidente ainda defendeu ações como o estudo de viabilidade para cabos submarinos que conectem os países do BRICS, reforçando a soberania na troca de dados.
No encerramento, Lula reiterou que o fortalecimento do multilateralismo passa por mais integração social no BRICS. “Aproximar essa vertente social do trabalho conduzido pelos governos mantém o BRICS em sintonia com as aspirações de nossas sociedades”, concluiu.