O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou nesta quarta-feira, 14, sua quarta visita oficial à China com a assinatura de 20 novos acordos bilaterais e a formalização de 17 documentos adicionais voltados à cooperação em áreas como tecnologia, infraestrutura, meio ambiente, defesa e saúde.

Em coletiva de imprensa ao final da viagem, Lula classificou a parceria entre os dois países como “muito estratégica”.

A visita ocorre no contexto do aprofundamento das relações diplomáticas entre Brasil e China, que desde novembro de 2024 passaram a integrar uma estrutura formal de cooperação intitulada

“Comunidade de Futuro Compartilhado Brasil-China por um Mundo Mais Justo e um Planeta Mais Sustentável”. Segundo Lula, a nova fase representa um marco na consolidação da parceria estratégica bilateral.

“A gente quer aprender e, também, atrair mais investimentos para o Brasil. A gente quer mais ferrovia, mais metrô, mais tecnologia. A gente quer inteligência artificial. A gente quer tudo o que eles possam compartilhar conosco. E a palavra correta é ‘compartilhar’”, declarou.

Durante os compromissos oficiais, Lula se reuniu com representantes do governo chinês e do setor empresarial para tratar de investimentos em energia, transportes e pesquisa científica.

Um dos principais anúncios foi o aporte de US$ 1 bilhão do Envision Group para produção de combustível sustentável para aviação (SAF), além da criação de um centro de pesquisa em energia renovável em parceria com a Windey Technology e o SENAI CIMATEC.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) anunciou a captação de R$ 27 bilhões em investimentos chineses, abrangendo também o setor farmacêutico e de equipamentos médicos.

Entre os compromissos firmados, estão a criação de um centro de excelência em vacinas e a proposta de instalação de uma plataforma industrial para produção de insumos farmacêuticos ativos (IFAs).

Em relação à cooperação tecnológica, foi assinada a criação de um Centro de Transferência de Tecnologia entre os ministérios de Ciência e Tecnologia dos dois países. Também houve uma declaração de intenções para o compartilhamento de dados espaciais com países da América Latina e Caribe, ampliando o escopo regional da parceria sino-brasileira.

Durante a visita, o presidente participou do IV Fórum CELAC-China, onde enfatizou a importância da coordenação entre países da América Latina para viabilizar projetos de grande porte em infraestrutura. “A viabilidade econômica desses projetos depende da capacidade de coordenação de nossos países”, afirmou.

O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, anunciou que empresas chinesas pretendem investir mais de R$ 6 bilhões no setor portuário brasileiro, com destaque para a participação no leilão do túnel submerso Santos-Guarujá. “Nos próximos 30 dias, um conjunto de empresas está indo ao Brasil para poder participar efetivamente da construção de consórcios”, disse o ministro.

A agenda também incluiu temas relacionados à balança comercial entre os países. Lula comparou os dados atuais com os do início de seu primeiro mandato presidencial.

“Em 2003, quando eu tomei posse, a gente tinha US$ 6,6 bilhões de fluxo de balança comercial. Hoje temos US$ 160 bilhões”, afirmou. Apesar do superávit brasileiro de US$ 31 bilhões, o presidente defendeu a diversificação das exportações.

“Nós também queremos trocar produtos com maior valor agregado e, por isso, queremos que os chineses nos ajudem a dar esse avanço no desenvolvimento tecnológico que precisamos”, completou.

O presidente destacou a importância do BRICS como alternativa às estruturas tradicionais da governança internacional.

A próxima cúpula do grupo, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, será realizada no Rio de Janeiro nos dias 6 e 7 de julho. “O BRICS é a possibilidade de a gente mudar um pouco a história para colocar os excluídos dentro do sistema político e econômico”, declarou.

Lula também se manifestou sobre os esforços diplomáticos voltados ao fim do conflito entre Rússia e Ucrânia. “É com muito otimismo que eu vi a aceitação da proposta do Putin e Zelensky. […] Que eles se juntem em Istambul e possam começar, de verdade, ao invés de trocar tiros, trocar palavras”, disse o presidente.

Segundo dados do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), o Brasil foi o principal destino dos investimentos chineses na América Latina entre 2003 e 2023, com US$ 73,3 bilhões aplicados em 264 projetos. Os setores mais contemplados incluem energia elétrica, petróleo, transportes, indústria automotiva e tecnologia da informação.

A viagem também consolidou a posição brasileira como principal parceiro da China na América Latina, reforçando a atuação conjunta em temas como conectividade regional, desenvolvimento sustentável e transição para uma ordem internacional multipolar. A agenda reflete a intenção do governo brasileiro de ampliar as áreas de cooperação e atrair novos investimentos como parte de sua estratégia de crescimento econômico.

Com a assinatura dos novos acordos e os anúncios de investimentos, a visita de Lula à China fortalece a interlocução entre os dois países e projeta avanços em áreas consideradas prioritárias para o governo federal.

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Last Update: 14/05/2025