Em entrevista exclusiva à agência Reuters, nesta quarta-feira (6), dia em que passou a vigorar o tarifaço do presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, sobre parte dos produtos brasileiros, o presidente Lula reiterou que o Brasil seguirá aberto ao diálogo e que não pretende retaliar as taxações de 50% impostas pela Casa Branca. Mas fez questão de lembrar que os canais de diálogo com Washington estão fechados e que, por isso, ele não será humilhado em uma eventual ligação a Trump.
“No dia em que minha intuição disser que Trump está pronto para conversar, não hesitarei em ligar para ele”, declarou Lula, na entrevista direto de sua residência em Brasília. “Mas hoje minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar”, ressaltou.
O presidente lembrou do histórico de Trump de repreender convidados na Casa Branca, caso do presidente sul-africano Cyril Ramaphosa e do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy. “O que Trump fez com Zelenskiy foi humilhação. Isso não é normal. O que Trump fez com Ramaphosa foi humilhação”, observou Lula. “Um presidente não pode humilhar outro. Eu respeito a todos e exijo respeito.”
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A Reuters destaca na reportagem que, “apesar de as exportações do Brasil enfrentarem uma das tarifas mais altas impostas por Trump, as novas barreiras comerciais dos EUA parecem improváveis de descarrilar a maior economia da América Latina, dando a Lula mais espaço para manter sua posição contra Trump do que a maioria dos líderes ocidentais”.
“Se os Estados Unidos não querem comprar, nós vamos procurar outro para vender; se a China não quiser comprar, nós vamos procurar outro para vender”, destacou o mandatário brasileiro. “Se qualquer país que não quiser comprar, a gente não vai ficar chorando que não quer comprar, nós vamos procurar outros”, disse, apontando para o fato de que o comércio internacional do Brasil cresceu muito nas últimas décadas.
Segundo a agência, ele lamentou que as relações entre Brasil e EUA estejam no ponto mais baixo já visto em 200 anos. Tudo porque Trump decidiu vincular a nova tarifa aos delírios de perseguição a Jair Bolsonaro, hoje réu em um processo por tentativa de golpe de Estado.
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Traição à pátria
Para Lula, de acordo com a Reuters, o STF “não se importa com o que Trump diz e não deveria”. O petista disse ainda que Bolsonaro deveria ser julgado por traição à pátria. “Essas atitudes antipolíticas, anticivilizatórias, é que colocam problemas numa relação, que antes não existia. Nós já tínhamos perdoado a intromissão dos EUA no golpe de 1964”, pontuou o presidente.
“Mas essa não é uma intromissão pequena, é o presidente da República dos EUA achando que pode ditar regras para um país soberano como o Brasil. É inadmissível”, reagiu.
Lula lembrou que não há divergências pessoais com o extremista estadunidense e que os dois podem se encontrar na Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, ou na COP 30, programada para ocorrer em novembro, em Belém (PA).
Brics
Lula antecipou que o governo adotará medidas de proteção ao setor produtivo nacional, sem perder de vista a responsabilidade fiscal. E que pretende estudar com países do Brics afetados pelas taxações de Trump, notadamente a China e Índia, a possibilidade de ações em conjunto no âmbito comercial.
“Nós temos que criar condições de ajudar essas empresas”, afirmou. “Nós temos a obrigação de cuidar da manutenção dos empregos das pessoas que trabalham nessas empresas. Nós temos a obrigação de ajudar essas empresas a procurar novos mercados para os produtos delas. E nós temos a preocupação de convencer os empresários americanos a brigarem com o presidente Trump para que possam flexibilizar”, argumentou o petista.
Minerais críticos
Lula também esclareceu que o governo trabalha em um plano estratégico para os minerais críticos e terras raras, hoje alvo de intensa disputa geopolítica, especialmente no setor de tecnologia. Ele defendeu que o Brasil precisa tratar a questão como de soberania nacional, onde o país possa priorizar o desenvolvimento em ciência e tecnologia.
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“Nós não vamos permitir que aconteça o que já aconteceu durante o século passado, em que o Brasil exporta minério e compra produtos com valor agregado muito alto”, alertou.
Da Redação, com informações de Reuters