O presidente Lula abriu a 17ª Cúpula do Brics neste domingo (6), no Rio de Janeiro, criticando o colapso do multilateralismo, defendendo a reforma do Conselho de Segurança da ONU e a criação do Estado Palestino. Ele condenou intervenções ilegais, destacou o papel dos Brics na paz global e pediu nova governança internacional.
Lula defendeu a necessidade de uma reforma profunda na governança global, denunciou o colapso do multilateralismo e criticou o papel atual da Organização das Nações Unidas (ONU) diante das guerras e crises que assolam o planeta.
Ele destacou que esta é a quarta vez que o Brasil sedia uma cúpula dos Brics, mas alertou que o cenário atual é o mais adverso desde a criação do grupo.
Segundo o presidente, a ONU, que completou 80 anos em junho, está testemunhando um “colapso sem paralelo” do multilateralismo. “O direito internacional se tornou letra morta, juntamente com a solução pacífica de controvérsias”, afirmou Lula.
Ele citou a Conferência de Bandung como referência histórica e relembrou que os países do Brics são herdeiros do movimento de nações não alinhadas.
Lula também ressaltou que a autonomia dos países do Sul Global está em risco, com ameaças a avanços como os regimes internacionais de comércio e de clima.
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Críticas à guerra
O líder brasileiro alertou para o aumento do número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial e criticou a recente decisão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que, segundo ele, “alimenta a corrida armamentista”.
O presidente questionou ainda o desequilíbrio na alocação de recursos globais. “É mais fácil destinar 5% do PIB para gastos militares do que alocar os 0,7% prometidos para a assistência oficial ao desenvolvimento.”
Também apontou para o fracasso das intervenções no Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria, classificando-as como desastrosas e com efeitos prolongados sobre a estabilidade no Oriente Médio, Norte da África e no Sahel. “No vazio dessas crises não solucionadas, o terrorismo encontrou terreno fértil”, pontuou Lula.
Ouça a íntegra do discurso do Lula:
Palestina, Ucrânia e Irã
O presidente ainda fez críticas às ações do governo de Israel em Gaza, chamando-as de genocidas. Ao mesmo tempo, condenou o terrorismo e afirmou que o Brasil repudia atentados como os da Caxemira e os ataques do Hamas.
“Absolutamente nada justifica as ações terroristas perpetradas pelo Hamas. Mas não podemos permanecer indiferentes ao genocídio praticado por Israel em Gaza”, declarou.
Lula também destacou a defesa brasileira pela integridade territorial do Irã e da Ucrânia, e ressaltou o papel do grupo de amigos pela paz, criado por Brasil e China, para buscar uma saída negociada ao conflito ucraniano.
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Conselho de Segurança
Ao final do seu discurso, Lula afirmou que o Conselho de Segurança da ONU perdeu legitimidade e eficácia, e pediu sua transformação com a inclusão de novos membros permanentes da Ásia, África, América Latina e Caribe.
“Incluir novos membros permanentes […] é mais do que uma questão de justiça, é garantir a própria sobrevivência da ONU”, disse.
Ele também lembrou que essa é uma das prioridades da presidência brasileira do G20, que lançou um chamado à ação sobre a reforma da governança global.