Brasil lidera cúpula que reúne 40% da economia mundial no Rio de Janeiro

Durante o Fórum Empresarial do BRICS, realizado neste sábado (5) no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu o fortalecimento do comércio multilateral e alertou para os riscos do ressurgimento do protecionismo global.

O chefe do executivo brasileiro destacou a importância dos países emergentes atuarem coordenadamente para enfrentar os desafios globais.

A fala foi interpretada, naturalmente, como uma critica indireta às tarifas de Donald Trump.

O Brasil assume pela quarta vez a presidência rotativa do bloco, que se expandiu significativamente. O BRICS, originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, agora conta com 11 países membros: além dos fundadores, inclui Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. O bloco também incorporou nove países parceiros em 2025: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Tailândia, Uganda, Vietnã e Nigéria.

O peso econômico dos BRICS

Os 11 países membros representam 40% da economia mundial, com PIB conjunto de US$ 31,3 trilhões. O bloco concentra 48,5% da população global e controla 30% do território planetário. No comércio internacional, representa 23% do total global, com 26% das exportações mundiais e 22% das importações.

Para o Brasil, a relevância é ainda maior. O intercâmbio comercial com os países do BRICS totalizou US$ 210 bilhões em 2024, representando 35% do comércio exterior brasileiro – mais que o dobro do fluxo com a União Europeia. Apenas em agronegócio, as exportações atingiram US$ 71 bilhões.

Recursos estratégicos e transição energética

Lula enfatizou o papel estratégico do BRICS no controle de recursos minerais essenciais para a transição energética. O bloco concentra 84% das reservas mundiais de terras raras, 66% do manganês e 63% do grafite. Segundo a Agência Internacional de Energia, a demanda por esses minerais deve triplicar até 2040.

“Queremos ir além da extração dessas riquezas. Em parceria com o setor privado, vamos qualificar nossa participação em todas as etapas das cadeias de suprimento”, declarou o presidente.

A defesa do multilateralismo contra o protecionismo

Em meio às medidas protecionistas de Donald Trump, Lula defendeu a união dos países emergentes como “fiadora de um futuro promissor”. O presidente argumentou que essa sinergia permitiu ao grupo enfrentar a crise de 2008 e a pandemia de Covid-19.

“Diante do ressurgimento do protecionismo, cabe às nações emergentes defender o regime multilateral de comércio e reformar a arquitetura financeira internacional”, afirmou Lula, em referência às políticas tarifárias unilaterais americanas.

A ironia histórica: quem defende o livre comércio?

Há uma ironia interessante no cenário atual. Lula, frequentemente acusado por setores da direita de representar ideologia contrária à liberdade econômica, posiciona-se hoje como defensor do multilateralismo global. Enquanto países tradicionalmente “defensores” do livre mercado – Estados Unidos e nações europeias – recorrem a medidas protecionistas e sanções unilaterais, são os países do Sul Global que defendem os princípios do comércio livre.

As sanções contra Irã e Rússia, as guerras comerciais americanas e as barreiras tarifárias de países desenvolvidos revelam que aqueles que se autoproclamaram campeões da liberdade econômica são, na prática, os que mais restringem o livre comércio mundial.

Paz e desenvolvimento

Lula também destacou o papel do BRICS na criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, mostrando que a agenda transcende questões econômicas. “O vínculo entre paz e desenvolvimento é evidente. Não haverá prosperidade em um mundo conflagrado”, declarou.

Perspectivas futuras

A cúpula no Rio, que se estende até 7 de julho, consolida o bloco como alternativa à ordem econômica estabelecida. O crescimento do PIB do BRICS atingiu 4% em 2024, superior à média mundial de 3,3%. A previsão para 2025 é de 3,4%, comparada à média global de 2,8%.

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Last Update: 06/07/2025