Juliana Marins é mais uma vítima da falta de estrutura no turismo de aventura; especialistas cobram urgência em protocolos e fiscalização
A história da brasileira Juliana Marins, que perdeu a vida após cair em um penhasco durante uma trilha no Monte Rinjani, na Indonésia, chocou o mundo e trouxe à tona graves deficiências nos sistemas de segurança e resgate do país. A jovem ficou três dias presa no local, sem acesso a água, comida ou proteção contra o frio, antes de ser encontrada. Seu corpo só foi retirado na quarta-feira (26/06), após uma complexa operação com helicóptero.
O incidente reacendeu o debate sobre a falta de padrões adequados para o turismo de aventura na Indonésia, destino que atrai tanto alpinistas experientes quanto viajantes amadores. A tragédia de Juliana não é isolada: apenas entre abril e junho deste ano, três outros acidentes foram registrados no mesmo vulcão, incluindo a morte de um turista da Malásia, segundo o jornal Kompas.
Especialistas apontam falhas e pedem mudanças

Sari Lenggogeni, professora de turismo da Universidade de Andalas, afirma que o governo indonésio precisa priorizar a mitigação de riscos em áreas naturais de alto risco. “É essencial fortalecer os planos de segurança, melhorar a infraestrutura, a sinalização e garantir treinamento adequado para guias e equipes de resgate”, diz.
Atualmente, muitas dessas atrações são administradas por comunidades locais, sem regulamentação rígida. Janianton Damanik, pesquisador do Centro de Estudos de Turismo da Universidade Gadjah Mada, concorda que há problemas estruturais, mas ressalta que os turistas também têm responsabilidade. “As regras existem, mas precisam ser seguidas. Mesmo em trilhas profissionais, os guias não podem garantir 100% de segurança”, explica.
Ambos os especialistas destacam a falta de equipamentos básicos e a precariedade dos postos de emergência ao longo das trilhas. Além disso, exames médicos antes das caminhadas poderiam evitar situações de risco.
Falta de protocolos claros e desafios na regulamentação
Outro problema é a ausência de um procedimento operacional padrão amplamente divulgado. “A sinalização de emergência em praias e montanhas é quase inexistente”, critica Lenggogeni.
O ministro das Florestas, Raja Juli Antoni, afirmou que o governo está levando o caso a sério e destacou o uso de helicópteros no resgate. No entanto, especialistas alertam que a Indonésia enfrenta dificuldades para adotar normas internacionais de segurança, devido às particularidades de seus destinos naturais e à falta de capacitação de guias locais.
Muitos condutores de trilhas aprendem o ofício com familiares, sem certificação formal ou treinamento em primeiros socorros. “Se exigirmos padrões globais, esses guias podem ser substituídos por estrangeiros, prejudicando a economia local”, pondera Damanik.
Turismo em excesso e a necessidade de controle
Além das falhas na segurança, o aumento descontrolado de visitantes preocupa. “Algumas montanhas recebem mais pessoas do que deveriam, especialmente na temporada de chuvas”, alerta Damanik. Ele defende a presença constante de equipes de resgate e limites no número de turistas.
Lenggogeni reconhece o esforço da Agência Nacional de Busca e Resgate (Basarnas), mas ressalta que a responsabilidade principal é do governo. “A Basarnas faz o possível, mas sem um sistema eficiente, fica difícil agir rapidamente em emergências.”
Enquanto as autoridades discutem melhorias, a morte de Juliana Marins serve como um triste alerta sobre os perigos do turismo sem regulamentação – e a urgência de medidas que protejam vidas.