O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), defendeu punição exemplar a Jair Bolsonaro e a outros 33 envolvidos em um golpe de Estado que serão julgados a partir da semana que vem pelo Supremo Tribunal Federal. Ele afirma que é “inadmissível anistiar os terroristas do 8 de janeiro de 2023 e também aqueles que ao longo do governo passado, como Bolsonaro, conspiraram contra a democracia.”

“Bolsonaro é representante dos adoradores dos porões da tortura do regime militar. E assim deve ser encarado pela sociedade brasileira”, escreveu o líder em artigo na revista Carta Capital. Ele relembrou fatos históricos para mostrar que Bolsonaro e seus sequazes têm relações umbilicais com a extrema-direita do regime militar, que promoveu atentados no País entre 1978 e 1987 para tentar impedir a redemocratização, além de ter assassinado e torturado opositores à ditadura que trouxe as trevas ao Brasil durante 21 anos, a partir de 1964.

“A democracia é um bem essencial. O futuro de Bolsonaro e de seu bando criminoso é a cadeia”, defende o líder do PT na Câmara. Ele alerta que a impunidade “ pode continuar a estimular os lunáticos amantes da ditadura a atacar a democracia. “
Segundo o deputado, o julgamento, pelo STF, é “uma oportunidade histórica para a sociedade brasileira dar um basta a conspiradores e adeptos de ditaduras. É o momento de consolidar a democracia e punir exemplarmente os extremistas de direita que ainda acham poder atuar impunemente contra o Estado de Direito.”

Deputado Lindbergh Farias defende punição aos golpistas . Foto: Gabriel Paiva

Leia a íntegra do artigo:

“Encontro com a Justiça

Lindbergh Farias (*)

O julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, da denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 envolvidos em um golpe de Estado é uma oportunidade histórica para a sociedade brasileira dar um basta a conspiradores e adeptos de ditaduras. É o momento de consolidar a democracia e punir exemplarmente os extremistas de direita que ainda acham poder atuar impunemente contra o Estado de Direito.

Para entendermos a importância do julgamento, é preciso recuperar fatos históricos. Bolsonaro é da mesma facção de extrema-direita militar que tentou golpe em 1977, em plena ditadura, comandada pelo então ministro do Exército, general Sylvio Frota, cujo ajudante de ordens era o hoje general Augusto Heleno, ex-ministro de Bolsonaro e agora na lista dos que serão julgados pelo STF.

Frota, Heleno e Bolsonaro, só para citar alguns, sempre tiveram relações umbilicais com pérfido coronel Brilhante Ustra, jogado na lata de lixo da história como um dos maiores torturadores que o Brasil conheceu. Apelidado de “Major Tibiriçá” no DOI-Codi, Ustra foi escalado por Frota como motorista para buscar generais na Base Aérea de Brasília para uma reunião, que não houve, a fim de tentar evitar sua demissão, efetivada no dia 12 de outubro de 1977 pelo então presidente, general Ernesto Geisel.

Os sequazes de Frota, contrariados pela abertura política “lenta e gradual” de Geisel, continuaram a fazer ameaças violentas contra opositores, dando início a inúmeros atentados a bomba País afora. Entre 1978 e 1987, o antigo SNI listou mais de 260 atentados da extrema-direita. Apenas entre 1979 e 1981, houve ao menos 40 explosões contra bancas de jornal, livrarias, universidades e sedes de jornais como O Estado de S. Paulo, Hora do Povo, Em Tempo e O Pasquim. Em 27 de agosto de 1980, uma carta-bomba à sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro explodiu e matou a funcionária Lyda Monteiro da Silva.

Em 30 de abril de 1981, no Riocentro, realizava-se um show em comemoração ao Dia dos Trabalhadores, com milhares de espectadores, a maioria jovens. Pouco depois das 9 da noite, uma grande explosão aconteceu no estacionamento. Uma bomba explodira no colo do sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário, dentro de um carro, no qual havia outro ocupante, o capitão Wilson Dias Machado. O primeiro morreu, o segundo ficou gravemente ferido.

Ambos queriam explodir o artefato no Riocentro, provocando pânico e a morte de centenas de jovens, para atribuir depois o atentado à esquerda. A meta era retardar ou impedir o processo de abertura política em curso. O capitão Machado nunca foi punido, a exemplo de outros que cometeram crimes bárbaros na ditadura, como os assassinos do ex-deputado Rubens Paiva em janeiro de 1971, em dependências do Exército.

Em 1955, militares golpistas tentaram impedir a posse de Juscelino Kubistchek e nos anos seguintes promoveram revoltas, mas não foram punidos, apesar dos conselhos a JK do íntegro e legalista general Henrique Teixeira Lott. Impunes, menos de 10 anos depois os mesmos personagens promoveram o golpe de 1964, deixando o Brasil nas trevas por 21 anos.

É esta fonte que nutre Bolsonaro e sua súcia, com ódio à democracia, à tolerância e às divergências políticas, normais em uma sociedade democrática. Formam uma facção política dentro das Forças Armadas, cuja imagem tentam manchar. Portanto, a impunidade pode continuar a estimular os lunáticos amantes da ditadura a atacar a democracia.

Não se pode esquecer que no dia 24 de dezembro de 2022, com o presidente Lula eleito, um terrorista bolsonarista tentou explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília. Com certeza, a impunidade pretérita o levou a planejar o atentado que, só por um milagre, não se concretizou.

Em 12 de dezembro daquele ano, apoiadores do ex-presidente depredaram carros, ônibus e a sede da Polícia Federal em Brasília. Espalharam o terror na capital federal, estimulados pela impunidade e inação do governo local e do próprio capitão, que um dia lamentou que o regime militar no Brasil não tenha assassinado mais de 20 mil opositores, como nas ditaduras da Argentina e do Chile.

Bolsonaro é representante dos adoradores dos porões da tortura do regime militar. E assim deve ser encarado pela sociedade brasileira. O jornalista Luiz Maklouf escreveu um livro sobre o plano de Bolsonaro para explodir bombas em quartéis e no sistema de água do Rio de Janeiro, o Sistema Guandu, nos anos de 1980. Infelizmente, não foi punido e ao longo dos anos deu vazão a seus instintos golpistas e ditatoriais. Sempre foi um “mau militar”, para usar a expressão de Geisel.

Os atentados ocorridos no fim da ditadura não foram investigados e seus perpetradores nunca sofreram quaisquer consequências jurídicas, ao contrário de hoje. As investigações da Polícia Federal, nas quais a Procuradoria-Geral da República se baseou para encaminhar ao STF a denúncia contra Bolsonaro e seu bando criminoso, são rigorosas e mostram que vivemos um outro tempo.

Os golpistas devem ser punidos. É inadmissível anistiar os terroristas do 8 de janeiro de 2023 e também aqueles que ao longo do governo passado, como Bolsonaro, conspiraram contra a democracia. É o caso dos envolvidos na Operação Punhal Verde Amarelo para o assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do STF, no fim de 2022. Anistiá-los é dar condições de continuidade às articulações golpistas.

O bolsonarismo é uma facção de extrema-direita, que utiliza métodos violentos e ações terroristas. Como os direitistas do passado, vale-se da mentira e do engodo contra adversários políticos. Como pretendiam fazer no Riocentro, tentam hoje, grotescamente, colocar na esquerda a culpa pelos atentados do 8 de janeiro. Os direitistas do passado continuam a agir, só mudaram a forma.

Os terroristas que atacaram as sedes dos Três Poderes têm que pagar com a prisão, assim como seus mentores. Pela primeira vez na história, vamos ter o julgamento, pela Justiça Comum, de militares que cometeram crimes. A democracia é um bem essencial. O futuro de Bolsonaro e de seu bando criminoso é a cadeia. Se permanecerem impunes, como os golpistas do passado, a violência voltará para tentar destruir nossa democracia.

(*) Deputado federal (PT-RJ) e líder do partido na Câmara dos Deputados “

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Last Update: 21/03/2025