Os países que compõem o Mercosul se reúnem nesta quinta-feira 5 em Montevidéu, no Uruguai, naquele que pode ser o palco para o anúncio entre o bloco e a União Europeia. O encontro deve se estender pelos próximos dias.
Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai sentam à mesa ao mesmo tempo que alguns sinais indicam que o caminho para o anúncio do acordo pode já ter sido trilhado.
Um deles é a presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no encontro. Ela, que é entusiasta do acordo entre os blocos, chegou na manhã desta quinta-feira à capital uruguaia.
A caminho do território uruguaio, a representante europeia destacou que “a linha de chegada do acordo UE-Mercosul está à vista”, mencionando que os líderes devem trabalhar para “cruzá-la”.
Outra sinalização vem do Brasil. Ao comentar sobre o eventual acordo, nesta semana, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) considerou o texto como um “ganha-ganha”, dizendo que o acerto “é bom para o Mercosul, para a União Europeia e bom para o mundo, para a geopolítica do mundo”. “Favorece o multilateralismo”, sintetizou Alckmin.
O presidente Lula (PT), que também vai estar no encontro, acredita que as chances de fechamento do acordo são altas, a despeito da resistência da França. Nas últimas semanas, o país europeu fez uma série de movimentos indicando a sua contrariedade sobre a parceria com os membros do Mercosul, o que incluiu um rechaço da própria Assembleia Nacional francesa.
A resistência francesa – da qual se soma, também, a da Polônia, Holanda e Áustria – vem do interior do país. Agricultores locais alegam que o acordo pode criar condições desfavoráveis de competitividade com os produtores latino-americanos, que, segundo os europeus, não precisam se submeter às rígidas regras ambientais do Velho Continente.
Lula, porém, chegou a dizer que os ‘franceses não apitam nada’ nas negociações.
Nessa disputa de poder, outro indicativo sobre o avanço do acordo vem da diretora-geral de Comércio da Comissão Europeia, Sabine Weyand, que, no início da semana, reconheceu a deputados europeus que o debate estaria “a nível político”. Em outras palavras, os aspectos técnicos do acordo já poderiam ter sido resolvidos.
Isso se deve ao fato de que, na semana passada, representantes dos dois blocos estiveram reunidos em Brasília (DF) para tratar dos últimos pontos do acordo. Caso concretizado, a parceria UE-Mercosul pode criar um mercado comum de quase 800 milhões de pessoas, com um fluxo de comércio acima dos 250 bilhões de reais.
Olhar para dentro
Apesar da expectativa sobre o anúncio do acordo UE-Mercosul ser o destaque da reunião em Montevidéu, os sul-americanos também vão ter que enfrentar as suas próprias diferenças.
O principal ponto de discórdia entre os países do grupo vem da Argentina, já que o presidente do país vizinho, Javier Milei, fará a sua estreia em reuniões do Mercosul.
Milei é um crítico contumaz do bloco, chegando a se ausentar da última reunião entre lideranças, realizada em julho.
Acontece que as críticas podem se converter em medidas concretas já no futuro próximo, uma vez que a Argentina de Milei vai assumir a presidência temporária do bloco. O autodeclarado ‘libertário’ até tinha uma preferência por tentar encaminhar um acordo de comércio favorável entre o seu país e os Estados Unidos, que será liderado por Donald Trump a partir de janeiro.
Convencido de que uma saída da Argentina do Mercosul não traria benefícios à sua economia em crise permanente, Milei deverá defender uma modernização do bloco. Uma delas seria a ampliação do direito de países de negociarem acordos bilaterais de maneira independente.
(Com informações da AFP)