Entre os dias 13 e 16 de maio, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, visitou a Arábia Saudita, o Qatar e os Emirados Árabes. A visita ocorreu após o fracasso do tarifaço de Trump, que foi revogado frente ao repúdio de todos os países, da maioria da população estadunidense e até mesmo dos grandes capitalistas.
No Oriente Médio, Trump é repudiado pelos povos árabes, que não aceitam o genocídio em Gaza efetuado pelo Estado de Israel com apoio estadunidense. O genocídio está completando 19 meses. Nesse período, Israel já assassinou pelo menos 64 mil palestinos, destruiu todos os hospitais e escolas e tem impedido o ingresso de ajuda humanitária (alimentos, água, remédios e combustível).
Além disso, Trump também é rejeitado pela ameaça de atacar o Irã, pelos bombardeios criminosos contra o Iêmen, pelas sanções contra a Síria, bem como pelo apoio às agressões israelenses no Líbano e na Síria.
Negociatas e agressões bilionárias
Antes de viajar, Trump tratou de desarmar parte dessas políticas imperialistas, para viabilizar sua visita e manter a influência dos EUA na região.
Em Doha, capital do Dacar, abriu negociações diretas com o Hamas, trocando a libertação de um preso de nacionalidade estadunidense-israelense pela promessa de ingresso de ajuda humanitária em Gaza, onde meio milhão de palestinos já passam fome devido ao bloqueio israelense pleno, desde o dia 2 de março.
Em Omã e na Itália, os Estados Unidos realizaram quatro rodadas de negociações com o Irã, com o objetivo de limitar o programa nuclear iraniano e, ao mesmo tempo, angariar o apoio do Irã a aliados na região, como o Hezbollah libanês, os iemenitas houthis e as milícias xiitas, no Iraque.
Em troca, os Estados Unidos suspenderiam as pesadas sanções contra o país e não realizariam qualquer ação militar, diretamente ou via Israel. As negociações estão em curso, mas já reduziram a temperatura.
Por meio do governo de Omã, Trump fez um acordo de cessar-fogo com os iemenitas houthis, suspendendo a desastrosa agressão militar ao Iêmen, que não conseguiu derrotar os iemenitas houthis. Eles já derrubaram sete drones estadunidenses – US$ 30 milhões de dólares, cada. Além disso, dois aviões de combate caíram no Mar Vermelho, ao custo de US$ 67 milhões de dólares cada.
A agressão durou 50 dias e custou mais de um bilhão de dólares. Além de inefetiva, a agressão ianque poderia, segundo os líderes sauditas, colocar em risco a própria visita de Trump, pois os houthis poderiam atacar alvos estadunidenses e até mesmo a capital Riad. O acordo com os houthis prevê o fim das ações militares contra alvos dos EUA, mas nada fala sobre os ataques a Israel, que os houthis continuam tendo como alvo.

Donald Trump visita a Grande Mesquita Sheikh Zayed, quinta-feira, 15 de maio de 2025, em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos. (Foto oficial da Casa Branca por Molly Riley)
Trump chega na Arábia Saudita
Os líderes sauditas receberam Trump com tapete vermelho e muita pompa. O mesmo ocorreu no Qatar e nos Emirados Árabes. Centenas de acordos, envolvendo cerca de US$ 2 trilhões de dólares, foram firmados, dentre os quais se destacam a compra, pela Arábia Saudita, de US$ 142 bilhões em armamentos; a compra de 160 aviões da Boeing, pelo Qatar, ao custo de US$ 96 bilhões; e acordos de investimentos em Inteligência Artificial, tanto nos EUA como no Oriente Médio.
Trump anunciou o fim das sanções à Síria, o que foi comemorado nas ruas de Damasco, capital do país, mas nada disse sobre o cessar-fogo em Gaza nem sobre o plano da Liga Árabe para o fim do genocídio palestino, anunciado em 4 de março e rejeitado por Israel. Ou seja, Israel continua com aval de Trump para realizar o genocídio em Gaza, a anexação da Cisjordânia e os ataques aos vizinhos árabes.
Não por acaso, os líderes árabes são considerados como traidores pela população local e a luxuosa recepção a Trump apenas reafirmou essa percepção. O mínimo esperado seria o cessar-fogo em Gaza ou o apoio ao plano da Liga Árabe.
Buscando espaço
As garras do imperialismo chinês no mundo árabe
Em sua visita, Trump suspendeu as sanções à Síria sob pressão de seus aliados sauditas e turcos, e também sob o risco de uma aproximação comercial e política entre a Síria e a China.
Nos últimos anos, a China avançou muito sobre a região, tornando-se o principal parceiro comercial de vários Estados da região, inclusive Israel, e também o fiador de acordos entre a Arábia Saudita e o Irã, além do acordo entre os partidos palestinos, firmado em Pequim.
Entrega da Síria ao EUA
O presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, ofereceu a Trump um acordo neocolonial, hipotecando o petróleo e o gás sírios (acordo similar ao firmado entre a Ucrânia e os Estados Unidos), além da possível construção de uma “Trump Tower” (edifício destinado a abrigar um centro comercial) em Damasco.
Além disso, al-Sharaa se comprometeu em cumprir o acordo de cessar-fogo com Israel, firmado pelo ditador Assad, em 1974, e, vergonhosamente, ainda prendeu dois integrantes da Jihad Islâmica Palestina que se encontravam na Síria.
Resposta ao genocídio
Cresce a solidariedade à Palestina

Manifestação em São Paulo marca os 77 anos da Nakba, a catástrofe palestina (data da fundação do Estado de Israel) Foto CSP-Conlutas
Enquanto os líderes árabes confraternizavam com o principal patrocinador do genocídio em Gaza, a juventude e a classe trabalhadora tomaram as ruas em vários países, para exigir o fim da carnificina na semana que se rememora a Nakba palestina.
A maior manifestação reuniu meio milhão de pessoas em Londres, capital da Inglaterra, próxima à rua que abriga a sede do governo britânico. Houve intensa violência policial em várias cidades, incluindo Berlim (Alemanha) e Haifa, na Palestina ocupada.
Em várias universidades estadunidenses, os estudantes retomaram atividades de solidariedade, inclusive nos discursos de formatura, com depoimentos comoventes contra o genocídio em Gaza.
Aumenta a pressão por um cessar-fogo
No Festival de Cinema de Cannes (França), a famosa atriz francesa, e presidente do júri, Juliette Binoche prestou homenagem à fotojornalista palestina Fatima Hassouna, que morreu em um ataque israelense em Gaza. O mesmo foi feito pela atriz estadunidense Angelina Jolie.
No festival de música Eurovision, na Basiléia (Suíça), o cantor israelense foi vaiado. Na Noruega, hotéis estão rejeitando hóspedes com passaporte israelense e a central sindical do país adotou a campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel.
A mídia holandesa informou que um grupo dos principais estudiosos sobre genocídio concluiu que as ações israelenses em Gaza constituem crime de genocídio, seguindo a mesma conclusão da relatora da ONU para os territórios palestinos, Francesca Albanese, e da organização de Direitos Humanos Anistia Internacional.
Esse conjunto de ações e posicionamentos pressiona líderes imperialistas, como o presidente Macron, da França, ou a revista britânica “The Economist”, a darem declarações pelo cessar-fogo imediato.
Polêmica
Rendição não é o caminho
Gilbert Achcar, um importante intelectual marxista libanês, ligado ao Secretariado Unificado, à qual várias organizações socialistas que integram o PSOL estão vinculadas, escreveu um artigo equivocado, intitulado “Gaza e a sabedoria de Salomão”, no qual afirma:
“A verdade é que o Hamas, hoje, enfrenta uma escolha entre renunciar ao seu domínio sobre Gaza, uma escolha que pode negociar em termos que garantam a segurança e a sobrevivência dos moradores da Faixa, ou continuar sua estratégia de libertação por meio de armas e ilusões. Estas últimas, ou seja, ilusões, são certamente mais poderosas para o movimento do que as primeiras.”
O primeiro equívoco desta análise é passar a ideia de que as estratégias de libertação do Hamas são obstáculos para a sobrevivência dos moradores de Gaza, quando os verdadeiros obstáculos são os inimigos da causa palestina: o Estado de Israel, os países imperialistas, os regimes árabes e a burguesia palestina, reunida ao redor da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
O segundo equívoco é acreditar que a rendição da resistência armada palestina é garantia de sobrevivência. Entre 1936 e 1939, os britânicos esmagaram a Revolução Palestina e desarmaram os palestinos. Isso não impediu que as milícias sionistas expulsassem 800 mil palestinos na Nakba, em 1945. Pelo contrário.
Na Cisjordânia, a eventual ausência de resistência armada também não impediu Israel de avançar na colonização das terras palestinas, expulsando mais de 40 mil moradores de campos de refugiados de suas casas e assassinando mais de mil palestinos.
O terceiro equívoco é acreditar em qualquer garantia firmada pelo Estado de Israel e seus patrocinadores. A ruptura unilateral dos acordos de cessar-fogo, firmados por Israel e endossados pelos Estados Unidos, é prova disso.
A única verdadeira garantia é o fortalecimento da resistência palestina, armada ou não, e da solidariedade internacional da juventude e da classe trabalhadora, rumo à libertação de toda a Palestina, do rio ao mar.
Estratégia
Um partido revolucionário para impulsionar a solidariedade internacional
A libertação da Palestina depende de uma combinação das ações da resistência palestina, da classe trabalhadora árabe (contra seus regimes) e da classe trabalhadora internacional, em particular nos países imperialistas.
Também depende de uma visão clara sobre os inimigos e aliados da causa palestina e as verdadeiras soluções.
Por exemplo, a solução de dois Estados, um israelense e outro palestino, é ilusória, pois não garante o direito de retorno de todos os refugiados palestinos às suas terras e casas e ainda oculta o fato de que Israel é um Estado militarizado, que vive do roubo das terras árabes.
Outro exemplo: países cujos regimes oprimem seu próprio povo, como é o caso do Irã ou da China, podem ser aliados conjunturais, mas não são aliados estratégicos, pois são obstáculos para a construção da solidariedade entre os povos oprimidos.
Por isso, é muito importante construir um partido que impulsione a resistência palestina e a solidariedade internacional, como também defenda uma verdadeira perspectiva para a libertação da Palestina, do rio ao mar.
O PSTU integra uma organização internacional, a Liga Internacional dos Trabalhadores (Quarta Internacional), que se orgulha de estar na linha de frente, impulsionando a solidariedade internacional, em unidade de ação, em vários países. Venha discutir conosco e conhecer nossas propostas de atuação internacionalista.