Haddad: entre a pressão política e a responsabilidade social, por Luís Carlos
O governo Lula veio para dar um basta no discurso vazio de propostas da extrema-direita e, inequivocamente, tem tido muito sucesso nisso. O projeto de recuperação do país, após o tsunami de destruição em todos os setores, da saúde à educação, do meio ambiente à economia, em apenas dois anos, já pode ser considerado muito bem-sucedido.
Logicamente, o bolsonarismo ataca Lula com todas as forças, e, por isso, o campo progressista tem a obrigação de defendê-lo. Porém, não podemos agir como os bolsonaristas que defendem seu mito de forma cega como um gado. Apontar incongruências é também nosso dever, afinal, desejamos o melhor para o país, e a reeleição de Lula para mais quatro anos de governo é o caminho para isso.
Certo site de esquerda publicou um texto mais ou menos na linha de que ou você é a favor ou é contra Lula, como se não houvesse nada entre esses opostos. Precisamos derrotar o fascismo e, para isso, contribuir com o governo é também nossa obrigação.
Então, correndo o risco de parecer fogo amigo, vai aqui uma crítica construtiva de um mero brasileiro que se coloca na posição de pobre que precisa de um governo que atente para as pautas sociais.
Há duas semanas, o Ministro da Fazenda, Luís Carlos Haddad, empenhou todos os seus esforços na luta para emplacar a reforma tributária e o pacote fiscal. Ao contrário de seu antecessor, Paulo Guedes, que passou quatro anos apenas usando de sua fanfarronice para dar soluções fáceis a problemas muito complexos, Haddad arregaçou as mangas e mostrou a que veio.
Nosso ministro afirmou que se sentia cansado e desgastado porque a esquerda não quer corte de gastos e a direita não quer aumento de impostos. Saltou aos olhos o posicionamento neutro do ministro perante duas posições diametralmente opostas, mas pouca gente se deu ao trabalho de analisar a fala.
Foram majoritariamente os pobres que elegeram Lula devido ao seu programa de combate à fome e à desigualdade social. Portanto, este governo tem a obrigação de escolher de que lado está. Haddad, ao dar o mesmo peso à esquerda que não quer corte de gastos e à direita que não quer aumento de impostos, parece ignorar esse programa.
Mesmo que o pacote sofra alterações no Congresso e se transforme em um pacote típico do centrão e da extrema-direita, que não querem a promoção dos mais pobres, é obrigação do governo lutar contra isso. A comunicação do governo deveria fazer esse contraponto, mostrando ao cidadão brasileiro que suas intenções são as melhores diante de um parlamento contrário.
Haddad vem sendo um bom ministro, porém, precisa mais de chão de terra, chão de fábrica e chinelo de dedo, caso almeje um dia suceder Lula.
Se Lula, com toda sua sensibilidade e perspicácia, demonstrar a Haddad que este governo, embora recheado de gente estranha ao PT, ainda é um governo de esquerda, com opção pelos mais pobres, e conseguir resolver o clássico problema da comunicação, terá uma avenida livre pela frente em 2025, o ano estratégico para a colheita, já que antecede o ano eleitoral.
Feliz 2025 a Lula, Haddad e a você, leitor. Que a colheita seja farta e de qualidade.
Luís Carlos é arquiteto, professor e escritor.
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