Jordan Barella, do Rally Nacional, cancela discurso enquanto a Liga Antidifamação diz estar preocupada, mas “não surpresa”
O líder francês de extrema direita Jordan Bardella cancelou na manhã de sexta-feira um discurso agendado na Conferência de Ação Política Conservadora dos EUA em National Harbor, Maryland, depois que o ex-assessor de Donald Trump, Steve Bannon, fez uma saudação de estilo fascista horas antes.
Bannon, que ajudou Trump a conquistar o poder em 2016 e agora é um popular apresentador de podcast de direita, terminou seu discurso no CPAC na quinta-feira com o braço estendido, dedos apontados e palma para baixo — um sinal que ecoou a saudação nazista e um gesto controverso feito pelo bilionário da tecnologia Elon Musk na segunda posse do presidente dos EUA em janeiro.
Bardella, do partido de extrema direita Rally Nacional na França, retirou-se do CPAC citando a alusão de Bannon à “ideologia nazista”.
A saudação durante o discurso de Bannon arrancou aplausos do público presente no encontro nos EUA.
Bardella, que estava em Washington antes de sua aparição e disse que pretendia falar sobre as relações entre os EUA e a França, emitiu uma declaração dizendo: “Ontem, enquanto eu não estava presente na sala, um dos palestrantes, por provocação, permitiu-se um gesto aludindo à ideologia nazista. Portanto, tomei a decisão imediata de cancelar meu discurso que havia sido agendado para esta tarde.”
O partido Rally Nacional foi derrotado nas eleições antecipadas da França no verão passado por uma aliança de esquerda.
Bannon agitou a multidão do CPAC na quinta-feira à noite, onde falou logo depois de Musk, o homem que o eclipsou no círculo de Trump e com quem Bannon não tem boas relações.
“A única maneira de eles vencerem é se recuarmos, e não vamos recuar, não vamos nos render, não vamos desistir – vamos lutar, lutar, lutar”, disse Bannon sobre os oponentes, ecoando a exortação de Trump aos apoiadores após a tentativa de assassinato contra ele.
Bannon então estendeu seu braço direito em um ângulo com sua palma apontando para baixo. A saudação nazista é talvez mais familiar, especialmente a partir de filmagens históricas de Adolf Hitler, com o braço apontando para a frente – mas o tom fascista dos sinais de Bannon e Musk tem sido inconfundível.
A Liga Antidifamação, que faz campanha contra o antissemitismo, define a saudação nazista como “levantar o braço direito estendido com a palma para baixo”.
“A longa e perturbadora história de Steve Bannon de incitar o antissemitismo e o ódio, ameaçar com violência e empoderar extremistas é bem conhecida e bem documentada pela ADL e outros”, escreveu a Liga Antidifamação no X em resposta, acrescentando: “Não estamos surpresos, mas estamos preocupados com a normalização desse comportamento”.
Bannon, falando a um jornalista francês da revista Le Point na sexta-feira, disse que o gesto não foi uma saudação nazista, mas sim “um aceno como eu fazia o tempo todo”.
“Faço isso no final de todos os meus discursos para agradecer à multidão”, disse Bannon.
No entanto, no vídeo, quando ele estica o braço em um breve gesto, então acena bruscamente com um sorriso, para os aplausos do público, e diz “amém”, parece claramente diferente do final de seu discurso, quando Bannon andou pelo palco saudando o público, esticando primeiro o braço direito, depois o esquerdo, em um gesto mais solto que parecia muito mais com um reconhecimento convencional de uma multidão após um discurso.
Online, alguns usuários de extrema direita sugeriram que Bannon fez o gesto propositalmente para “disparar” os liberais e a mídia. Outros se distanciaram.
Nick Fuentes, um influenciador de extrema direita e aliado de Trump que usa sua plataforma para compartilhar suas visões antissemitas, disse em uma transmissão ao vivo que a saudação de Bannon estava “ficando um pouco desconfortável até para mim”.
O gesto de Bannon, como o de Musk, foi caracterizado por alguns como uma “saudação romana” – embora alguns historiadores argumentem que essa é uma distinção sem diferença. Alguns apoiadores de direita argumentaram, sem evidências, que a saudação romana se originou na Roma antiga. Os historiadores descobriram, em vez disso, que ela foi adotada pelo líder fascista italiano Benito Mussolini na década de 1920, e depois pelo partido nazista de Hitler na Alemanha.
No entanto, a ADL concluiu que, na opinião do grupo, Musk havia “feito um gesto estranho em um momento de entusiasmo, não uma saudação nazista”.
O discurso de Bannon mostrou a evolução do CPAC de uma conferência conservadora tradicional para um comício totalmente centrado em Trump. Bannon também falou sobre a próxima eleição em 2028, provocando aplausos de “Queremos Trump” e dizendo ele mesmo: “Queremos Trump em 28”.
A declaração ecoou as do próprio Trump, que na quarta-feira perguntou a uma multidão se ele deveria concorrer novamente, foi recebido com apelos de “mais quatro anos”, e se autodenominou um “REI” em uma publicação nas redes sociais. Os presidentes dos EUA estão limitados a dois mandatos.
Enquanto isso, Musk brandiu uma motosserra na quinta-feira no CPAC, regozijando-se com o corte de empregos federais que ele está supervisionando em vários departamentos, diante de contestações e protestos legais. Ele chamou isso de “a motosserra para a burocracia”.
Foi entregue a ele no palco pelo presidente de direita da Argentina, Javier Milei.
Publicado originalmente pelo The Guardian em 21/02/2025
