EUA caem para o 57º lugar em ranking global de liberdade de imprensa, segundo a RSF, e ficam atrás de países que antes enfrentavam guerra civil


A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) alertou nesta sexta-feira (2) sobre uma “deterioração alarmante da liberdade de imprensa” nos Estados Unidos sob o governo do presidente Donald Trump, além de dificuldades “sem precedentes” para jornalistas independentes em todo o mundo.

A RSF, sediada em Paris e que monitora a liberdade de imprensa há 23 anos, afirmou que seu principal índice atingiu o nível mais baixo já registrado.

“Pela primeira vez na história do índice, as condições para o exercício do jornalismo são ruins em metade dos países do mundo e satisfatórias em menos de um em cada quatro”, concluiu o relatório anual da entidade.

Anne Bocande, diretora editorial da RSF, destacou o papel das pressões econômicas no enfraquecimento do jornalismo factual, com muitos veículos independentes fechando devido a dificuldades financeiras.

Embora os gastos com publicidade online continuem crescendo – atingindo US$ 247,3 bilhões em 2024, segundo a RSF –, uma parcela cada vez maior é capturada por gigantes como Facebook, Google e Amazon, em vez de empresas de mídia.

“Quando os jornalistas são empobrecidos, eles perdem os meios para resistir aos inimigos da imprensa – aqueles que promovem desinformação e propaganda”, disse Bocande em comunicado.

Mudança autoritária

A RSF destacou como Trump piorou as condições ao cortar o apoio financeiro dos EUA a veículos estatais como a Voz da América e a Rádio Europa Livre/Rádio Liberdade (RFE/RL), além de reduzir a ajuda ao desenvolvimento que beneficiava veículos de mídia no exterior.

Após cair 11 posições em 2024, os EUA recuaram mais duas colocações no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa 2025, ficando em 57º lugar – atrás até mesmo de Serra Leoa, país africano antes devastado por guerras.

O índice, calculado com base em incidentes violentos contra jornalistas e outros dados compilados por especialistas, foi liderado pela Noruega pelo nono ano consecutivo. Estônia e Holanda ficaram em segundo e terceiro lugares.

“Nos EUA, o segundo mandato de Donald Trump levou a uma deterioração alarmante da liberdade de imprensa, indicando uma guinada autoritária no governo”, afirmou a RSF.

“Sua administração instrumentalizou instituições, cortou apoio à mídia independente e marginalizou repórteres.”

Grandes áreas dos EUA são agora “desertos de notícias”, segundo a organização.

Ataques à imprensa

Trump anunciou na quarta-feira que está considerando processar o The New York Times, em seu mais recente ataque a um veículo de mídia. Ele também move uma ação contra o grupo Paramount por uma entrevista de sua rival democrata Kamala Harris no canal CBS antes das eleições.

Trump alega que a entrevista foi editada para omitir uma resposta constrangedora, mas analistas jurídicos consideram a ação frágil e provavelmente barrada pelas proteções constitucionais à liberdade de imprensa.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) também alertou na quarta-feira para o declínio da liberdade de imprensa nos EUA e pediu que redações formem uma frente unida contra a “crescente onda de ameaças”.

Outros países com quedas significativas no índice incluem a Argentina (21 posições a menos, para 87º lugar) sob o governo de direita de Javier Milei, aliado de Trump, e a Tunísia (11 posições a menos, para 129º).

A RSF também destacou o drama dos jornalistas palestinos que tentam cobrir o bombardeio israelense em Gaza.

“Em Gaza, o exército israelense destruiu redações, matou quase 200 jornalistas e impôs um bloqueio total por mais de 18 meses”, afirmou a organização.

Enquanto isso, Israel caiu mais 11 posições, para 112º lugar, e “continua a reprimir sua própria mídia”.

Com informações de FRANCE 24 e AFP*

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Last Update: 02/05/2025