Liberdade de expressão quando interessa, se não é repressão.

por Francisco Celso Calmon

Liberdade é uma das palavras mais belas do vocabulário universal da vida. Usufruir da liberdade é condição sine qua non para a realização do ser enquanto espécie e enquanto cidadão político.

A liberdade é imanente à natureza humana e animal. Se assim não fosse, ficar-se-ia ligado à parideira. O corte do cordão umbilical é o primeiro passo à liberdade.

Conceber a liberdade como uma condição na qual o ser humano não é obrigado a agir consoante à vontade de outro, é não estar escravizado, portanto, liberdade implica em independência.

Liberdade não é poesia, é conquista e eterno devotamento, embora deva sempre ser cantada em prosa e verso, como alimento do espírito libertário de um povo, sem o qual tiranos o aprisionam em grilhões ideológicos e físicos.

Liberdade é sinônimo de autonomia, independência, permissão, autorização, deliberação, emancipação, licença, alvará, iniciativa. O limite da liberdade é o outro, é a coletividade, estabelecido em normas legais e/ou de costumes.

Ser livre é ser sujeito de seu destino, é ser protagonista da história.

Se sem oxigênio o ser humano não vive, sem liberdade, a cidadania não pulsa.

Faz parte da Constituição americana, a primeira Emenda (1791), que garante:

“O Congresso não fará lei alguma […] que cerceie a liberdade de expressão, ou de imprensa; ou o direito do povo de se reunir pacificamente”., entretanto, é um país que não aceita a autonomia de outros países, os invade diretamente, ou por meio de terceiros, e internamente só pratica a liberdade com a elite branca daquela nação, e, mesmo assim, quando essa elite se junta a outras parcelas da população em bandeiras comuns, como a luta contra segregação, contra deportação de imigrantes, contra o autoritarismo de Trump, contra o imperialismo de fomento e colaboração à Ucrânia, ao genocídio de Israel, aí, nesses casos, a liberdade que vigora é a da repressão.

O povo em diversos países está saindo da letargia e se movimentando contra o extermínio praticado pelo governo de Israel em Gaza, e o incêndio beligerante no Oriente Médio, porém, a liberdade de manifestação está sendo reprimida, não só nos EUA, mas também na Inglaterra, Malásia, Itália, França, Nova Zelândia…

A liberdade de expressão tem a sua extensão mais eficaz na sua manifestação. Ocorre que, quando a manifestação vai contra os interesses dos Estados e de suas classes dirigentes, abandona-se as constituições nacionais e vigora a lei do mais forte, e o Estado é sempre o mais forte, pois é detentor legal do poder das armas.

Muitos chavões ao longo da história já foram criados, como “liberdade sem responsabilidade é anarquia”, “liberdade sem limites é libertinagem”. O que é necessário para os tempos de autoritarismo e fascismo é firmarmos a compreensão de que a sobrevivência da liberdade depende da aceitação dos limites estabelecidos pelas constituições dos diversos países democráticos, desde que não ultrapassem a linha vermelha e caminhem para o autoritarismo, como vem acontecendo nos EUA, na França e alhures.

Liberdade de expressão sem direito à manifestação é poesia, bom para olhos e ouvidos dos que detêm o poder e flagelo para o exercício crítico da sociedade.

A liberdade de expressão e manifestação não é a liberdade para cometer crimes, e muito menos para cometer atentados à democracia, que é a garantidora da liberdade.

A geração 68 é caracterizada, objetivamente, pelos eventos que produziu, demonstrando um caráter subjetivo de generosidade, desprendimento, coragem, ousadia, determinação, criatividade, consciência de rebeldia e revolução.

Se naquele tempo os jovens acreditavam no povo organizado como força motriz de mudança, em 2025, a luta de classes precisa voltar aos trilhos e se reconectar com o espírito coletivo e ousado.

Se quisermos um 2025 e os anos seguintes protegidos de golpistas e da virulência da extrema-direita, o caminho é nunca se calar, ousar, fazer-se presente e se revoltar contra decisões que nos façam retroceder nas conquistas populares.

Além dos países citados acima, nos quais o povo está se manifestando contra o genocídio praticado por Israel, com a chancela dos EUA, o povo brasileiro também começou a fazer parte desse grande movimento pela paz e contra o colonialismo de Israel e o imperialismo dos Estados Unidos.

Cerca de 30 organizações do movimento social, partidos políticos, coletivos e redes de solidariedade à Palestina convocam manifestações neste domingo (15/06) pelo fim das relações diplomáticas do Brasil com Israel. Nas cidades de Curitiba (PR), ⁠São Paulo (SP),Rio de Janeiro (RJ),⁠ Belo Horizonte (MG), ⁠Boa Vista (RR), ⁠Goiânia (GO), ⁠Rio Grande (RS), ⁠Porto Alegre (RS), Fortaleza (CE),os protestos contaram com o apoio de grandes multidões, no dia 16/06, haverá um ato público em Vitória – ES, às 18h na assembleia legislativa, e em 18/06, mais um ato em Fortaleza, na UECE.

2025 reúne condições objetivas para gerar um novo 1968. Para tanto, só precisa que a juventude do mundo todo lute pela sua própria preservação enquanto sujeito da liberdade de expressão e manifestação.

Pela Paz, pela Vida, contra o genocídio israelense, contra o imperialismo de guerra. Por um mundo solidário, sem senhores e vassalos, multipolar e de respeito à autodeterminação dos povos.

25 = 68

Francisco Celso Calmon, Analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral – E o PT com isso?, Combates Pela Democracia, 60 anos do golpe: gerações em luta, Memórias e fantasias de um combatente; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula. Coordenador do canal Pororoca e um dos organizadores da RBMVJ.

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Last Update: 17/06/2025