Em entrevista ao Café PT nesta segunda-feira (21), o coordenador nacional do setorial de Segurança Pública do PT, Abdael Ambruster, debateu sobre o aumento de 61% na letalidade policial em São Paulo desde o início da gestão Tarcísio de Freitas. Ele afirmou que o cenário é resultado de um discurso violento e de políticas públicas desastrosas.

“Isso tem que ser debitado à conta do comportamento do governador. Infelizmente, quando assumiu, fez um discurso totalmente voltado para acabar com as câmeras de segurança”, afirmou.

Segundo ele, o governador “desdenhou das organizações de direitos humanos”, incentivou a truculência policial e, só depois de mortes e denúncias, admitiu o erro.

“Vidas foram ceifadas. Vidas da população paulista e vidas de policiais também. Veio um arrependimento tardio, de frases mal colocadas, e com segurança pública a gente não pode brincar. É coisa séria.”

Racismo estrutural e violência nas periferias

Ambruster destacou que o modelo adotado por Tarcísio vitimiza, sobretudo, a juventude negra e periférica.

“A água fria gelou perto dele e ele teve que repensar. Hoje está comprovado o aumento da violência junto às periferias, junto à juventude pobre, preta e periférica. Assassinatos, execuções que o Estado de São Paulo está sendo acusado inclusive por órgãos internacionais.”

Ele aponta que mais de 60% das vítimas de abordagens violentas da PM são pessoas negras.

“É preciso enfrentar o racismo estrutural dentro das polícias. O preto, pobre, periférico, é o alvo dessa política de segurança pública falida.”

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Desmonte institucional

Durante a entrevista, o coordenador apresentou que, entre 2023 e 2024, a letalidade aumentou 61% em SP.

Já entre 2019 e 2022, com uso obrigatório de câmeras corporais, houve queda de 62% nas mortes causadas por PMs, segundo estudo do Unicef.

“É nítido, claro e certo o erro cometido pelo governador. Bastou as câmeras deixarem de ser utilizadas para a violência aumentar. Tem algo errado.”

Ambruster denunciou ainda o enfraquecimento proposital das corregedorias e ouvidorias.

“A própria corregedoria foi enfraquecida durante o governo Tarcísio. A polícia está doente. A saúde mental dos policiais está completamente abalada. Um PM que joga um trabalhador de uma ponte precisa ser tratado como um sintoma de algo muito grave.”

Polícia contra o povo

Para Ambruster, a atual política de segurança pública rompeu o pacto entre a polícia e a população.

“Fica parecendo que os policiais estão de um lado e o povo do outro. Isso é muito perigoso. Policial, antes de mais nada, é servidor de direitos humanos. Está lá no manual do Alto Comissariado da ONU.”

O coordenador critica duramente o discurso de Tarcísio, que prometeu “estar ao lado da tropa”, como se isso significasse licença para agir fora da lei.

“Uma parte da tropa acreditou nesse discurso de violência. E agora está sendo punida. A Polícia Militar informou que 463 policiais foram presos e 318 demitidos ou expulsos. Ou seja, o discurso irresponsável do governador levou muitos à destruição de suas próprias carreiras.”

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Abandono do policial trabalhador

Ambruster também denunciou o abandono dos próprios profissionais da segurança pública em SP. “Hoje temos menos policiais do que em 2015, enquanto a população aumentou. Os salários estão entre os cinco piores do país. A segurança pública foi usada como palanque eleitoral e depois negligenciada.”

Ele ressaltou que o policial deve se reconhecer como trabalhador e servidor do povo. “Quem sustenta o salário do policial é o povo pobre e preto. Não é o rico do Morumbi. É o morador da periferia que paga impostos. Maldito é o soldado que levanta a arma contra o seu povo.”

Apesar do cenário trágico, Abdael Ambruster acredita que é possível reverter essa política de morte. Ele defende o fortalecimento das corregedorias, o uso massivo de câmeras corporais, a escuta e o cuidado com a saúde mental dos agentes e o enfrentamento político do bolsonarismo.

“Essa política de tiro, porrada e bomba da extrema direita só vitimiza a todos: a população e os próprios policiais.”

Ele também destacou a iniciativa da Fundação Perseu Abramo (FPA) e do PT na construção de um novo programa de segurança pública, que será entregue ao novo presidente nacional do partido, Edinho Silva.

“É uma política antirracista, antifascista, antihomofóbica e inclusiva. A segurança pública precisa ser para todas, todos e todes.”

“As regiões onde mais aumentou a violência são as mesmas onde a direita foi mais votada. Está no mapa. A população precisa observar isso nas eleições. É o nosso contra eles. E quem está perdendo é o povo”, alertou.

“Precisamos de um Ministério da Segurança Pública. Precisamos de um piso nacional para os profissionais da área. E precisamos, acima de tudo, de um novo projeto civilizatório para a segurança pública no Brasil. O que está aí é um fracasso.

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Mapa da Segurança Pública 2025

O número de mortes por intervenção de agentes do estado aumentou 61,31%, no estado de São Paulo, segundo o Mapa da Segurança Pública de 2025, divulgado em 11 de julho, pelo Ministério da Justiça.

Segundo os dados levantados pela pasta, o estado paulista vai na contramão do país que registrou uma queda de 4,02%, em relação ao ano base 2023. São Paulo registrou, em 2023, 504 casos de morte por intervenção policial, contrastando com as 813, em 2024.

O estado de São Paulo é seguido pelos estados de Minas Gerais, com um aumento de 43,17%, Espírito Santo, com 34,48%, Ceará, 28,57%, e Maranhão, com 22,58%.

Os dados também apontam que a única região brasileira, na qual não houve uma queda no número de mortes, foi a região Sudeste, onde o estado de São Paulo está localizado, computando um aumento de 13,8% em mortes por letalidade policial.

Da Redação, com informações da CNN

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Last Update: 21/07/2025