Por Lelê Teles*
é o fim da era bozozóica, afirmam arqueólogos, historiadores e youtubers influencers.
a nova pesquisa quaest mostra que o homo zapiens entrou, finalmente, na zona de não retorno e sua extinção é inevitável.
ecocidas, xenofóbicos, misóginos, racistas, corruptos, cínicos e nazistóides, esses sorridentes infelizes experimentam uma trágica morte agônica, afogados nas próprias lágrimas, mostram arqueólogos virtuais.
contam os nossos intrépidos escafandristas que o zap, fonte primária, secundária e terciária de informação para esses estranhos argonautas internéticos, está às moscas como se tivesse sido devastado por uma terrível praga de gafanhotos.
vestígios fósseis revelam que os primeiros gafanhas foram os divertidos e certeiros vídeos progressistas, feitos por inteligência artificial, que denunciavam o congresso da mamata.
em seguida, veio o contundente e irreparável “nós contra eles.”
mas o ponto culminante, o chamado rito de transição da era bozozóica pra era das jabuticabas maduras, foi um inesperado fogo amigo e tem como marco temporal uma bomba econômica: a infame taxação dos produtos brasileiros pelo terrível laranjão do norte.
a trampa, montada por trump, colocou em perigo o trampo dos brasileiros nas mais variadas áreas, dos férteis campos agrícolas à festiva vinte e cinco de março.
essa foi a segunda praga de gafanhotos a arrasar o solo zápico.
restou apenas um vídeo, sem som, com o fundo preto e uma luz direcional acesa, revelando uma indefectível peruca loira.
a ausência do pequeno grande hermeneuta, o títere-totem chupetinha, marcada pelo seu silêncio covarde, deixou os zapiens como baratas atônitas.
e pra desespero geral, o nórdico deus do norte, lançou a segunda bomba sobre a economia brasileira: o cerco às nossas transações eletrônicas.
declarando que a pax só viria com o fim do pix.
a confusão se instalou, perguntas surgiam em busca de respostas.
“ora, o embargo não era pra salvar das grades o nosso amado minotauro – metade homem, metade gado?”
“como assim, trump disse que não é amigo do bolsonaro?”
“eu fiz um pix pro capetão, pequei então?”
cri, cri, cri.
nenhuma resposta.
tarcísio, um rato de rabo fino, afoito e oportunista, enxergando um vácuo à sua frente, resolveu ocupar o espaço vazio.
mas acabou caindo na trampa de trump.
meteu na cabeça o boné vermelho onde se lia: make american express great again.
só aí os zapiens compreenderam que trump não está interessado na anistia de dona fátima, de débora do batom ou do minotauro, ele está defendendo os interesses das operadoras de crédito dos esteites.
“com mil diabos”, gritaram os zapiens, “fomos tapeados.”
e como desgraça pouca é bobagem, trump anuncia novos embargos, agora ameaça taxar as baianas do acarajé, porque o famoso bolinho de feijão fez cair na baêa as vendas do mc donalds.
o coca-cola exige reparação por perdas econômicas provocada pelo nosso incurável vício em caldo de cana.
são passíveis de embargo ainda os produtores de açaí, os artesãos que fabricam carrancas, cordelistas, caiporas e boitatás, biscoito globo, goiabada cascão, o guaraná dolly, a pamonha, o pequi e o pão de queijo.
o cerco se fecha.
o serviço de imigração dos esteites está intensificando a deportação de homo zapiens e mandando-os de volta os brasil para morrerem em solo pátrio.
como se vê, somos testemunhas oculares do fim da era bozozóica.
depois de pedirem intervenção de militares e alienígenas, amamentarem bebês reborns, baterem continência para um pneu e orarem para pastores mirins, os homo zapiens voltam para o limbo de onde vieram.
caronte, o barqueiro do inferno, os aguarda para fazer a travessia do estige.
é o início da era lulaquatro.
o povo voltará aos cinemas e aos teatros, voltarão os recitais de poesias em praças públicas, as cartinhas pra namoradas e namorados, as serestas com gaitinha de boca, os bailes de charme, as gafieiras, os saraus pornográficos, os acrobáticos pole dances, o estripitismo, a estripulia e a carnavalização da vida.
chico science será homenageado por uma escola de samba do ridejanêro e uma grande faixa será estendida nas duas torres do congresso nacional, com letras garrafais, provocando: quem é você pra derramar meu mungunzá, seu laranjão?
e a alessandra negrini subirá a rampa do planalto, cheia de glitter e metida num maiô retrô do corinthians.
ofidekingue, de pauer debest.
palavra da salvação.
*Lelê Teles é jornalista, roteirista e mestre em Cinema e Narrativas Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).