Por Lúcio Silva
O menino nasceu, e como um tesouro de Deus, o pequeno aventureiro já pulou da manjedoura operando milagres e fazendo travessuras.
Deu um nó no rabo do porco, puxou a barba do velho João, montou no lombo de um burro e saiu dando saltos pelas ruas desertas da Terra Santa.
Vive alegre e livre como convém a um deus, conta histórias e recita poemas e conversa com os animais.
Nasceu nu como um nativo e indigente como um refugiado.
Nasceu livre, mas não em liberdade, pois viverá numa terra ocupada por estrangeiros.
Não experimentará o sabor de uma lágrima, mas se nutrirá das deliciosas gargalhadas infantis.
Terror dos falsos, chicoteará os mercadores, dará alimento aos famintos, consolo aos desesperados e motivo aos revoltosos.
Morrerá em breve, magro, cabisbaixo e com uma coroa de espinhos a lhe sangrar a fronte.
Seu corpo ficará suspenso no madeiro, fustigado pelo sol, só, renegado pelos seus e abandonado pelo pai.
Morrerá como um mártir e não como um herói.
Lutou o bom combate e venceu ao ser derrotado.
Sim, terá uma longa breve vida, morrerá, mas permanecerá vivo eternamente.
Palavra da salvação.
*Lúcio Silva é jornalista, publicitário, roteirista e mestre em Cinema e Narrativas Sociais pela Universidade Federal de Sergipe (UFS).
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