Já falamos por aqui sobre os “legendários”, grupo cristão que cobra até 81 mil por retiros espirituais extremos – que incluem subir morro e fazer jejum, por exemplo – sob a promessa de aproximar os homens de Deus e de suas famílias e torna-los “maridos melhores”.
Um movimento que começou em 2017 e promove uma verdadeira espetacularização da fé, focando em homens que buscam transformações pessoais através desses retiros espirituais caríssimos. Em português claro, um monte de homem de caráter duvidoso fazendo sacrifícios físicos e financeiros (quando suas esposas não bancam os tais retiros) para tornarem-se melhores – leia-se: para receberem indulgência, de si mesmos e dos outros, pelas m*rdas que costumam fazer.
Para se ter uma ideia, até Neymar procurou o grupo pra limpar a própria barra depois de várias traições públicas à esposa Bruna Biancardi. Outros famosos também aderiram aos retiros, como Eliezer, Kaká Diniz e Thiago Nigro (sim, atual marido de Mayra Cardi, coach e maior corna identificada no território nacional).
O marketing é digno de boyband góspel, e os discursos copiam a “lacração” identitária e aplicam-na ao fundamentalismo religioso, com bordões ridículos como “Jesus é top”, e o púlpito sempre pronto pra transformar a fé em espetáculo – e dinheiro.

Com mais filtros do Instagram do que base bíblica, os Legendários são, em geral, conservadores, e, frequentemente, bolsonaristas – daqueles que defendem a moral e os bons costumes na internet mas na vida real escondem toda sorte de absurdos: de adultério a tráfico de drogas.
Um deles, Renan Silva Nascimento, foi preso ontem pela Polícia Civil no Mato Grosso do Sul com 15 kg de pasta-base de cocaína – uma dúvida real: por que conservador adora cocaína? – acusado de integrar um esquema de tráfico de drogas interestadual.
Segundo a polícia, Renan é proprietário de uma hamburgueria em Dourados (MS), e usava o local como ponto de armazenamento da droga, que era trazida da fronteira com o Paraguai.
Enquanto as favelas seguem sendo invadidas (e os pretos seguem sofrendo chacinas) em nome da famigerada guerra às drogas, os traficantes de verdade – os que realmente fazem a engrenagem do narcotráfico girar no Brasil – estão em grupos conservadores e cristãos, com o perdão da redundância.
A verdade é que a maioria dos legendários são aqueles que conhecemos desde sempre como “cidadãos de bem”, defensores da família que usam bandeiras do Brasil em montagens cafonas que compartilham pelo WhatsApp.
E antes que digam que eu estou associando os legendários ao bolsonarismo de forma leviana ou desonesta: há uma relação inegável e significativa entre ambos, e não é preciso ser um gênio para identifica-las: a militância cristã, a estética brega do cidadão comum revoltado, a linguagem de guerra, o moralismo, o uso estratégico das redes sociais e a espetacularização da fé… tudo isso está presente no bolsonarismo e também nos legendários.
Como se não bastasse, a maioria dos líderes associados ao grupo tiveram envolvimento direto ou indireto com o bolsonarismo. Só gente fina, elegante e sincera: Silas Malafaia, Damares Alves, André Valadão – um dos líderes do movimento, que inclusive já se declarou viciado em pornografia, e alinha-se ao bolsonarismo em muitas de suas pautas e ideologias, já tendo expressado diretamente, em diversas ocasiões, seu apoio a Jair Bolsonaro.
A quem isso surpreende?
Não a mim.
Bolsonaristas já foram surpreendidos em crimes de sonegação, estupro, porte de arma, envolvimento com milícias e toda sorte de desgraças, fora as escorregadas morais, como o adultério.
Evidente que o conservadorismo, o moralismo, o fundamentalismo religioso e a picaretagem andam lado a lado com os legendários, assim como com o próprio bolsonarismo.
Os defensores da família são, na verdade, traficantes de drogas como Renan, viciados em pornografia como Valadão e mercadores da fé como Silas Malafaia.
Para mau-caratismo não há cura, e, para os legendários, não há retiro espiritual que dê jeito.
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