O nome escolhido por Robert Francis Prevost ao ser eleito papa nesta quinta-feira (8), não é um mero detalhe protocolar, pois a escolha parte, única e exclusivamente, do próprio pontífice.
Trata-se de um gesto simbólico, que resgata o legado de Leão XIII (1878–1903), o papa da Rerum Novarum, encíclica que lançou as bases da Doutrina Social da Igreja e posicionou o Vaticano diante das contradições do liberalismo econômico.
Mais do que homenagear um antecessor, Leão XIV projeta com sua escolha uma declaração de intenções. E, à luz de sua trajetória pastoral na América Latina — em especial no Peru —, o gesto também pode ser lido como uma continuidade da linha latino-americana e reformista do papado de Francisco.
O peso do nome e a alusão a Leão XIII
A escolha de um nome pontifício é um primeiro indicativo das prioridades do novo papa. No caso de Leão XIV, a referência é direta: Leão XIII foi responsável por reposicionar a Igreja no debate sobre justiça social, após os profundos impactos das revoluções políticas e sociais do século XIX. Sua Rerum Novarum, publicada em 1891, estabeleceu o princípio do trabalho como direito e valor moral, com críticas aos abusos do liberalismo econômico.
Leão XIII dialogava com um mundo em transformação, marcado pela ascensão do operariado, do marxismo e das democracias liberais. Seu legado ecoou com força na América Latina, onde inspirou movimentos populares cristãos, a Teologia da Libertação e um engajamento social que moldou o catolicismo na região ao longo do século XX.
Prevost e América Latina
É neste contexto que a figura de Leão XIV ganha densidade. Prevost, nascido nos Estados Unidos, passou boa parte de sua vida na América Latina, sendo missionário no Peru e profundo conhecedor das realidades sociais do continente.
Essa vivência faz dele mais do que um representante americano no trono de Pedro: é um papa com sensibilidade latino-americana, que compreende o papel da Igreja como mediadora entre fé e justiça social, não à toa ele aconselhava Francisco nessas questões sensíveis.
Em tempos de neoliberalismo excludente e da instrumentalização da fé por projetos de poder — inclusive no Brasil, onde Prevost esteve duas vezes —, a liderança de Leão XIV pode continuar a representar o legado de Francisco, agora, porém, diante dos dilemas de uma era digital, marcada por novas formas de exploração e ameaças autoritárias em diferentes partes do globo.
A leitura feita pelo cientista político Christian Lynch corrobora essa interpretação combativa. “O novo papa é americano para enfrentar o desafio autoritário fomentado pelo extremismo trumpista. Leão XIV é uma alusão óbvia a Leão XIII, que criou a doutrina social da Igreja. Se fosse Pio XIII, seria um mau sinal, mas Leão XIV é sinal de um papa de combate” , disse o cientista em sua conta no X.
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