Antonio Lavareda. Foto: Divulgação

Para o cientista político Antonio Lavareda, a manutenção da democracia no Brasil em 2022 não foi resultado da postura das Forças Armadas, mas da posição firme do governo dos Estados Unidos. Em entrevista ao UOL, ele afirmou que enviados do presidente Joe Biden desempenharam um papel crucial ao deixar claro que os EUA não apoiariam uma ruptura institucional.

Segundo Lavareda, as investigações revelam que os comandantes militares brasileiros tinham conhecimento prévio da trama golpista para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder e, mesmo assim, não denunciaram os planos.

Durante o processo eleitoral de 2022, representantes do governo Biden se reuniram com líderes militares brasileiros, incluindo o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio de Oliveira. Entre os enviados estavam Lloyd Austin, secretário de Defesa dos EUA, e a general Laura Jane Richardson, comandante do Comando Sul.

Eles deixaram claro que qualquer tentativa de golpe poderia resultar no rompimento de acordos militares e em um distanciamento dos Estados Unidos em relação ao Brasil.

Esses encontros foram fundamentais para demonstrar que os custos de uma ruptura institucional seriam altos. “Se precisarmos homenagear alguém por evitar o golpe, será uma heroína: a general Laura Jane. Foi a presença dela, sob ordens de Joe Biden, que teve impacto dissuasório”, afirmou Lavareda.

Joe Biden. Foto: Divulgação

Apesar da postura cautelosa adotada pelos líderes militares em 2022, Lavareda critica a ideia de que eles foram “heróis da democracia”. Ele destacou que os generais Freire Gomes e Valério Strumpf Trindade, atacados nas redes por militantes bolsonaristas, silenciaram diante da ilegalidade.

“Se houve uma proposta de comportamento ilegal, eles tinham obrigação de denunciá-la. Esse silêncio só foi quebrado após a delação de Mauro Cid, em 2023”, explicou. Lavareda também apontou possíveis crimes, como prevaricação e condescendência criminosa, que ainda podem resultar em punições para alguns envolvidos.

A ligação entre as Forças Armadas do Brasil e dos Estados Unidos é longa, remontando à Segunda Guerra Mundial. Essa relação foi fortalecida por tratados, exercícios conjuntos e treinamentos. Entretanto, Lavareda ressaltou que, no caso de 2022, a motivação principal para evitar o golpe foi pragmática e baseada nos custos internacionais de uma ruptura.

Lavareda argumenta que o desfecho poderia ter sido diferente caso Donald Trump estivesse no poder em 2022. “Trump era um aliado de Bolsonaro. Ele provavelmente não teria enviado representantes para manifestar oposição a uma ruptura institucional comandada por Bolsonaro”, avaliou. Para o cientista político, a alternância na liderança dos EUA trouxe um fator decisivo para a preservação da democracia no Brasil.

Com a polarização política no Brasil, Lavareda alerta que o risco de novas tentativas de ruptura permanece. Segundo ele, uma eventual mudança no governo norte-americano pode alterar o cenário, deixando o Brasil mais vulnerável a aventuras golpistas.

“Se houver um novo risco golpista, não haverá manifestação do governo dos EUA, caso seja patrocinado por setores ligados a Bolsonaro. Isso mantém um perigo constante”, concluiu.

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Last Update: 08/12/2024