
Um laudo médico solicitado pela Corte de Apelação de Roma concluiu que o quadro clínico da deputada federal licenciada Carla Zambelli não impede sua permanência em regime fechado na Itália. A avaliação foi feita pela perita Edy Febi, em documento de 19 páginas, e aponta que a parlamentar pode permanecer na penitenciária feminina de Rebibbia, em Roma, e até mesmo ser transferida ao Brasil de avião sem risco imediato à vida.
O relatório destacou que, apesar de apresentar distúrbios depressivos e problemas relacionados ao sono, Zambelli não demonstrou comportamento autolesivo e se manteve “lúcida e adequada” durante as entrevistas.
“Embora apresente distúrbio depressivo e dificuldades relacionadas ao sono, desde o início da detenção não foram registrados comportamentos autolesivos, e Zambelli se mostrou lúcida e adequada nas entrevistas clínicas”, diz um trecho.
Segundo a especialista, o acompanhamento psiquiátrico que ela recebe é suficiente e as enfermidades identificadas são compatíveis com o cumprimento da pena. A decisão de submeter a deputada à perícia ocorreu após ela passar mal durante audiência em 13 de agosto.
Na ocasião, juízes pediram esclarecimentos sobre a viabilidade de manter os tratamentos no ambiente prisional e a possibilidade de traslado internacional em segurança. O exame foi realizado em 18 de agosto, dentro da penitenciária, com acompanhamento de consultores indicados pela defesa e especialistas da Embaixada do Brasil em Roma.
A defesa, porém, insiste na tese de que Zambelli não tem condições de continuar presa. O advogado Fábio Pagnozzi declarou que a parlamentar “tem um problema no coração e retirou um tumor cerebral há alguns anos”, afirmando que tais condições seriam “incompatíveis com a carceragem”.

Peritos contratados pela própria defesa apontaram ainda a existência de “adoecimentos psiquiátricos e neurológicos graves”, que exigiriam suporte multidisciplinar contínuo. Ela está presa desde 29 de julho, após fugir para a Itália quando foi condenada pelo STF a dez anos de prisão no caso da invasão hacker aos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A decisão foi unânime na Primeira Turma da Corte. O hacker contratado pela deputada chegou a inserir um falso mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, assinado digitalmente em nome do próprio magistrado.
Após a condenação, a deputada anunciou nas redes sociais que havia deixado o Brasil. Segundo investigações, atravessou a fronteira com a Argentina, passou pelos Estados Unidos e chegou à Itália, onde possui cidadania. A extradição, segundo especialistas, pode levar até um ano.
Mesmo no exterior, Zambelli criticou a decisão do Supremo e classificou sua prisão como “ilegal” e “autoritária”. “Nossa Constituição é clara: um deputado federal só pode ser preso em flagrante e por crime inafiançável. Nada disso ocorreu”, afirmou em nota enviada à imprensa.
Desde maio, Zambelli está afastada de suas funções na Câmara dos Deputados, primeiro por licença médica e depois por mais 120 dias para tratar de “interesse particular”. Enquanto isso, Moraes determinou o bloqueio de contas bancárias, salários e passaportes, além da suspensão de seus perfis em redes sociais no Brasil, sob pena de multa diária de R$ 100 mil, medida contestada pela plataforma X.