Quando o pernambucano Zé Manoel lançou Do Meu Coração Nu, em 2021, houve uma enorme repercussão. Indicado ao Grammy Latino, o trabalho tratou sem devaneios do racismo e da violência, com faixas muito bem costuradas e em diferentes linguagens.
Recentemente, o cantor, compositor e pianista lançou o seu quinto disco, Coral, com sonoridade impecável e novos direcionamentos. Ele afirma pensar em seus álbuns como uma “continuação narrativa, abrindo para outras possibilidades”. A africanidade, porém, segue presente desde o primeiro (2012), que leva o seu nome.
“É uma busca da ancestralidade. No Brasil isso se perde na miscigenação, na forma em que o País foi pensado e no racismo que opera pelo apagamento da história do povo preto e indígena. Nos discos, vou em busca dessa história.”
Uma das músicas que simbolizam essa procura no novo disco é Menina Preta de Cocar. “Sempre esquecemos de que somos indígenas também. Tanto preto quanto branco têm sangue indígena. Essa música fala dessa junção.”
Outro destaque no trabalho é Canção de Amor Para Johnny Alf, uma homenagem ao cantor, compositor e pianista da bossa nova, a quem Zé Manoel se refere como “uma referência”.
O disco, de 11 faixas, tem a participação de Gabriela Riley, Alessandra Leão e Luedji Luna, entre outros. As composições são de Zé Manoel com parceiros ou apenas dele, além de canções adaptadas.
A faixa-título, Coral, foi produzida por Bruno Morais, que fez esse trabalho em todo o álbum, e Luisão Pereira, morto ano passado e responsável pela produção do excelente Do Meu Coração Nu.
O disco apresenta várias referências. Em Malaika, tema folclórico da Tanzânia, Zé Manoel e Arthur Nogueira fizeram uma versão elevada. A última música, Siriri (adaptada por Zé Manoel), ficou muito conhecida na voz de Marinês.
“Lançar um disco é sempre um recomeço”, sintetiza. “Apesar de meu último trabalho ter repercutido muito, com música em novela, indicação ao Grammy e muita gente que passou a me conhecer, fiquei quatro anos sem lançar nada.”
O artista passou dois anos circulando com o projeto sobre o álbum Clube da Esquina (1972), com o pianista pernambucano Amaro Freitas.
Em 7 de fevereiro, Zé Manoel faz o lançamento do álbum Coral no Teatro do Parque, no Recife. No dia 15, apresenta-se no Sesc Belenzinho, em São Paulo, e em 21 de fevereiro vai ao Sesc Santo André, no ABC Paulista.
É um dos grandes artistas da nova geração, com discos muito bem realizados e uma busca permanente pela originalidade. Coral é um dos ótimos discos de 2024.