Investigação da PF revela detalhes macabros do atentado articulado por grupo ligado a militares das Forças Especiais com planos de execuções e uso de armamento pesado


O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu manter a prisão preventiva do tenente-coronel do Exército Rafael Martins de Oliveira, acusado de participar de um esquema que teria como alvo o assassinato de autoridades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então recém-eleito, o vice-presidente Geraldo Alckmin, e o próprio Moraes. A decisão reforça a linha adotada pelo magistrado nos últimos dias, ao negar pedidos semelhantes apresentados por outro envolvido no caso — o também “kid preto” Rodrigo Bezerra de Azevedo.

Rafael Martins é integrante do grupo conhecido como “kids pretos”, uma referência aos militares que passaram pelo curso de Forças Especiais do Exército Brasileiro. Sua defesa havia solicitado a substituição da prisão por medidas cautelares alternativas, alegando que não haveria risco à ordem pública nem fundamento jurídico suficiente para manter o oficial detido.

Alexandre de Moraes e o tenente-coronel do Exército Rafael Martins de Oliveira / Reprodução
Moraes segura militar acusado de tramar três mortes / Reprodução

Leia também: Atlas/Bloomberg: Lula se fortalece com maior apoio popular do ano

No entanto, Moraes rejeitou o pedido com base na gravidade dos fatos apurados pela investigação da Polícia Federal. Segundo o ministro, os elementos constantes na denúncia e nas delações — especialmente a do ex-assessor especial da Presidência Mauro Cid — são mais do que suficientes para justificar a permanência da custódia.

“Não obstante, a alegação de que o acusado não contribuiu para os fatos descritos na denúncia, consubstanciada, em tese, pelo depoimento do delator Mauro César Barbosa Cid, não constrói conclusão apta a flexibilizar a tutela cautelar”, escreveu Moraes em sua decisão.

Operação da PF revela detalhes macabros do plano

A operação deflagrada pela Polícia Federal, batizada de “Punhal Verde e Amarelo”, revelou um esquema orquestrado por um grupo de militares com o objetivo de assassinar Lula, Alckmin e Moraes antes da posse presidencial em janeiro de 2023. O atentado estava marcado para 15 de dezembro de 2022, três dias após a diplomação do petista pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Segundo as investigações, Lula seria envenenado durante uma das frequentes visitas que costuma fazer a hospitais. Um documento apreendido apontava que o grupo exploraria a vulnerabilidade de saúde do presidente e seu histórico de idas a centros médicos. O texto menciona ainda o uso de substâncias químicas capazes de provocar um colapso orgânico fatal.

Já para cumprir a ordem de execução do ministro Alexandre de Moraes, o plano incluía armamento de guerra: uma metralhadora, quatro fuzis, quatro pistolas e um lança-granadas. As armas seriam usadas em uma eventual tentativa de captura ou eliminação física do magistrado. O documento indica que explosivos ou veneno também estariam entre as opções cogitadas.

Mensagens interceptadas mostram que os envolvidos trocavam informações sobre rotas de deslocamento, estratégias de aproximação e até mesmo simulações de ataques. Um veículo militar foi inclusive deslocado no dia combinado para a ação, segundo consta nos autos da investigação.

Envolvimento de figuras ligadas a Bolsonaro

Além de Rafael Martins e Rodrigo Bezerra, outros nomes próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro aparecem citados na investigação. Um dos principais é o do general Mário Fernandes, autor de um relatório detalhado com as estratégias de execução dos alvos. O documento serviu como base para a operação da PF e foi fundamental para embasar a decisão judicial.

Outra figura central no caso é o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que esteve presente em reuniões onde o plano era discutido abertamente. Apesar de ter feito uma delação premiada, ele agora enfrenta críticas da própria PF, que considera sua participação no esquema “grave” e pode recomendar a perda dos benefícios obtidos. Um novo pedido de prisão contra ele não está descartado, dependendo do andamento do depoimento prestado nesta terça-feira.

Decisão de Moraes reforça combate a ameaças institucionais

A manutenção da prisão de Rafael Martins se insere em um contexto mais amplo de endurecimento do STF frente a ameaças às instituições democráticas. Nos últimos anos, o Brasil tem vivido momentos de alta tensão política, com manifestações antidemocráticas e planos de golpe sendo investigados pelas autoridades. Moraes, que já conduziu investigações no inquérito das fake news e no apuratório sobre o atentado de 8 de janeiro, vem se posicionando firmemente contra qualquer tentativa de romper a ordem constitucional.

Para analistas políticos, a decisão demonstra que o sistema de justiça brasileiro está alerta para conter grupos radicais que insistem em colocar em xeque a segurança da República. Ao manter a prisão preventiva dos envolvidos, o ministro evita que possíveis conexões continuem agindo à sombra da impunidade.

Um alerta à radicalização

O caso do “kid preto” Rafael Martins é mais um capítulo em uma série de episódios que ilustram o grau de radicalização alcançado por setores da extrema-direita brasileira. O fato de um oficial do Exército estar envolvido em um plano de assassinato de autoridades democráticas é, no mínimo, alarmante. Reacende perguntas sobre a postura de certos segmentos das Forças Armadas frente ao processo eleitoral e à própria legitimidade da presidência de Lula.

Ao mesmo tempo, o episódio também expõe fragilidades no controle interno desses círculos militares e levanta dúvidas sobre como ideias extremistas conseguiram penetrar em setores tão estratégicos do Estado.

Enquanto isso, a população segue dividida entre o medo e a indignação. Por um lado, há reconhecimento de que as instituições estão funcionando e respondendo de forma célere; por outro, cresce a preocupação com o avanço de discursos de ódio e conspiratórios que colocam em risco a convivência democrática.

Neste cenário, decisões como a de Alexandre de Moraes ganham contornos simbólicos: além de punir condutas graves, elas ajudam a consolidar um recado claro — a democracia brasileira não aceitará mais ameaças leves ou brincadeiras de mau gosto. Quem tentar subverter a ordem legal saberá, desde já, que enfrentará todo o peso da lei.

Com informações de O Globo e CNN*

Categorized in:

Governo Lula,

Last Update: 08/07/2025