Nascido em 1889 na localidade de Ayn Karim, próxima a Jerusalém, Iskandar al-Khoury al-Beitjali era filho de Jiryes Yaʿqub, sacerdote cristão ortodoxo e professor, e de Hilwe Ayyub, ambos oriundos da cidade de Beit Jala, localizada ao sul de Jerusalém. O sobrenome “al-Beitjali” — que passou a adotar — denota exatamente essa origem. Criado em uma família cristã árabe, al-Khoury foi o mais jovem entre três irmãos, sendo os mais velhos Farah e Niqula.

Sua formação inicial visava prepará-lo para o sacerdócio. Matriculado na Escola Ortodoxa Grega de Beit Jala, abandonou esse caminho a mando do pai, que preferiu lhe garantir uma formação laica. Foi assim que ingressou no Colégio de Professores da Missão Russa em Nazaré, onde aprofundou seus conhecimentos de língua e literatura árabe. A essa formação se somaram um breve período na escola dos frades salesianos de Belém, onde aprendeu francês, e, posteriormente, a entrada no Colégio Patriarcal Grego-Católico de Beirute. Lá, teve como mestre Abdallah al-Bustani, um dos maiores nomes da literatura árabe moderna. Em 1906, concluiu seus estudos com um diploma em literatura árabe, e foi em Beirute que sua veia poética começou a se manifestar publicamente.

De volta à Palestina, lecionou brevemente em Beit Jala, mas logo se mudou para o Egito, onde trabalhou como estenógrafo no serviço de telégrafos do governo egípcio. No Cairo, entrou em contato com o ambiente intelectual efervescente que caracterizava a cidade no início do século XX. Ali passou a publicar seus poemas em periódicos e revistas, desenvolvendo sua identidade como poeta engajado nas questões sociais de seu tempo.

Em 1909, com a restauração da constituição otomana no ano anterior, Khoury voltou à Palestina. Participou como delegado da comunidade ortodoxa árabe de uma missão à capital do Império Otomano, Constantinopla, com o objetivo de denunciar a dominação grega sobre o Patriarcado de Jerusalém e reivindicar os direitos dos árabes dentro da Igreja Ortodoxa.

Essa atuação política em defesa da soberania cultural e religiosa dos árabes se desdobrou também na educação. Foi nomeado diretor da Escola Ortodoxa de Karak, na atual Jordânia, e mais tarde regressou a Jerusalém, onde lecionou árabe e francês em diversas instituições: o tradicional Collège des Frères, a Escola de São Jorge e a Escola Russa para meninas.

Com o início da ocupação britânica da Palestina e a imposição do regime do Mandato, Khoury foi incorporado ao aparelho burocrático do novo poder colonial. Atuou inicialmente como escriturário do conselho judicial de Jerusalém. Ao mesmo tempo, envolveu-se em atividades comunitárias e presidiu, em 1921, a Associação al-Najah de Beit Jala. Em 1920, havia ingressado nas Classes Jurídicas da Palestina, curso superior criado sob o domínio britânico para formar juristas locais. Concluiu os estudos após quatro anos e foi nomeado chefe do cartório do Tribunal de Apelação, exercendo posteriormente a função de juiz em Jerusalém de 1927 a 1931. Foi transferido para diversas outras cidades até se aposentar em 1945.

Com a aposentadoria, passou a atuar como advogado e retomou com mais vigor sua atividade literária e jornalística. Publicou oito coletâneas de poesia, sendo a primeira, Al-Zafarat (Os Suspiros), em 1919. Seus poemas destacam-se por seu conteúdo social e combativo. No prefácio de Mashahid al-Hayat (Cenas da Vida), defendeu a poesia como instrumento de transformação:

“O melhor uso que um poeta pode dar à sua energia é dedicar-se à poesia social […]; uma poesia que provoque lágrimas ou risos com o objetivo de reformar a sociedade.”

A profunda influência das literaturas russa, francesa e inglesa — que ele conhecia de primeira mão, por dominar o russo, francês, inglês, turco e grego, além do árabe — se manifesta em toda sua obra. No romance Al-Hayat baʿd al-Mawt (A Vida Após a Morte), menciona Pushkin, Tolstói e Shakespeare e constrói uma narrativa impregnada do espírito das personagens de Os Miseráveis, de Victor Hugo, denunciando a desigualdade e o sofrimento humano.

A tragédia da Nakba em 1948 obrigou Khoury a abandonar sua casa no bairro de Qatamon, em Jerusalém Ocidental. Com todos os seus bens perdidos, refugiou-se em Beit Jala, onde foi nomeado assessor jurídico da Cruz Vermelha para a região de Belém e Hebron. Em 1949, tornou-se inspetor das escolas da UNRWA, agência da ONU criada para lidar com os refugiados palestinos. Continuou escrevendo, assinando colunas nos jornais Al-Difaʿ (A Defesa) e Al-Jihad (A Luta), onde manteve um espaço próprio chamado Yawmiyyat al-Jihad (Diário da Luta).

Em 1952, integrou uma delegação de cristãos ortodoxos árabes que viajou à América do Sul com o objetivo de angariar recursos para a construção de um abrigo para doentes e pessoas com deficiência em Jerusalém. De volta à Palestina, retomou a advocacia e passou a lecionar literatura árabe na Escola Luterana de Belém.

Iskandar al-Khoury al-Beitjali faleceu em 7 de julho de 1973, em Beit Jala, onde foi sepultado. Deixou seis filhos com sua esposa Irina Petrovna Cherbenenkova, uma mulher russa de origem cossaca. Um de seus filhos, Anis, formou-se doutor e se tornou professor universitário nos Estados Unidos.

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Last Update: 03/05/2025