Karla Sofía Gascón

O fenômeno “Emilia Pérez” passou de favorito absoluto na corrida pelo Oscar a epicentro de uma polêmica que redefine a temporada de premiações. O número de 13 indicações poderia ter igualado o recorde histórico caso ainda houvesse duas categorias dedicadas a som. Até recentemente, “Emilia Pérez” parecia ser imabtível. Mas agora, a controvérsia em torno de Karla Sofía Gascón ofuscou qualquer debate sobre a obra em si.

A atriz, que inicialmente parecia apenas uma figura inexperiente em Hollywood, tornou-se o centro de uma tempestade após a descoberta de postagens antigas no X (antigo Twitter), carregadas de islamofobia, racismo e ataques gratuitos. Se antes Gascón era vista como uma representante imperfeita de sua própria narrativa — uma atriz trans em um papel de destaque —, agora se tornou um problema para a campanha do filme.

Sua falta de preparo para lidar com a imprensa já havia ficado evidente, com declarações impulsivas, como a acusação de que aliados da concorrente Fernanda Torres estavam conspirando contra ela e críticas a membros da comunidade LGBTQ+. Em uma entrevista, chegou a dizer: “Ser LGBT não te impede de ser um idiota.”

O impacto dessas revelações não é pequeno. No Globo de Ouro, antes do escândalo, Gascón subiu ao palco para receber o prêmio de melhor filme e declarou: “A luz sempre vence a escuridão.” Agora, essa frase soa irônica e vazia. Caso “Emilia Pérez” vença o prêmio de melhor elenco no SAG Awards, a presença de Gascón ao lado de colegas como Selena Gomez, conhecida por sua postura empática, criaria um contraste desconfortável. O que antes poderia ser um momento de celebração virou um dilema: como separar o filme de sua figura mais controversa?

Ainda há semanas até o encerramento da votação no SAG e no Oscar, e a questão que paira é como a presença de Gascón será administrada. A Netflix não comentou se a campanha continuará levando a atriz para as premiações, mas sua indicação ao BAFTA e ao Oscar mantém o imbróglio vivo. Em um cenário onde os apresentadores tradicionalmente homenageiam os indicados — como ocorreu no Oscar do ano passado com Emma Stone e Annette Bening —, quem se disporia a prestar tributo a Gascón? E o que fará o anfitrião da cerimônia, Conan O’Brien, que prefere um humor mais leve e absurdo, diante de um escândalo dessa proporção?

Karla Sofía Gascón ataca muçulmanos: “Asco da humanidade”. Foto: Reprodução

A temporada do Oscar já se desenhava tensa, com os incêndios na Califórnia levantando questões sobre a viabilidade do evento e o tom apropriado para a ocasião. Mas o clima azedou ainda mais por motivos que nada têm a ver com tragédias naturais. Polêmicas sobre a ausência de coordenadores de intimidade em “Anora”, um vídeo antigo de Fernanda Torres em blackface e o uso de inteligência artificial em “O Brutalista” já tinham incendiado os debates, impulsionados pelas redes sociais. Porém, nada se compara ao terremoto causado pelas postagens de Gascón.

O impacto dessa reviravolta lembra, em escala diferente, o tapa de Will Smith em Chris Rock no Oscar de 2022. Naquele ano, o público ficou 40 minutos esperando para ver como a premiação lidaria com a situação. Agora, restam semanas até a cerimônia, e o estrago já está feito. O que poderia ter sido uma história de superação trans se transformou em um lembrete de que qualquer pessoa, independentemente de sua identidade, pode agir com hostilidade e crueldade. O destino de “Emilia Pérez” foi drasticamente alterado, e a única certeza que resta é que essa se tornou uma das temporadas de premiação mais desgastantes dos últimos tempos.

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Last Update: 01/02/2025