Kamala Harris proferiu nesta quinta-feira 22 o discurso mais importante de sua carreira política. Na Convenção Nacional Democrata, em Chicago, ela aceitou oficialmente a indicação do partido para ser candidata à Presidência dos Estados Unidos na eleição de 5 de novembro.

“Em nome de todos cuja história só poderia ser escrita na melhor nação do mundo, eu aceito sua nomeação para ser presidente dos Estados Unidos”, afirmou.

Com o governador de Minnesota, Tim Walz, na vice, Kamala terá a missão de derrotar a chapa republicana formada por Donald Trump e JD Vance.

Ela abriu seu discurso com agradecimentos a familiares e ao presidente Joe Biden, a quem expressou “gratidão”. “Seu caráter é inspirador”, afirmou.

Na sequência, exaltou sua trajetória familiar – Kamala nasceu em uma família de acadêmicos imigrantes em Oakland, na Califórnia. A mãe dela, Shyamala Gopalan, era uma pesquisadora do câncer de mama nascida na Índia. Já o pai da democrata era o professor de economia Donald Harris, da Jamaica.

Também relembrou sua carreira como promotora e procuradora-geral da Califórnia.

“Nossa nação, nesta eleição, tem uma oportunidade preciosa para deixar para trás a amargura e a divisão. É a chance de construir um novo caminho. Não como membros de um partido, mas como americanos”, declarou. “Prometo ser uma presidente para todos os americanos. Podem acreditar que colocarei o país acima de partido.”

Confira outros pontos importantes do discurso:

  • Defendeu uma “transferência pacífica de poder” e foi muito aplaudida. Trump não se comprometeu a aceitar o resultado da eleição.
  • Enfatizou Trump como ameaça à democracia: “Ele não é um homem sério. Mas as consequências de colocá-lo de volta na Casa Branca são muito sérias”, afirmou. “Quando ele perdeu [em 2020], mandou uma máfia armada para o Capitólio”.
  • “Não retrocederemos”: Kamala repetiu esse slogan ao longo de seu pronunciamento. Tim Walz fez o mesmo na quarta-feira.
  • Custo de vida: este é um dos principais problemas com os quais os americanos irão às urnas. “Fortalecer a classe média será um objetivo central da minha presidência”, disse a candidata. “Criaremos uma economia da oportunidade, em que cada um tenha a chance de competir e de ter sucesso.”
  • Garantir o direito ao aborto: “Trump escolheu a dedo juízes da Suprema Corte para atacar a liberdade reprodutiva”, criticou. “Ele quer criar uma coordenação nacional antiaborto e forçar estados a reportar abortos. Eles estão loucos. Nós confiamos nas mulheres. Quando o Congresso aprovar uma lei para restaurar a liberdade reprodutiva, eu, como presidente, a sancionarei com orgulho.”
  • Imigração: um dos temas mais explorados pelos republicanos. Kamala culpou Trump por rejeitar um projeto de lei bipartidário do Congresso sobre as fronteiras e disse que o sancionaria como presidente.
  • Inteligência artificial: afirmou que os Estados Unidos não podem ficar atrás da China na competição tecnológica.
  • Guerra na Ucrânia: disse que Trump “incentivou” o presidente da Rússia, Vladimir Putin, a invadir o país vizinho. Também citou as críticas do magnata à Otan, a aliança militar ocidental.
  • Guerra em Gaza: “Biden e eu trabalhamos o tempo todo. Está é a hora de conseguir um acordo sobre os reféns e um acordo de cessar-fogo. Eu sempre estarei ao lado do direito de Israel de se defender”, declarou a democrata. “Ao mesmo tempo, o que ocorreu em Gaza nos últimos dez meses é devastador. Muitas vidas inocentes foram perdidas.”
  • A conclusão: “Vamos escrever o próximo e grandioso capítulo da maior história já contada”, disse Kamala Harris no encerramento da convenção.

O ritmo com que a campanha democrata teve de se reinventar é digno de nota: há um mês, em 21 de julho, Biden sacudiu a política norte-americana ao anunciar que não buscaria a reeleição e, logo em seguida, defender a indicação de Kamala, sua vice, para enfrentar Trump.

Nas últimas semanas, Kamala, que pode ser a primeira mulher a chegar à Casa Branca, revitalizou as bases partidárias, que temiam a derrota com Biden. Agora, segundo o portal Five Thirty Eight, a atual vice-presidente tem uma vantagem de 3,3 pontos sobre Trump na média das pesquisas.

O discurso de Kamala fechou a convenção democrata após três dias em que estrelas do partido subiram ao palco.

Na segunda-feira, foi a vez de Biden, com uma participação enérgica e firme, um contraste com as aparições públicas que levaram parte significativa do eleitorado a questionar suas condições de aguentar um novo mandato – por exemplo, no debate de junho contra Trump na CNN.

“Estão prontos para votar pela liberdade e pela democracia? Estão prontos para eleger Kamala Harris?”, perguntou. Em uma espécie de despedida, ele defendeu seu governo, lembrou o fato de ter assumido o mandato durante a pandemia, em 2021, e voltou a afirmar que Trump é uma ameaça à democracia.

Na terça, Barack e Michelle Obama empolgaram o público com apelos à esperança e à unidade. “Sim, ela pode”, afirmou o ex-presidente, adaptando o slogan que marcou sua campanha de 2008.

Na noite seguinte, o ex-presidente Bill Clinton também pediu voto em sua correligionária. “Em 2024, temos uma opção muito clara: Kamala Harris – que é alguém pelo povo – ou o outro cara, que provou que só está focado nele”.

Tim Walz foi um dos protagonistas do terceiro dia da Convenção Nacional Democrata, na quarta-feira, e aceitou formalmente ser o candidato a vice-presidente na chapa de Kamala.

“É a honra da minha vida aceitar a nomeação”, celebrou o governador. “Obrigado por sua paixão, por sua determinação e, principalmente, por trazerem alegria para esta luta.”

Na sequência, Walz listou avanços de sua gestão em Minnesota. “Enquanto outros estados baniam livros de suas escolas, baníamos a fome das nossas”, afirmou. “Também protegemos os direitos reprodutivos, porque respeitamos as decisões pessoais. Mesmo que não façamos essas escolhas para nós, temos uma regra de ouro: cuide de sua vida.”

Trump, por sua vez, atacará o direito ao aborto em todo o país, prosseguiu o candidato a vice-presidente.

“Não sei vocês, mas estou pronto para virar a página desses caras. Repitam comigo: não retrocederemos”, acrescentou Tim Walz. “Temos algo melhor a oferecer ao povo americano, e isso começa com a nossa candidata Kamala Harris.”

Em certa medida, o discurso na convenção foi uma forma de se apresentar ao país. Uma pesquisa Associated Press-NORC divulgada na quarta aponta que Walz supere Vance em aprovação popular, mas ambos têm o desafio de se tornarem mais conhecidos pelo eleitorado.

Segundo o levantamento, 36% dos adultos americanos têm uma visão favorável de Walz, enquanto 27% expressam uma opinião favorável sobre Vance. Enquanto isso, 25% têm uma visão desfavorável do democrata, índice que chega a 44% no caso do republicano.

Apesar disso, 4 em cada 10 americanos não conhecem Walz o suficiente para formar uma opinião sobre ele – no caso de Vance, são 3 em cada 10.

Aos 60 anos, oriundo do meio-oeste americano e desconhecido fora de Minnesota, Walz ostenta um currículo pouco usual, com décadas de experiência militar e experiência como professor de Geografia e treinador de futebol americano.

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Última Atualização: 23/08/2024