Na última segunda-feira, o blogue A Terra é Redonda publicou um artigo intitulado Os novos judeus, escrito pelo historiador Daniel Aarão Reis. A peça reproduz a história sob a ótica do chamado sionismo “de esquerda”, uma sequência de enganações para culpar os próprios árabes pelo genocídio do povo palestino, limpando a barra do sionismo. Dividido em três partes, o artigo se inicia de maneira típica, falando sobre o antissemitismo na Europa, a suposta – e falsa – justificativa para a criação do Estado de “Israel”.

Já antes da Guerra, procurando alternativas às discriminações, os judeus, em movimentos diversos, de distintas orientações políticas, começaram a emigrar para o território histórico de onde provinham seus ancestrais e onde viviam pequenas comunidades judaicas: a Palestina, então sob controle da Inglaterra, desde o fim da Primeira Grande Guerra, em 1918. […]

Ao longo dos anos 1920 e 1930, a convivência entre os que lá chegavam e os que já residiam no território, até então pacífica, começou a conhecer tensões e a se deteriorar, em torno de duas questões: a terra e a água, escassas na região e essenciais à sobrevivência humana. As contradições acirraram-se depois da Guerra. Tangidos pelos horrores do Holocausto e pela indiferença dos europeus, cresceu, de forma exponencial, a emigração dos judeus, interessados em construir um Estado nacional próprio, capaz de defendê-los das tradicionais – e históricas – perseguições.

Primeiro, o sionismo se originou na direita judaica, que pregava a construção de um país etnicamente judeu. Esse setor acreditava que o antissemitismo seria algo essencial a todos os povos, não podendo ser superado através do convívio com as populações diversas. É importante que se ressalte a convergência compreendida por esse setor entre a religião judaica e uma etnicidade judaica, algo falso, já demonstrado por historiadores israelenses como Shlomo Sand. Mais que isso, a emigração de países onde o antissemitismo surgia com maior força, como na Rússia czarista, não tendia a se dirigir para a região da Palestina, mas para a Inglaterra e para os EUA.

O sionismo, de início, não surte grande efeito nas próprias comunidades judaicas. Afinal, a imigração para um local economicamente atrasado, distante e diverso culturalmente, não faria sentido a pessoas na Europa, o centro do mundo no século XIX, período em que surge o sionismo.

Os sionistas empreendem um esforço concentrado, conseguindo apoio material em setores da burguesia, como o barão de Rothschild, e depois recorrendo a comunidades protestantes na Inglaterra e nos EUA para angariar apoio político a seu projeto. Outro fato importante é que os sionistas não eram religiosos, apenas utilizaram a religião como forma de propaganda para esses setores cristãos, sendo assim até hoje.

A migração para a Palestina foi organizada e patrocinada por setores da burguesia imperialista inglesa, que sentia a necessidade de estabelecer na região, estratégica, uma base social confiável, em oposição à população árabe local. Mais que isso, os sionistas num primeiro momento se integraram, porém, logo modificaram sua política.

O objetivo desde o início era a colonização da Palestina, o que era explícito por parte dos fundadores do sionismo, e pelo próprio nome das organizações que encabeçavam o empreendimento, como o Fundo Colonial Judeu, a Associação de Colonização Judaica e o departamento de colonização da Agência Judaica. A integração inicial tinha por objetivo a fixação de uma base populacional na região. Pouco após, com o crescimento da imigração, a separação se tornou norma por parte dos sionistas, seguida pela agressão contra a população árabe, em escala crescente.

Vale ainda ressaltar as articulações realizadas pelos sionistas para garantir a imigração de judeus especificamente para a Palestina, impulsionando restrições imigratórias em outros países, e negociando mesmo com as autoridades nazistas. Um último ponto que vale citar é a atuação próxima do sionismo com o fascismo de conjunto, algo notório. A participação do exército britânico na Primeira Guerra Mundial também foi algo deliberado para angariar treinamento militar para a ocupação da Palestina.

Assim, Daniel Aarão Reis coloca a imigração para a Palestina como algo que aconteceu naturalmente, e que por acaso gerou problemas por escassez de recursos, não como o que foi de fato: um plano organizado para a colonização da região e para a expulsão da população palestina, com vistas a constituir um Estado étnico.

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Last Update: 04/06/2025