O Brasil viveu um momento histórico. Jair Bolsonaro foi condenado a 27 anos de prisão, junto a cúmplices de uma trama que tentou rasgar a Constituição e ameaçar a democracia. A justiça foi feita, com amplo direito de defesa e julgamento transparente — exatamente o oposto do que eles tentaram impor ao país. O processo demonstrou que a democracia brasileira amadureceu ao submeter ao crivo da lei até mesmo um ex-presidente que buscou subverter o Estado Democrático de Direito.
Bolsonaro ficará marcado como o presidente que tentou mergulhar o Brasil no caos, mas fracassou diante da resistência do povo e da firmeza das instituições. Sua trajetória de confronto com o Supremo Tribunal Federal, com o Congresso Nacional e com a imprensa livre revelou a face mais perversa do populismo autoritário. Como alertam Steven Levitsky e Daniel Ziblatt em Como as Democracias Morrem, o desprezo pelas regras democráticas é o primeiro passo para a erosão das instituições.
Agora é tempo de reconstrução. Sob a liderança do presidente Lula, o país retoma programas de combate à fome, investe em educação e saúde, recupera a indústria, gera empregos e volta a ocupar seu lugar no cenário internacional. Em sua terceira passagem pela Presidência, Lula reassume a tarefa de unir o Brasil em torno de um projeto nacional com pilares claros: democracia, desenvolvimento sustentável e justiça social. Sua experiência e legitimidade, construídas no diálogo com o povo, são fundamentais para conduzir o país em meio às crises globais e às heranças de retrocesso deixadas pelo bolsonarismo.
Essa reconstrução é também um projeto de paz. Depois de anos em que o ódio político e a violência foram incentivados pelo governo anterior, Lula convoca a sociedade ao caminho da reconciliação nacional. Paz aqui não significa silêncio ou submissão, mas respeito às diferenças, valorização da diversidade e reafirmação da democracia como espaço de debate civilizado. O Brasil, que foi palco dos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, precisa transformar a dor em aprendizado coletivo para que a intolerância jamais volte a ameaçar o futuro da nação.
Ao mesmo tempo, Lula resgata a agenda de desenvolvimento e combate às desigualdades, recolocando o Estado como indutor do crescimento. Programas de geração de emprego, investimentos em infraestrutura, apoio à agricultura e reindustrialização demonstram que a reconstrução não será apenas institucional, mas também material. O crescimento econômico, articulado a políticas de inclusão social, deve devolver dignidade à população mais pobre, erradicar a fome e enfrentar desigualdades históricas de raça, gênero e território.
Um destaque fundamental é a valorização da agricultura. Ao mesmo tempo em que apoia o agronegócio exportador, o governo fortalece a agricultura familiar, responsável por grande parte dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. Programas de crédito facilitado, investimentos em tecnologia e políticas de compra pública — como o fortalecimento do PAA e do PNAE — estimulam a produção local, geram empregos no campo e garantem renda a milhões de famílias agricultoras. A ênfase em práticas sustentáveis e na transição energética projeta o Brasil como protagonista mundial na construção de uma economia verde e inclusiva.
Mas este é um desafio coletivo. Reconstruir exige união entre trabalhadores, juventude, empresários, intelectuais, lideranças religiosas e todos os que acreditam no Brasil. Não há espaço para neutralidade: a escolha é entre democracia e golpismo, entre avanço e retrocesso, entre um Brasil para todos e a política do ódio que divide a sociedade. Como lembra Yascha Mounk, o populismo autoritário prospera quando mina a confiança nas instituições e coloca o povo contra si mesmo. Derrotá-lo, portanto, requer coragem e unidade democrática.
O julgamento fecha um ciclo de dor e abre um caminho de esperança. É preciso transformar essa vitória institucional em vida melhor para milhões de brasileiros, garantindo direitos e ampliando a participação social. A experiência recente demonstrou que a democracia não é indestrutível e que sua defesa requer vigilância permanente. Como afirmam Levitsky e Ziblatt em Como Salvar a Democracia, a sobrevivência depende da ação corajosa de líderes e cidadãos que, em momentos de crise, escolhem a Constituição e a justiça em vez do silêncio e da cumplicidade.
O Brasil sonhado — democrático, justo, soberano e de paz — começa a se erguer agora. O povo, mais uma vez, mostra que sabe transformar justiça em futuro. Com Lula na liderança, a reconstrução reafirma a esperança como força política e a inclusão social como destino histórico.
Gleide Andrade é secretária Nacional de Finanças e Planejamento do PT
Artigo publicado inicialmente no site do Brasil 247