A Justiça de São Paulo condenou dois estudantes a pagarem R$20 mil ao professor da Unicamp Serguei Popov, em decisão que leva preocupações contra a crescente criminalização dos movimentos sociais e a restrição da liberdade de expressão dentro das universidades. O episódio remonta a 2016, quando uma greve mobilizou alunos contra os cortes orçamentários na universidade e a ausência de políticas de cotas.

Durante a mobilização, estudantes entraram em uma sala de aula do Instituto de Matemática, onde Popov tentava furar a greve e lecionar, expressando sua posição com palavras de ordem e uma batucada. O professor insistiu em continuar a aula, mas um dos alunos apagou o conteúdo da lousa, resultando em um embate sobre o direito à manifestação e o funcionamento das atividades acadêmicas durante uma greve.

O caso ganhou ampla repercussão na internet, sendo usado para atacar o movimento estudantil. Popov alegou que os estudantes agiram com desrespeito e que sua imagem foi ridicularizada publicamente, o que serviu de base para a ação judicial. No entanto, a condenação levanta questões sobre o papel da Justiça na imposição de limites às formas de protesto dentro do espaço universitário.

Os desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo decidiram responsabilizar financeiramente os estudantes e o Diretório Central dos Estudantes, em um julgamento que, segundo a defesa, teve um claro viés de repressão política. Outros alunos envolvidos foram absolvidos por falta de provas, evidenciando a fragilidade das acusações.

Os estudantes argumentaram que a ação judicial era uma retaliação contra aqueles que se destacaram no movimento grevista, principalmente os ligados ao movimento negro e estudantil. A defesa apontou ainda que a greve havia sido aprovada por ampla maioria das categorias acadêmicas e que Popov, ao insistir em lecionar durante a paralisação, desconsiderava o direito legítimo de protesto.

As alegações da defesa também levantam dúvidas sobre as circunstâncias do episódio, sugerindo que o professor já previa o confronto e teria usado o momento para expor os grevistas. Segundo os estudantes, ele utilizava fones de ouvido, indicando que não havia um ambiente de aula propriamente dito, e que sequer havia alunos na sala interessados na exposição.

A condenação dos estudantes não pode ser vista apenas como um episódio isolado, mas como parte de um movimento geral de repressão aos movimentos sociais, uma situação que a esquerda tem ajudado apoiado. A decisão judicial, ao desconsiderar a legitimidade da greve estudantil e contribui para um perigoso precedente de cerceamento da liberdade de manifestação dentro das universidades.

Há quase uma década, estudantes da Unicamp organizaram expressivas manifestações em defesa da educação pública. A greve e a ocupação da reitoria, ocorridas em maio de 2016, foram uma resposta ao plano de “contingenciamento” anunciado pelo reitor, que previa um corte de R$40 milhões no orçamento da universidade.

Os estudantes, organizados em assembleia com cerca de 1000 participantes, denunciaram os impactos severos da medida, que incluía a suspensão de concursos para professores e funcionários, redução de serviços essenciais, precarização da moradia estudantil e cortes em bolsas de permanência. Além disso, a ausência de uma política de cotas étnico-raciais foi um dos pontos centrais da mobilização, evidenciando o caráter excludente da estrutura universitária.

A reitoria alegou surpresa com a ocupação e afirmou desconhecer a motivação do ato, ignorando que a mobilização estudantil já vinha se articulando há semanas. Em resposta, os estudantes explicaram que não aceitariam calados os ataques à universidade pública e reforçaram a necessidade de união com outras instituições estaduais e secundaristas para resistir aos desmontes promovidos pelo governo.

Apesar das tentativas de repressão, como o corte de internet na reitoria e a pressão para a desocupação, a manifestação se consolidou como um marco importante da luta estudantil na Unicamp.

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Last Update: 20/02/2025