Jussara Silveira lançou Brasilin, seu décimo terceiro álbum, distribuído pela Biscoito Fino. O trabalho reúne compositores brasileiros e cabo-verdianos, concretizando uma promessa antiga da cantora de gravar canções do arquipélago africano.
“Eu ainda não havia feito isso porque é um desafio cantar em crioulo cabo-verdiano”, conta Jussara. Mas ela enfrentou a dificuldade com maestria e finalmente registrou músicas na língua, que tem o português como base.
Após conversar com o produtor do disco, Alê Siqueira, decidiu construir um repertório híbrido, com nove faixas intercalando obras de Cabo Verde e do Brasil.
O processo de interpretação
“O meu trabalho para cantar em crioulo cabo-verdiano foi a escuta. Foi a repetição do que eu ouvia com Cesária Évora, Tito Paris e Ildo Lobo”, explica Jussara.
Algumas das músicas já estavam em seu repertório de palco, como Coragem Irmon (Toy Vieira) e Mãe que Eu Nasci, versão em português de Carlinhos Brown para Direito di Nasce, do compositor cabo-verdiano Manuel de Jesus Lopes. “Quando fui gravar essa canção, quis cantar também a parte que Brown não verteu para o português”, acrescenta. O disco também inclui músicas de outros expoentes de Cabo Verde, como Pedro Cardoso Rodrigues e Manoel de Novas.
Para manter a coesão entre os dois universos musicais, Jussara escolheu composições brasileiras que dialogassem com a estética das músicas cabo-verdianas. Um exemplo é Não Acorde o Neném (Domenico Lancellotti e Moreno Veloso), que conta com a participação das Ganhadeiras de Itapuã. Outro é Pescador (Sergio Cassiano), originalmente uma ciranda pernambucana, que fecha o álbum.
A voz como fio condutor
Jussara contou com o apoio de grupos cabo-verdianos para aprimorar sua interpretação no crioulo. Sua voz, reconhecida pela clareza e pela precisão, foi essencial para consolidar o conceito do disco.
No repertório, há também Pavão Mysteriozo (Ednardo), uma escolha que pode soar destoante, mas que a cantora considera necessária. “Ela foge um pouco da estética do álbum, mas ficou na minha cabeça durante a pandemia. Diante das inúmeras mortes e do descaso com as vacinas, essa música reforçava a coragem em meio à adversidade —como foi para Ednardo, que a compôs sob a ditadura.”
A primeira faixa do disco, Musa da Música (Dante Ozzetti e Luiz Tatit), sintetiza o espírito do projeto:
Musa da música / Mãe das Américas / Filha da África fé.
Jussara Silveira tem apresentado o repertório de Brasilin no palco da Casa da Mãe, no Rio Vermelho, em Salvador. Seu próximo show acontece em 20 de fevereiro.
Assista à entrevista de Jussara Silveira a CartaCapital: