O Banco Central divulgou nesta segunda-feira (15) que o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) recuou 0,5% em julho, na comparação com junho. Foi a terceira queda mensal consecutiva, confirmando que a economia entrou em trajetória de desaceleração. O tombo veio mais forte do que o esperado pelo mercado, que projetava contração de 0,2%.

Por trás do resultado está um quadro preocupante: todos os setores apresentaram retração — agropecuária (-0,8%), indústria (-1,1%) e serviços (-0,2%). O sinal é claro: a engrenagem produtiva do país já roda em marcha lenta.

Na comparação com julho de 2024, houve crescimento de 1,1%, mas o dado não dessazonalizado ainda esconde a perda de fôlego no curto prazo. No acumulado em 12 meses, o índice mostra alta de 3,5%, reflexo do bom desempenho do primeiro semestre.

Governo avança, mas juros anulam estímulos

Enquanto o governo tenta reativar a economia com crédito subsidiado, investimentos em infraestrutura e programas de aumento de renda, a Selic a 15% age como freio de mão puxado. A taxa, a mais alta em quase 20 anos, restringe o consumo das famílias, encarece o financiamento das empresas e bloqueia investimentos privados.

A Fazenda, que em julho projetava expansão do PIB em 2,5%, já reduziu a previsão para 2,3%. O mercado financeiro está ainda mais pessimista: aposta em apenas 2,16% de crescimento em 2025, contra os 3,4% registrados no ano passado.

A justificativa do BC e o custo para o país

O resultado chega às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve manter a taxa Selic em 15% ao ano — o maior patamar em quase duas décadas. O BC justifica a decisão pelo risco de inflação persistente e pela necessidade de “moderar” o ritmo da economia.

O Banco Central insiste que manter a economia em marcha lenta é “necessário” para controlar a inflação. O argumento é que o chamado hiato do produto — a diferença entre o que o país pode produzir e o que de fato produz — ainda é positivo, o que justificaria juros elevados por um longo período.

Na prática, porém, a estratégia significa sacrificar setores produtivos inteiros, retardar a geração de empregos de qualidade e adiar investimentos que poderiam aumentar a capacidade industrial e agrícola do país. É uma política de contenção que cobra caro da sociedade.

A sinalização é de que os juros devem permanecer altos por um período prolongado, com cortes apenas em 2026, segundo projeções do mercado financeiro. A estratégia, no entanto, cobra preço imediato em consumo, crédito e investimento.

Impacto político e econômico

Embora o mercado de trabalho ainda mostre resiliência, com desemprego em níveis historicamente baixos, a tendência é de enfraquecimento caso a política de juros não mude. O Brasil corre o risco de perder um ciclo de crescimento que poderia ser impulsionado por investimentos públicos e privados já anunciados, mas travados pela falta de crédito acessível e endividamento das empresas, das famílias e do próprio Tesouro Nacional.

O governo, ao ampliar linhas de financiamento e apostar em infraestrutura, tenta criar as condições para aumentar a produtividade. Mas a política monetária atua na direção oposta: esvazia o consumo, reprime a produção e desestimula o investimento. Simultâneo a isso, os ricos especuladores se beneficiam de um sistema financeiro baseado em ótima oferta de juros sobre aplicações.

O dilema brasileiro: crescimento ou estagnação

O resultado é um impasse: o país tem capacidade produtiva, condições fiscais mais organizadas e programas de estímulo em andamento, mas está paralisado pelo peso dos juros. Se a Selic permanecer em 15% até 2026, como projetam os bancos, o Brasil corre o risco de viver um longo período de baixo dinamismo, desperdiçando oportunidades e mantendo a população refém de uma economia travada.

A queda do IBC-Br é mais do que um dado estatístico: é o retrato de um país que tenta avançar, mas que insiste em manter o pé no freio.

Na prática, o governo enfrenta dificuldade em transformar avanços fiscais e programas de estímulo em crescimento sustentável, já que a política monetária atua como trava. A economia brasileira caminha, assim, em um cenário de baixo dinamismo, onde cada avanço dependerá de disputas entre as agendas de estímulo e contenção.

Juros altos: teoria x realidade

O que diz o Banco Central

  • Controle da inflação: Juros elevados reduzem o consumo e o crédito, evitando pressões sobre os preços.
  • Hiato do produto positivo: A economia estaria operando acima do seu potencial, o que exigiria moderação.
  • Estratégia de longo prazo: Manter a Selic em 15% seria necessário até 2026 para garantir convergência da inflação à meta de 3%.

O que acontece na prática

  • Consumo retraído: Famílias deixam de comprar a prazo, o comércio perde fôlego e a produção cai.
  • Investimento travado: Empresas desistem de ampliar fábricas ou inovar, já que o crédito fica caro e escasso.
  • Impacto no emprego: A criação de postos de trabalho tende a enfraquecer, com risco de precarização.
  • Contradição com políticas públicas: Enquanto o governo injeta crédito e renda, a Selic anula os estímulos, mantendo a economia em compasso de espera.

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Last Update: 15/09/2025