O aumento dos juros iniciado em 2024 virou um peso extra nas costas das empresas brasileiras. Um estudo da consultoria A&M Performance mostra que, até 2030, os gastos a mais podem somar R$ 126 bilhões — e só neste ano o impacto já passa dos R$ 25 bilhões. O levantamento analisou 3.780 dívidas de empresas que atuam no mercado e aponta um cenário preocupante para o futuro dessas companhias.

Segundo a pesquisa, 4 em cada 10 empresas já gastam mais com juros do que conseguem gerar de caixa, e esse número deve aumentar. Para o mercado, isso significa que muitas estão devendo mais do que conseguem pagar com segurança. Outro dado significativo aponta que 62% devem ter dificuldade para renegociar suas dívidas nos moldes atuais.

A principal razão desse quadro é o atual patamar da Selic, que chegou a 14,25% em março. A taxa mais alta encarece o crédito e reduz a capacidade das empresas de investir e crescer. 

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Momento delicado

“Estamos talvez em um dos piores momentos dos últimos quatro anos. Temos indícios de que a situação vem se agravando”, afirma Guilherme Almeida, sócio-diretor da A&M. “As empresas vieram de uma pandemia, depois houve uma primeira onda de alta de juros. Mesmo fazendo diversos deveres de casa, as empresas estão fragilizadas na média. Com esse novo aumento dos juros, há necessidade de um trabalho para esticar ao máximo essa dívida, gerar caixa e conseguir cumprir com as obrigações.”

Apesar dos sinais de alarme, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta terça-feira (29) que as expectativas de inflação seguem “bastante desancoradas”, sinalizando que o ciclo de aperto monetário ainda está longe do fim. Isso é uma má notícia para as empresas, especialmente em setores como indústria, materiais, tecnologia, telecomunicações e consumo. Embora este último esteja em recuperação, a herança da crise ainda pesa.

Em vídeo compartilhado pelas redes sociais do PT no Senado, Jacques Wagner, líder do governo na casa, critica o atual patamar da Selic. Segundo o senador, ao trabalhar com perspectivas futuras, o mercado financeiro “luta contra a realidade” do país. 

Casos se multiplicam

Diante do quadro, as empresas brasileiras – incluindo as grandes – já começam a enfrentar dificuldades financeiras. Para manter as contas em dia, muitas têm recorrido à venda de ativos e cortes de gastos. A Braskem, por exemplo, terminou 2024 com dívidas muito acima do que consegue gerar de caixa. Já a Cosan se desfez de parte de sua participação na Vale e pode abrir mão de outros negócios. 

A CSN também busca equilibrar suas contas, tentando reduzir o endividamento com a venda de ativos e a busca de novas parcerias, enquanto o Grupo Pão de Açúcar aposta na recuperação do consumo, mas não descarta recorrer a demissões.

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O cenário é preocupante. O aperto financeiro pode provocar uma reação em cadeia, afetando fornecedores, empregos e investimentos. O risco é de um efeito dominó que comprometa o desenvolvimento do país.

Empresas que sobrevivem desse modo, vendendo ativos e cortando custos para pagar dívida, estão em modo de resistência — não de crescimento. O crédito caro retira da economia exatamente o que ela mais precisa para avançar.

Da Redação

 

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Last Update: 29/04/2025