O fundador do Wikileaks, Julian Assange, reapareceu em um evento público internacional nesta terça-feira, 20, durante o Festival de Cinema de Cannes, na França. Assange participou da estreia do documentário The Six Billion Dollar Man, que retrata sua trajetória e os anos em que esteve detido por ordem judicial.
Durante o evento, ele chamou a atenção ao usar uma camiseta com os nomes de 4.986 crianças palestinas mortas em ataques israelenses na Faixa de Gaza. Na parte de trás da vestimenta, lia-se a frase “Pare Israel”.
A exibição do documentário no festival foi a primeira aparição pública de Assange desde sua libertação em junho de 2024. O filme, dirigido pelo cineasta norte-americano Eugene Jarecki, apresenta a trajetória do fundador do Wikileaks desde a criação da plataforma até os processos judiciais enfrentados por ele em diversos países. Jarecki, conhecido por trabalhos como O Rei (2018), sobre Elvis Presley, já havia recebido reconhecimento no Festival de Cannes com o primeiro Globo de Ouro concedido a um documentário.
A participação de Assange ocorreu cerca de um ano após sua libertação, negociada por meio de um acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
Pelo pacto, ele se declarou culpado de divulgar informações sigilosas de interesse militar, em troca da liberdade e do encerramento do processo judicial que se estendia há mais de uma década.
Assange cumpria pena na prisão de segurança máxima de Belmarsh, no Reino Unido, desde 2019, após ser retirado da embaixada do Equador em Londres, onde havia vivido por sete anos sob asilo diplomático.
Durante o festival, também esteve presente o ex-presidente do Equador, Rafael Correa, que concedeu asilo político a Assange em 2012, no auge da ofensiva judicial internacional. Correa acompanhou a exibição do documentário no tapete vermelho e permaneceu ao lado do jornalista ao longo do evento.
O gesto de protesto realizado por Assange com o uso da camiseta atraiu atenção internacional. A peça trazia os nomes de milhares de crianças palestinas que, segundo fontes citadas por veículos como o Brasil de Fato, morreram em ações militares de Israel na Faixa de Gaza.
A inscrição “Pare Israel” nas costas da camiseta foi interpretada como crítica direta à atuação do governo israelense em meio à escalada do conflito no território palestino.
A manifestação ocorre em um momento de crescente atenção internacional à situação humanitária em Gaza. O conflito entre Israel e grupos armados palestinos já resultou em milhares de mortes e tem provocado reações em fóruns diplomáticos e culturais ao redor do mundo.
A participação de Assange no festival reforçou esse debate, associando sua imagem à denúncia de violações de direitos humanos.
Julian Assange esteve no centro de um dos maiores casos de divulgação de documentos confidenciais da história recente. Por meio do Wikileaks, sua organização publicou uma série de arquivos classificados dos governos dos Estados Unidos e de outras nações, revelando operações militares, correspondências diplomáticas e ações encobertas no contexto da chamada “guerra ao terror”. Entre os materiais divulgados, destacam-se registros de abusos cometidos por tropas americanas no Iraque e no Afeganistão.
A atuação de Assange rendeu reconhecimento de defensores da liberdade de imprensa, mas também gerou intensas reações dos governos envolvidos.
Ele foi acusado pelas autoridades norte-americanas de colocar em risco a segurança nacional e por anos enfrentou processos que pediam sua extradição para os Estados Unidos. Em paralelo, foi alvo de um processo judicial na Suécia, onde respondia a acusações de agressão sexual, posteriormente arquivadas.
A permanência de Assange na embaixada equatoriana em Londres, sob proteção diplomática, foi encerrada em 2019, quando o governo do Equador revogou o asilo. Ele foi então preso pelas autoridades britânicas e permaneceu detido até o acordo com a Justiça americana, formalizado em 2024.
A exibição de The Six Billion Dollar Man em Cannes marca o retorno de Assange ao cenário público e sua tentativa de reconstruir a imagem diante da opinião pública internacional. O documentário, além de recontar sua história, busca lançar luz sobre o impacto das ações do Wikileaks e os desdobramentos políticos e jurídicos de seu caso.
A escolha de Cannes para a estreia do filme insere a narrativa de Assange em um dos principais palcos da indústria cinematográfica global. O festival, conhecido por reunir personalidades do cinema, da política e da imprensa internacional, foi utilizado como espaço de divulgação da obra e de protesto.
Não houve registro de pronunciamentos oficiais do governo israelense sobre o protesto realizado por Assange no evento. O gesto, no entanto, reverberou em redes sociais e veículos internacionais, reacendendo discussões sobre a situação em Gaza e a atuação de figuras públicas no debate sobre conflitos armados e violações de direitos civis.
A presença de Assange no festival e o teor do documentário indicam uma nova etapa de atuação pública após mais de uma década de reclusão. A abordagem de temas como liberdade de expressão, perseguição política e direitos humanos deve continuar pautando a trajetória do fundador do Wikileaks no cenário internacional.