Venezuelanos jovens impulsionam revolução socialista; eleições são prova de fogo

Liderada por jovens como a deputada Grecia Colmenares, Revolução Bolivariana na Venezuela tem nas eleições deste domingo (28) um teste crucial: “Devemos ser garantidores da revolução da nossa época”, afirma

Por Vanessa Martina-Silva, de Caracas, para a ComunicaSul

Dizer que o tempo histórico difere do humano seria o óbvio ululante.

Mas como dimensionar 25 anos de uma revolução? Seria uma jovem ou uma senhora?

Talvez exista mais consenso em dizer que um governo de 25 anos é obsoleto e até antiquado.

Onde então situar a Venezuela bolivariana? Como uma jovem revolução ou um velho e desgastado governo?

Quem nos ajuda a compreender melhor esse dilema é a jovem deputada Grecia Colmenares, secretária-geral da Juventude do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), cujo líder, Nicolás Maduro, disputa pela segunda vez a reeleição.

Ela explica que o país se encontra em uma nova etapa de transição ao socialismo, na qual a juventude é protagonista.

Com a desenvoltura de quem maneja a comunicação, as redes sociais e as estruturas partidárias, Colmenares defende a revolução socialista bolivariana do século 21, liderada por Maduro, como uma luta contra o neoliberalismo, “que oprime os povos e prejudica a Mãe Terra e as mulheres”.

Uma transformação que promove uma nova visão econômica baseada no ganha-ganha, em oposição ao modelo dos Estados Unidos, que se posicionam como polícia do mundo, intervindo em outros países.

Esse modelo, no entanto, está em risco.

Neste domingo (28), caso a oposição vença as eleições, a jovem deputada prevê “caos e violência”.

Na Venezuela, a Revolução se sustenta à base de mobilização popular e processos eleitorais. Foram 30 em 25 anos. Já a oposição tem como principais expoentes figuras totalmente antidemocráticas.

“Em 2014 e 2015, contrataram mercenários e incitaram violência paramilitar em Táchira”, seu estado natal, lembra.

Para a liderança, “a vitória da oposição entregaria o país a interesses estrangeiros, sem senso de pertencimento à Venezuela, e priorizaria privilégios, privatização e entreguismo. Líderes como Maria Corina Machado pediram sanções contra o país, resultando em violência e caos, truncando o futuro de uma geração que aprendeu sobre democracia participativa e tem direitos estabelecidos. A vitória da oposição significaria um retrocesso para um mundo de privatização, violência e entreguismo”, resume.

Neste domingo (28), venezuelanos e venezuelanas decidem qual será o futuro do país. Para entender esse cenário, confira a entrevista com Grecia Colmenares.

Vanessa Martina-Silva: Para começar, gostaria que você nos contasse um pouco sobre sua trajetória, como você se tornou deputada e como a deputada mais votada.

Grecia Colmenares: Nasci em Táchira, na fronteira com a Colômbia, e desde jovem me interessei por atividades sociais, inspirada pelo comandante Chávez. Estudei em um colégio de freiras e considerei a vida religiosa, mas aprendi com [o ex-presidente Hugo] Chávez que a luta pelas pessoas é um ato de justiça, não de caridade.

Militei na Organização Bolivariana Estudantil e depois na juventude do PSUV, onde passei por várias instâncias até liderar a juventude no estado Táchira.

Fui eleita deputada à Assembleia Nacional e, durante a renovação do partido, nomeada secretária-geral da Juventude do PSUV, o maior partido da Venezuela e um dos maiores do mundo em número de militantes.

Foto: Grecia Colmenares / X

É muito interessante esse tema da renovação do partido, porque vemos muitas vezes que as esquerdas em outras partes têm esse problema geracional. Pode me contar um pouco mais sobre esse processo? Sobre como o PSUV trabalha para trazer a juventude para dentro de si? Realmente os jovens têm voz dentro do partido?

Uma das consignas principais do nosso partido é experiência e juventude. O PSUV é jovem desde a sua criação. Quem começou com a rebelião militar [refere-se à tentativa de golpe de Estado comandada por Chávez em 1992] foi nosso comandante Chávez com uma grande quantidade de jovens militares.

Nos reunimos mensalmente com a Direção Nacional do partido e estamos presente em cada uma das 46 mil comunidades do país. Temos voz ativa em todas as instâncias do partido e da organização social, política e econômica do país.

Todos os jovens maiores de 15 anos podem se inscrever e se tornar militantes ativos do PSUV, com representação a nível estadual, municipal e paroquial. Para as eleições de domingo (28), a juventude teve que postular jovens em cada centro e em cada mesa eleitoral.

O trabalho com o partido sempre foi de unificar a experiência e trazer a alegria e o espírito da juventude, que é essencial para levantar a voz quando algo não está sendo feito corretamente.

O partido incentiva os jovens a estarem sempre ativos. Jovens acima de 15 anos podem decidir sobre o que acontece em suas comunidades, escolas e universidades, mostrando seu protagonismo em todos os níveis.

Você fala muito de revolução. Gostaria de entender um pouco como é essa questão na Venezuela porque muitos jovens consideram que comunismo e socialismo ficaram no século 20. Como é para você pensar em revolução? Ela é comunista, socialista, chavista?

O conceito de revolução é mudança, transformação. Na Venezuela, passamos por muitos processos desde que Chávez convocou o povo para uma revolução há 25 anos.

Em 2024, sentimos essa chama mais viva do que nunca com as “7 transformações rumo a 2030” propostas pelo presidente Maduro.

Temos um plano que nos fala sobre a revolução duradoura no tempo, chamada Nova Etapa de Transição ao Socialismo. Ela tem a juventude como protagonista. Maduro nos convocou a dominar as redes sociais e a tecnologia, e a ensinar e aprender com as gerações mais velhas. Ele nos incentivou a utilizar todos os mecanismos de informação e comunicação.

Recentemente, tivemos uma reunião com o presidente, onde ele nos lembrou que a revolução é contínua e se adapta aos novos tempos. Nos contou que, quando era jovem, ia às ruas lutar por coisas que hoje são realidade na Venezuela.

Por isso, nós, jovens, devemos ser garantidores da revolução da nossa época, porque a revolução não é algo estático, está constantemente se movendo.

Hoje temos consciência de que a revolução é transversal. Envolve lutas em favor da Mãe Terra e da mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Também inclui o protagonismo da mulher e a inclusão como elementos fundamentais para o avanço da sociedade. Nossa luta é de classes, conectando-nos com nossa história e nossos povos originários.

Esta história nos mantém firmes, sobre ombros de gigantes, de homens e mulheres que deram suas vidas para que hoje a Venezuela seja o que é. A revolução bolivariana é a concretização de todas as lutas passadas e a perspectiva que abrimos para o futuro. Imaginar a revolução bolivariana é falar da nossa história e imaginar nosso futuro.

Como vocês conseguem se comunicar com essa juventude e explicar o que é a Revolução Bolivariana a eles que não viram os governos anteriores a Chávez? Muitas vezes nem mesmo o governo de Chávez, porque eram muito jovens. Como convencê-los de que a transformação é com Nicolás Maduro, que faz parte de um governo há 25 anos no poder?

Esse é o nosso desafio diário. Conversamos muito com a juventude venezuelana, porque a oposição tenta impor o discurso da mudança, mas representa um modelo capitalista e neoliberal que sempre busca concentrar recursos nas mãos de poucos, enquanto a maioria vive em condições precárias.

Discutimos como a revolução e o presidente Nicolás Maduro significam mudança e transformação, incorporando todos ao projeto de país e alcançando a maior soma de felicidade possível, porque Simón Bolívar dizia isso, que o melhor governo é o que garante a maior soma de felicidade.

Então o socialismo bolivariano, representado por Maduro, é a verdadeira mudança, promovendo uma nova organização do poder popular e lutando contra o neoliberalismo, que oprime os povos e é prejudicial à Mãe Terra e às mulheres.

Nosso presidente representa um projeto novo, em jogo não só na Venezuela, mas no planeta inteiro.

Defendemos uma nova visão econômica, uma nova e forma de integração global, baseada no ganha-ganha e não em uma polícia do mundo, como os gringos pensam ser, querendo ter o controle de tudo. Oferecemos o novo e ele é o socialismo bolivariano.

É sempre complexo manter viva a mensagem entre os jovens, especialmente com as redes sociais com toda sua carga negativa promovendo anti-valores como consumismo e imediatismo. Jovens na Venezuela são bombardeados com a ideia de que, se não têm uma casa ou carro aos 20 anos, não estão alcançando nada e devem deixar o país. Esse bombardeio midiático afeta diariamente a juventude.

Então, nosso trabalho é constante e permanente, difundir tudo o que aprendemos geração após geração.

Há uma juventude consciente, com muitos líderes em salas de aula e territórios que conhecem a história e contrastam com o presente. Isso mostra que estamos avançando para um país diferente, que convoca o novo.

Muitos jovens venezuelanos emigraram para outros países justamente para “ter futuro, fazer futuro”. Como você vê o futuro da Venezuela para os jovens se a oposição ganhar?

Essa é uma pergunta difícil, porque os planos da oposição sempre foram os mesmos. Em 2015, quando ganharam a maioria dos deputados na Assembleia Nacional, tentaram privatizar a Misión Vivienda Venezuela, um programa que entrega casas para as famílias mais vulneráveis.

Isso mostra o que a oposição faria hoje. Vemos exemplos na Argentina com [Javier] Milei, em El Salvador com [Najeeb] Bukele e no Equador, onde situações de violência se desencadearam.

“Oposição prioriza os privilégios, a privatização e o entreguismo, resultando em violência e caos. Isso trunca o futuro de uma geração que tem aprendido sobre democracia participativa e que tem seus direitos estabelecidos constitucionalmente”. Foto: Vanessa Martina-Silva

Se a oposição vencer, vemos um cenário de caos e violência. Em 2014 e 2015, contrataram mercenários para incendiar o país. Na fronteira venezuelana, em Táchira, vivi de perto a violência paramilitar.

A vitória da oposição seria um passo imediato para a entrega do país aos interesses estrangeiros, como sempre fizeram. Eles não têm senso de pertencimento à Venezuela. Eles pediram sanções contra o país.

A primeira ação de uma das grandes líderes da oposição venezuelana [Maria Corina Machado] logo que a Venezuela foi declarada como uma ameaça inusual aos EUA [durante governo de Barack Obama] foi, ano após ano pedir sanções para a Venezuela. Se apresentou como porta-voz do Panamá para falar sobre a situação da Venezuela [na OEA].

Então a oposição prioriza os privilégios, a privatização e o entreguismo, resultando em violência e caos. Isso trunca o futuro de uma geração que tem aprendido sobre democracia participativa e que tem seus direitos estabelecidos constitucionalmente. A vitória da oposição significaria um retrocesso, significaria entrarmos em um mundo de privatização, violência e entreguismo.

Há alguns dados que dizem que a economia venezuelana vai crescer este ano, que Maduro conseguiu conter a inflação. Então, como você vê o futuro para a juventude?

Desde 2015, temos vivido momentos muito complexos devido à situação econômica e ao bloqueio financeiro. Tivemos que resistir junto com nossas famílias às sanções, o que dificultou até mesmo o acesso à comida. Trazer alimentos para a Venezuela exigia uma triangulação por quase todos os países do continente.

Hoje, 98% da comida distribuída pelo sistema Clap é de produção nacional. Isso reflete a nova visão da Venezuela, com jovens produzindo no campo, focados na profissionalização, ciência e tecnologia. Em 2024, 97% dos produtos são feitos e processados no país, resolvendo o problema da alimentação.

Nosso país, com as maiores reservas de petróleo do mundo, precisava diversificar a economia. Chávez fez grandes esforços para isso, e Maduro continua essa missão. Enfrentamos uma etapa de violência psicológica diária, com tentativas de controle econômico externo. Hoje, temos uma recuperação econômica.

Falar de empreendedorismo é comum entre os jovens, que contribuem para a produção nacional e a economia coletiva. Vemos um aumento na produção e estabilidade na inflação e controle cambial. Nossos jovens se organizam em grupos de pesquisa científica, trabalhando para o futuro do país.

Esse plano comove a todos como jovens líderes e enche de orgulho o povo venezuelano. Estamos construindo um futuro brilhante, renascendo em meio às dificuldades, como disse Maduro, com o valor próprio do povo venezuelano. A economia é outra e a paz é uma realidade. Com nosso esforço, estamos desenvolvendo um país mais consciente e produtivo.

Como deputada, quais são, ou qual é o projeto que está defendendo na Assembleia?

Estou na comissão de Educação, Saúde, Ciência, Tecnologia e Inovação, onde trabalhamos em diversos projetos.

Aprovamos a lei para a participação estudantil, que garante que a voz dos jovens nunca mais será silenciada.

Estamos trabalhando em projetos de lei relacionados aos valores e educação em espaços públicos, além de atualizar leis na área da saúde, como a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Também aprovamos leis para o uso inclusivo da linguagem.

Após 28 de julho, queremos discutir novos projetos de lei, como a grande Missão Venezuela Jovem, que pretende abranger todas as políticas públicas para a juventude. A juventude é protagonista na Venezuela, e no parlamento somos mais de 80 deputados jovens, mostrando nossa ação e participação.

Por fim, como mulher e jovem, como vê e o que estão fazendo sobre a questão da violência machista, transversal a todos nossos países latino-americanos?

Na área legislativa, temos leis importantes contra discriminação e violência à mulher, tipificando vários tipos de violência. Essas leis foram recentemente reformadas e adaptadas.

As mulheres venezuelanas têm se organizado de várias formas, ocupando liderança em muitos aspectos. Por exemplo, 70% dos líderes nas comunidades do PSUV são mulheres.

A grande Missão Venezuela Mulher foi lançada para atender a mulher em todos os aspectos, promovendo empreendedorismo e independência. Hoje, 45% dos deputados na Assembleia Nacional são mulheres, o que reflete a nossa participação e protagonismo.

Há algo mais que gostaria de dizer?

Estamos preparados como jovens venezuelanos para os desafios de 2024 e do futuro. Queremos fazer um mundo diferente, e sabemos que isso é possível.

Com nossas próprias mãos, construímos o futuro nos últimos 25 anos e podemos contribuir com a humanidade inteira, para um outro mundo possível, que seja melhor.

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Última Atualização: 28/07/2024