O deputado federal bolsonarista Carlos Alberto Pereira, candidato à prefeitura de Campo Grande, mudou de raça e de cor de 2022 para cá.
Há dois anos, o tucano se declarou branco à Justiça Eleitoral. Já em sua inscrição para concorrer a prefeito de Campo Grande neste ano, declarou-se pardo.
É possível que o candidato tenha, neste intervalo de dois anos, refletido sobre suas raízes, seus antepassados e identidade racial. Também é possível que a alteração tenha origem em questões mais práticas, já que, em 2022, foi alterada a norma brasileira sobre distribuição de recursos públicos para campanhas eleitorais.
Atualmente, candidaturas de pessoas pardas ou negras recebem uma cota extra de recursos financeiros do Fundo Eleitoral. Além disso, a separação de tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV privilegia os partidos com maior número de candidaturas negras ou pardas.
A designação “pardo” corresponde às pessoas que possuem pais ou antepassados de diferentes etnias. Abaixo, a imagem de Pereira com seu pai.
Abaixo, está Carlos Alberto Pereira e sua mãe.
Na realidade, o fato de Pereira ter se tornado pardo de 2022 para cá causou surpresa em Campo Grande e em sua família. O candidato costuma vangloriar-se de seu trisavô, José Antônio Pereira, que seria fundador da capital de Mato Grosso do Sul.
Morto em 1900, não há imagens fotográficas do pioneiro, mas o quadro que consta em museu na cidade que leva seu nome é este reproduzido abaixo.
De acordo com a história oficial, o trisavô de Pereira, em 1872, acompanhado de dois filhos e dezenas de escravos e negros libertos, saiu de Monte Alegre, Minas Gerais, atravessou o rio Paranaíba e seguiu até a região da atual Campo Grande, que fez crescer os olhos do explorador, pela fertilidade dessas terras, a amenidade do clima, boas pastagens e muita água. José António Pereira resolve não prosseguir viagem e iniciar uma roça, dando origem a Campo Grande.
É essa a história oficial, que o pardo Carlos Alberto Pereira sempre conta. A historiografia moderna, porém, reconhece que, no local onde chegou o ascendente do candidato, já haviam ali núcleos de famílias negras vivendo em pequenas comunidades, em prosperidade e longe do jugo da escravidão, então ainda vigente no país.
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Seja lá como for, Carlos Alberto Pereira tem uma vida inteira desfrutada no seio de uma família de elite de Mato Grosso do Sul, descendente de fazendeiros escravagistas. Desde 2002, ele passou a se sentir pardo, alterando sua autodeclaração à Justiça. Que seja uma tardia homenagem àqueles que chegaram a Campo Grande antes de seu trisavô.
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