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São Tomás de Aquino afirma que uma das formas de mentira é contar apenas parte da verdade. De fato, há duas formas de notícias falsas, a mentira propriamente dita e a narrativa manipuladora, na qual uma parte da verdade serve de álibi para uma interpretação mentirosa.
As redes sociais alimentam-se de mentiras e de narrativas mentirosas. Por isso mesmo, o único diferencial das veículos de mídia é o filtro, a checagem. E isso em um país em que 46% dos brasileiros não sabem identificar as fake news, conforme reportagem da GloboNews.
Por outro lado, nos últimos tempos, o canal tentou dar um pouco de diversidade aos seus comentaristas. Contratou bons nomes, abriu espaço para bons jornalistas que andavam escondidos e que passaram a trazer luzes sobre o discurso da ultradireita. Ao mesmo tempo, reforçou o time da ultradireita, com Demétrio Magnolli e, agora, o inacreditável Joel Pinheiro da Fonseca, um bravo defensor do comércio de órgãos humanos. E tem também o pensamento conservador consistente de Fernando Gabeira.
Agora, vamos a uma lição em poucos capítulos sobre como criar uma fake news.
Começa com a meia verdade de Magnolli:
O tal Acordo de Barbados foi liderado pela Noruega, com o apoio de muitos países, inclusive o Brasil e os Estados Unidos. Visava pacificar a Venezuela depois da tentativa de golpe de estado que mandou inúmeros conspiradores para a cadeia.
O acordo previa a libertação dos prisioneiros e a convocação de novas eleições, simples assim.
Qual é o truque de Magnolli:
- O acordo – apoiado pelo Brasil – propôs novas eleições.
- As eleições foram manipuladas, segundo os dados da oposição. Logo, o Brasil (e os Estados Unidos) apoiaram o acordo de uma eleição que, quando realizada, foi apontada (pela oposição) como manipulada.
Ou seja, utilizou uma informação verdadeira – a de que o Brasil apoiou o acordo – para uma conclusão falsa – a de que o acordo foi responsável pela eleição falsa. Sem o acordo, não haveria sequer eleições e Demétrio ficaria sem álibi para espalhar suas narrativas.
Dado o tiro de partida, entram em cena os disseminadores de fake news – perfis, verdadeiros, falsos ou irrelevantes – que tratam de multiplicar a mentira.
Ou um jornalista venezuelano.
Ou um ex-político de terma único.
E os anônimos em geral.
Aí pergunto: empresas modernas têm departamento de compliance, ouvidoria e outras formas para garantir a qualidade dos produtos e impedir o uso espúrio da estrutura.
Por que uma empresa com a dimensão da Globo não tem seu ouvidor, seu ombudsman? Por que se permite manipulações dessa natureza, que compromete o canal como um todo, apesar da qualidade de parte de seus comentaristas.
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