Palavras como “tragedia”, “destruição” e “genocídio” geralmente transmitem mais emoção do que informação”, escreveu a editora de padrões do New York Times, Susan Wessling, em um memorando de novembro de 2023 para a equipe do “jornal de referência”. Já havia mais de um mês de guerra entre EUA e Israel contra Gaza. Mais de 10.000 palestinos haviam sido martirizados pelas forças de ocupação. O Congresso havia votado para enviar dezenas de bilhões a mais em ajuda militar letal à entidade sionista. Wessling acrescentou: “Pense bem antes de usar [palavras como ‘tragedia’] em nossa própria voz.”
Por que os funcionários do NYT foram instruídos a “pensar bem” sobre transmitir “mais emoção do que informação”? Wessler não especificou. Mas nada neste memorando era novo; eram uma série de lembretes implícitos. Pense bem sobre qual narrativa você está construindo. Quem são seus chefes. Quem é seu presidente. Quem seus chefes e seu presidente dizem que é o inimigo.
Como qualquer pessoa que passou tempo na redação nos últimos 18 meses sabia bem, o The New York Times não tem escrúpulos em condenar emocionalmente os crimes de guerra cometidos pelos inimigos do império dos EUA.
A Ucrânia e Gaza não são paralelos históricos perfeitos. Mas a invasão russa da Ucrânia ainda fornece um ponto de comparação útil para a guerra genocida de “Israel” em Gaza. Ambas ocuparam a atenção da imprensa por meses a fio, e ambas representam lutas profundamente envolvidas no império dos EUA. (O argumento de que há uma falha nos paralelos porque Gaza “começou” em 7 de outubro só se sustenta se se ignorar a expulsão forçada, o apartheid e a ocupação impostos aos palestinos pelos sionistas no último século).
A Rússia é uma ameaça demonstrável aos interesses da política externa dos EUA, e, como tal, o NYT apresenta suas ações nos termos mais duros possíveis, enquanto exalta os ucranianos que resistem à invasão russa como defensores da linha de frente do modo de vida ocidental. (E, claro, os EUA e a OTAN têm responsabilidade por propor um caminho para a adesão da Ucrânia à OTAN, uma medida que sabiam que provocaria a Rússia — enquanto, ao mesmo tempo, atrasavam essa adesão para evitar responsabilidade direta pela defesa da Ucrânia se e quando a Rússia invadisse. Os ucranianos foram colocados no meio dessa sangrenta disputa geopolítica).
Em contraste, “Israel” é o aliado mais próximo dos Estados Unidos no Oriente Médio e tem atuado como um força de procuração para seus interesses regionais por décadas. Os Estados Unidos têm um interesse investido em sustentar e defender o projeto sionista — um projeto que exige o apagamento físico e cultural dos palestinos. E meios de comunicação ocidentais tradicionais, como o NYT, usam obedientemente suas páginas para lavar esse interesse.
Através de uma pesquisa de todos os artigos que o NYT escreveu durante os primeiros seis meses da invasão russa da Ucrânia (e vários além desse ponto), os Writers Against the War on Gaza / The New York War Crimes conduziram um estudo qualitativo comparativo da cobertura do The New York Times da operação russa na Ucrânia com sua cobertura da guerra genocida de “Israel” em Gaza.
Nós separamos este estudo em quatro seções: Crimes de Guerra; Resistência; A Ucrânia Precisa de Armas!; e Cultura. Cada seção demonstra um contraste entre a cobertura da invasão da Ucrânia pela Rússia e a guerra genocida de “Israel” em Gaza.
A cobertura do NYT condena consistentemente os supostos crimes de guerra cometidos pela Rússia, enquanto em Gaza, ou ofusca sua natureza, ou legitima as desculpas de “Israel” para cometê-los. Em Gaza, a acusação de que os combatentes da resistência operam entre civis concede carta branca para os crimes de guerra israelenses; na Ucrânia, a tática é enquadrada como a de uma resistência astuta e corajosa lutando contra um exército com poder de fogo vastamente superior. O exército “pouoc armado” da Ucrânia sempre precisa de mais armas, enquanto a ideia de o NYT sugerir isso para o Hamas é absurda. E enquanto o jornal forneceu uma cobertura aprofundada da arte e cultura que estão em risco de serem perdidas na Ucrânia, ele ignorou categoricamente a violenta campanha de “Israel” para apagar a produção cultural palestina.