Seria comovente, em tempos de normalidade, o esforço da Folha para entrevistar João Silva, o ex-assessor de Bolsonaro investigado por atitude supremacista e por envolvimento na tentativa de golpe. Hoje, o esforço da Folha, em nome da liberdade de imprensa, só comove a extrema direita.
Não estamos em tempos normais, e Silva era apenas parte do núcleo de mandaletes do governo. Em meio ao fogaréu em São Paulo, nos canaviais e na eleição com o incendiário Pablo Marçal, a Folha quer ouvir uma figura do terceiro time da estrutura do fascismo só para provocar e tentar acossar Alexandre de Moraes.
O ministro disse que a entrevista não deve acontecer, porque Silva está sob tutela da Justiça, e estamos diante de mais um debate sobre liberdade absoluta e censura. Fora a controvérsia interminável em torno da autoridade de Moraes para impedir entrevistas, o que se tem aí é mais uma tentativa da Folha de criar armadilhas para o ministro.
O gesto feito por João Silva, durante sessão do Senado, é associado a supremacistas brancos. Presidente Rodrigo Pacheco determinou que Polícia Legislativa investigue o fato. pic.twitter.com/dwn8sjawP5
— Cézar Feitoza (@CezarFeitoza) March 24, 2021
Silva esteve preso durante seis meses e foi solto depois de apresentar o que seriam as provas de que nunca tentou fugir do país para escapar das investigações sobre o golpe, por envolvimento com a minuta levada a Bolsonaro.
A Folha está pronta para abrir suas páginas a um suspeito de supremacismo e minutarismo para que ele diga o que todo mundo já sabe que ele dirá. Que é uma pessoa que se submete à lei e que nunca escaparia da Justiça.
Além disso, Silva pode dizer o quê? Pode afirmar, como a extrema direita vem fazendo, que sofre perseguição de Alexandre de Moraes. A Folha gostaria de ouvir do sujeito que o ministro é mau e estaria de novo fora dos ritos.
O jornal precisa preservar a própria tese de que Moraes é um autoritário. Como fez na manchete de 13 de agosto em que, a partir do vazamento de conversas, conclui que o ministro induziu seus assessores a desrespeitarem liturgias no inquérito das fake news.
Juristas ouvidos pela própria Folha disseram que não há rito nenhum a ser seguido nesse caso, e a maioria foi categórica: Moraes não pisoteou lei alguma. E a Folha, de posse dos arquivos vazados de seis gigabytes, ficou dependurada no pincel dos vazamentos geridos por Glenn Greenwald.
Aparentemente sem bambus e sem flechas, a Folha já atacou Moraes de novo pela decisão do ministro de abrir investigação em torno do vazamento, com o argumento usado sempre pelo jornal de que ele investiga, acusa e julga.
E agora, quando há evidências do fracasso da investida sobre os ritos, a Folha chama João Silva para ajudá-la a renovar as ameaças e sugerir mais uma armadilha para o ministro que escolheu como desafeto.
A Folha quer dar a entender que, com o caso do supremacista censurado, Moraes apenas reafirma sua postura autoritária. O jornal está dizendo: esse é o cara que descumpre ritos, investiga a imprensa e impede entrevistas que possam incomodá-lo.
O que a Folha teme? Que sejam descobertas atitudes comprometedoras do jornal na provável negociação do vazamento das conversas entre assessores de Moraes?
Teme que indícios confirmem que a velha Folha cúmplice da ditadura, agora de minissaia no formato berliner, está ativa de novo, aliando-se até à extrema direita para desqualificar Moraes e implodir o inquérito das fake news?
Vamos nos preparar para o próximo ato. A Folha virá com mais um truque para questionar a reputação e os atos de Moraes e tentar salvar os grandes golpistas civis e militares. Só falta a Folha convocar Pablo Marçal, se os todos os truques fracassarem.
Originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes