A crise financeira que ameaça a continuidade do portal de notícias russo Meduza desmentiu a alegação de que se tratava de uma “imprensa independente”. Com o corte nos repasses da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), imposto pelo governo Trump, o Meduza mergulhou numa crise financeira que mostra que se trata de um jornal fabricado e sustentado pelo imperialismo para sabotar governos e Estados que se recusam a se submeter à dominação norte-americana e europeia. Neste caso, especificamente a Rússia.

Segundo o próprio New York Times, que lamenta a perda de uma entre “centenas de redações em dezenas de países” financiadas por Washington, os repasses da USAID representavam ao menos 15% do orçamento do Meduza. Ainda que esse número, apresentado pela imprensa norte-americana, provavelmente subestima o grau de dependência, ele já é suficiente para colocar o sítio à beira da falência. Isso demonstra que o Meduza não sobreviveria nem um único dia sem a constante injeção de capital estrangeiro — especialmente do principal país imperialista do planeta.

As revelações expostas por The Grayzone, jornal investigativo norte-americano, jogam por terra as reiteradas negativas da direção do Meduza sobre o financiamento estrangeiro. Já em 2021, o jornalista Max Blumenthal havia divulgado documentos confidenciais que apontavam para uma articulação direta entre o sítio russo e os governos da OTAN. Esses documentos, obtidos de arquivos do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido, listavam o Meduza como um dos “parceiros estratégicos” a serem financiados em um projeto para “reduzir a influência do Estado russo”.

Entre os operadores dessa política estava a Zinc Network, uma firma especializada em operações psicológicas contratada pelo ministério britânico. Essa empresa, composta por ex-militares e agentes de inteligência, tinha como função “segmentar audiências”, desenvolver estratégias de alcance para portais antirrussos e fornecer apoio técnico e psicológico às equipes editoriais. O Meduza, segundo os próprios relatórios confidenciais da Zinc, não possuía capacidade técnica nem domínio de ferramentas digitais para atingir novos públicos — o que foi suprido pelas agências estrangeiras com cursos, softwares, publicidade direcionada e manipulação de mecanismos de busca.

A atuação da Zinc incluía medidas como ensinar os editores do Meduza a subir nas buscas do Google quando alguém procurasse “notícias em russo”, deslocando o tráfego que antes iria para a emissora estatal RT. Também estavam envolvidos em projetos como a produção de jogos satíricos — como “Putin Bingo” ou “Ajude o padre ortodoxo a chegar à igreja sem cair nas tentações carnais” — destinados à juventude russa e com o objetivo declarado de promover a “superioridade da cultura europeia ocidental” frente ao “regime arrogante e nacionalista” da Rússia. Ou seja, uma operação de propaganda cultural travestida de humor e jornalismo.

A fundação do Meduza remonta a outubro de 2014, período crucial para o avanço da ofensiva imperialista na Ucrânia, quando a fundadora Galina Timchenko foi demitida do portal Lenta.ru após publicar uma entrevista com Dmitro Yarosh, líder do grupo neonazista Setor Direita, vanguarda fascista dos eventos de Maidan. Após a demissão, ela se transferiu para a Letônia com parte da equipe editorial e ali fundou o Meduza. Desde então, o portal passou a operar fora da jurisdição russa, mas voltado quase exclusivamente à audiência russa, com política alinhada à da OTAN.

O segredo em torno de seus financiadores sempre foi marca registrada. Já em 2014, Ivan Kolpakov, cofundador do sítio, recusava-se a dizer se os recursos vinham da Rússia ou do exterior. Em suas palavras:

“Em um mundo mais justo, provavelmente deveríamos dizer quem são nossos investidores. Mas não na Rússia de 2014. Temos que proteger nosso produto e nossos investidores.”

O objetivo era evidente: esconder o financiamento estrangeiro que colocaria em risco a credibilidade da operação.

Com a divulgação dos documentos do governo britânico e a crise aberta com o corte de verbas de Washington, ficou claro que o Meduza era apenas mais uma ferramenta da guerra conduzida pelas potências imperialistas. O jornal foi oficialmente rotulado como “agente estrangeiro” pelo governo russo, o que o obrigou a revelar receitas e despesas ao Ministério da Justiça e, como admitiu a própria equipe editorial, reduziu drasticamente sua receita com publicidade.

O ex-editor do Meduza, Alexey Kovalev, abandonou o jornal em 2023 em circunstâncias não esclarecidas, exilando-se em Londres. Desde então, Kovalev passou a colaborar com a Foreign Policy e a atacar o Grayzone, acusando seus jornalistas — Max Blumenthal e Aaron Maté — de atuarem como “agentes russos” a serviço do Kremlin. Em um texto publicado em julho de 2024, Kovalev pediu que ambos fossem investigados por suposta violação da FARA (lei norte-americana de registro de agentes estrangeiros).

As acusações, desprovidas de qualquer prova, se voltaram agora contra seu autor. O próprio Grayzone nunca recebeu qualquer financiamento de governo, seja da Rússia ou de qualquer outro país. A tentativa de chamar a polícia contra os jornalistas que expuseram o papel do Meduza transformou-se em um desastre. Para finalizar o processo de desmoralização de Kovalev, em fevereiro deste ano, ele publicou em seu canal do Telegram que sua meta para 2025 era “matar todas as pessoas ruins” e “oprimir nossos inimigos”, incluindo aqueles contrários à continuação da guerra na Ucrânia. O ex-editor enlouqueceu, trancando sua conta no Twitter/X e sendo ignorado pela Foreign Policy, que ainda o mantém como colaborador.

O caso do Meduza é um exemplo claro de como os Estados Unidos e seus aliados utilizam o financiamento da “imprensa independente” para encobrir operações de guerra. O imperialismo se apresenta como defensor da liberdade de imprensa, mas apenas quando ela está a seu serviço. Quando o financiamento é cortado, a máscara cai: o “jornalismo livre” não passa de propaganda paga, a independência editorial desaparece e a liberdade de expressão cede lugar ao desespero e ao colapso.

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Last Update: 24/04/2025