Durante a Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), na última sexta-feira (1º), foi lançado o Atlas da Escala 6X1. O estudo revela que a maioria dos trabalhadores submetidos a esta escala de trabalho é composta por jovens negros que recebem até um salário mínimo e ficam mais de uma hora e meia no transporte coletivo todos os dias para se deslocar ao trabalho.

Este verdadeiro raio X da classe trabalhadora é fruto de uma parceria entre o Observatório do Estado Social Brasileiro com o Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro e a Associação Trabalho, Rede, Acompanhamento e Memória (Trama).

Entre os principais resultados a pesquisa mostra que 46% dos trabalhadores em escala 6×1 têm o rendimento médio entre R$1.412 e R$2.120, sendo que outros 22% recebem até um salário mínimo.

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De acordo com o estudo, as mulheres negras são as mais afetadas com os baixos salários: 80,7% delas recebem salários de até R$ 2.120. Para efeito comparativo, o índice dos que estão na escala 6X1 que recebem até esse valor entre as pessoas negras (homens e mulheres) cai para 73%. Quando se consideram pessoas brancas, o percentual é ainda menor: 59,47%.

O Atlas também indica que, de forma geral, 70% dos entrevistados não enxergam perspectiva de aumento salarial nas posições que ocupam.

Além da análise salarial, a pesquisa captou informações sobre qualidade de vida. Conforme apurado, 33% das pessoas levam mais de uma hora e meia entre o descolamento a casa e o trabalho.

 O impacto negativo da escala 6X1 ainda foi captado no número de trabalhadores que apresentaram atestado médico no último mês, 27%, e nos que informaram ter se atrasado para o trabalho, 21%.

Segundo os resultados, a categoria que mais relata ter a vida pessoal prejudicada pela escala 6×1 é a dos comerciários (caixas de supermercado, balconistas e vendedores de lojas), em que 87% alegam falta de tempo para atividades pessoais. Entre as atividades mais prejudicadas estão lazer (52,6%), relacionamentos familiares (43,5%) e repouso (37,9%).

O coordenador do Observatório do Estado Social Brasileiro, Tadeu Arrais, diz que o Atlas é uma “síntese parcial”, pois “é impossível traduzir, em palavras e mapas, o sofrimento da classe trabalhadora da escala 6×1”.

O presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, Márcio Ayer, ressalta que o Atlas “servirá como mais um instrumento de luta dos trabalhadores contra essa jornada extenuante.”

Foto: Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) esteve no lançamento e reforça a importância da pesquisa: “Os dados apresentados nesse lançamento escancaram o que a escala 6X1 representa. A luta pela redução da jornada de trabalho faz parte de uma luta maior que é a luta contra a opressão capitalista.”

A deputada estadual do Rio de Janeiro, Dani Balbi (PCdoB), também observa o levantamento como instrumento para balizar o debate pelo fim dessa jornada de trabalho, em especial para as mulheres negras: “Estamos vendo nessa pesquisa que a base mais afetada são as mulheres negras periféricas, a luta contra a escala 6X1 é uma luta de todos nós, ela representa a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.”

Foram entrevistados para o Atlas da Escala 6X1 o total de 3.775 trabalhadores em 394 municípios brasileiros entre dezembro de 2024 e abril de 2025. O questionário foi composto por 26 perguntas que foram, posteriormente, cruzadas com informações da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho e Emprego, para a produção da cartografia do estudo.

Confira mais resultados do Atlas na página do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro.

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Last Update: 05/08/2025