Em artigo publicado no último dia 24 de abril, intitulado The Jordanian Regime and the Palestinian Authority: A Continuous War on the Resistance, o escritor e militante palestino Khaled Barakat faz uma dura denúncia contra a repressão imposta tanto pelo regime hachemita da Jordânia quanto pela Autoridade Palestina de Mahmoud Abbas à resistência armada e popular contra o sionismo.

Barakat afirma que, a cada operação de “segurança contra o terrorismo” anunciada na Jordânia, o regime e seus porta-vozes aproveitam para “renovar sua lealdade, espalhar mentiras e atacar a resistência e sua base de apoio popular e armada na Palestina, no Líbano e na região”. Ele denuncia que os defensores do regime relembram de forma distorcida os eventos dos anos 1970 — período em que a resistência palestina foi brutalmente reprimida no país — para justificar a atual política de repressão, utilizando a segurança como pretexto para impedir manifestações e criminalizar os movimentos de luta.

Segundo Barakat, não é necessário sequer um ataque contra o inimigo para que o regime ataque a resistência. Como exemplo, cita a repetida proibição, por parte das autoridades jordanianas, de festivais em homenagem a Abu Ali Mustafa, histórico líder da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), assassinado pelos sionistas em 2001.

O artigo também critica o comportamento da Autoridade Palestina, sediada em Ramala, que atua de forma semelhante ao regime jordaniano, reprimindo os movimentos de resistência sob o lema de “proteger a pátria”.

Khaled Barakat destaca que o povo palestino e o povo jordaniano são um só e que compreendem, cada vez mais, o papel do regime de Amã como um agente a serviço do projeto sionista. “Nossos povos não precisam que ninguém lhes aponte a profundidade da relação histórica entre eles”, afirma.

A denúncia se estende à cumplicidade do regime jordaniano com o projeto de normalização das relações com “Israel” e à assinatura do tratado de Wadi Araba em 1994, que Barakat classifica como parte de um movimento de rendição e traição ao povo palestino, apoiado por regimes árabes pró-imperialistas. “Assim, esse triângulo reacionário pavimentou o caminho para que o Golfo, Marrocos e Sudão se movessem em direção à normalização — e até à aliança — com a entidade sionista”, acusa.

O Regime Jordaniano e a Autoridade Palestina: uma guerra contínua contra a resistência

Khaled Barakat

Com cada operação de segurança realizada pelos aparatos do regime na Jordânia “contra o terrorismo”, ressurgem os porta-vozes da Autoridade Palestina, que encontram nessa situação uma oportunidade para renovar sua traição, espalhar mentiras e falsas alegações e, claro, atacar a resistência e demonizar sua base popular e armada na Palestina, no Líbano e na região.

Eles relembram deliberadamente os “eventos dos anos 1970” (na realidade, a guerra contra a resistência na Jordânia), ressuscitando-os e atacando todos, sem rodeios. Usam essa história sangrenta como espantalho, muleta e pretexto para justificar a repressão, impedir manifestações e criminalizar as forças de resistência — enquanto também polem suas imagens perante os círculos do inimigo em Washington, Telavive, Londres e Paris. Assim, a autoridade na Jordânia reforça sua lógica distorcida em nome do “escudo da pátria”, enquanto a Autoridade Palestina em Ramala empreende seu ataque à resistência sob o slogan de “proteger a pátria!”

Não é preciso uma operação para que os capangas do regime se enfureçam e iniciem sua guerra contra a resistência. Cada “Governador da Capital” que chega a Amã nos últimos anos emite um decreto proibindo a realização de festivais populares em memória do mártir Abu Ali Mustafa, ex-Secretário-Geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina, assassinado pelo inimigo sionista em 27 de agosto de 2001. Isso já ocorreu repetidas vezes. Quanto à posição da Autoridade Palestina dentro da Palestina e às ações de seus aparatos de segurança em Ramala, esta é uma história bem conhecida.

Os porta-vozes do regime gritam tão alto que ensurdecem todos com falatórios sobre “segurança”, “estabilidade” e o “Estado jordaniano”, enquanto apontam seus dedos acusadores para a vanguarda do povo jordaniano, vomitando slogans vazios contra “grupos apoiados pelo Irã” e invocando espantalhos que já não assustam nem enganam ninguém. O povo jordaniano — especialmente a nova geração — compreende a natureza funcional do regime em Amã e seu papel na estratégia norte-americana e imperialista. Já assistiram a todas as suas encenações e filmes desgastados, repetidas vezes.

Nosso povo na Jordânia e na Palestina não precisa que ninguém lhes aponte a profundidade da relação histórica entre eles: são um só povo, ligados por um destino comum, e mais do que qualquer outro, compreendem o papel do regime jordaniano e de seus agentes pagos, que trabalham a serviço do projeto colonial e da proteção dos assentamentos e das “fronteiras” do inimigo sionista.

As vozes que defendem o “trono hachemita” e os “acordos de Oslo” ecoam em todas as formas de imprensa após o anúncio do “desmantelamento de células terroristas em Amã”. Correm para defender a classe dominante contra a resistência e sua base popular. Ofegam nos canais de satélite financiados pelo petróleo e atacam o Irã, o Hesbolá e o Ansar Alá — como se esses fossem, e não os sionistas, o verdadeiro inimigo. Assim, os interesses subordinados, atrelados ao petróleo e à ajuda estrangeira, mobilizam-se, espalhando-se entre as margens leste e oeste do rio Jordão. Ninguém além deles mesmos agita o que chamam de “tensões sectárias e tribais”! E ninguém como eles incita a discórdia, a divisão e o ódio entre o povo de uma única nação.

O regime jordaniano deseja manter seu privilégio sobre Jerusalém sob o pretexto da “custódia hachemita dos locais sagrados!” Uma grande mentira diante de uma realidade que grita com fatos frios sobre o estado da cidade sagrada, ocupada, que sofre morte e humilhação às mãos da ocupação, dia e noite. No entanto, o regime — como a autoridade em Ramala — não vê nem Jerusalém nem os massacres diários em Gaza como questões que justifiquem a ruptura das relações com a entidade sionista.

Recusa-se a assumir a responsabilidade histórica e política pela perda de Jerusalém e da pátria em 1948 e 1967. Ao mesmo tempo, seu aparato de segurança confisca o direito dos cidadãos de lutar por Jerusalém, de defender sua liberdade e de se solidarizar com Gaza, além de negar-lhes o direito de protestar contra as ações de Ben Gvir e sua horda de colonos selvagens. Nega-lhes o direito de rejeitar os massacres diários e os crimes do inimigo em Jerusalém: a judaização, o deslocamento, a demolição de casas e a profanação diária da Mesquita de Al-Aqsa e dos locais sagrados muçulmanos e cristãos.

O regime jordaniano assinou o Acordo de Wadi Araba em 1994, escorando-se na desculpa de que “os palestinos nos precederam com os Acordos de Oslo” (setembro de 1993). Esse é o estado do regime árabe oficial: ataca a resistência, demoniza-a e corre em direção à normalização e à aprovação de Washington. Apoia-se no “Egito de Camp David” e justifica suas posições por sua aliança com Amã e com uma autoridade impotente em Ramala. Esse triângulo reacionário pavimentou o caminho para que o Golfo, Marrocos e Sudão fossem empurrados para a normalização — e até mesmo para a aliança — com a entidade sionista em nome do profeta Ibrahim, chegando hoje ao ponto em que a Liga Árabe é um ajuntamento onde entulho apoia entulho numa mesma sala e sob uma mesma imagem.

As empresas e bancos conjuntos jordano-palestinos estão divididos entre um pacote de corretores e grandes comerciantes de ambos os lados do rio, sob o patrocínio norte-americano, do Golfo e sionista. Trata-se, como dissemos, de uma única classe — unida pelo dólar e pelos interesses comuns — desde os tempos dos “distritos” patrocinados pelos britânicos até os atuais setores ligados ao colonialismo, à ocupação e ao petróleo. É parte integrante de um campo colonial que nunca deixou nossa região sequer por uma hora, mantendo bases militares na Jordânia, no Iraque, na Síria, no Golfo e em outros lugares, além de ter estabelecido uma colônia armada com armas nucleares, que massacra o povo de Gaza diante dos olhos do mundo, sem qualquer impedimento.

Já não resta nenhum resquício de soberania nacional em nosso mundo árabe — exceto nos estreitos enclaves cercados onde ainda existe a arma da resistência. Esta, agora, está sendo atacada. Daí as frequentes conversas sobre “desarmamento”, “entrega de armas” e “uma única autoridade!” Nada disso é coincidência, como o caro leitor sabe, mas resultado da cooperação e coordenação diárias entre as partes patrocinadas pelos EUA, que se reúnem regularmente para “consultas” nos hotéis de Aqaba!

É, portanto, natural presenciar uma cena oposta e contrastante de solidariedade e coesão entre as classes populares na Palestina e na Jordânia — onde a esmagadora maioria oprimida de Gaza, Jenin, Amã, Karak e Hebron constitui a base da resistência e a verdadeira interessada na unidade, na mudança e na libertação. Se se levantam e apoiam a resistência — ou tentam fabricar armas ou contrabandeá-las para a terra ocupada — tornam-se, aos olhos do regime jordaniano e da Autoridade de Oslo, “gangues” fora da lei, merecedoras de prisão, apedrejamento e perseguição!

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Last Update: 27/04/2025