Branco de pó e os 7 maganões
Por Jordan Michel-Muniz*, especial para o Viomundo
Há mais de um milhão de mortos e mutilados pelo mau cálculo da cobiça: deu chabu.
Os EUA e a União Europeia (UE) armaram a Ucrânia achando-se acima da ‘atrasada e frágil’ Rússia.
Trinta países apoiam belicamente à Ucrânia, segundo maior exército europeu, menor apenas que o russo.
Acumulam derrotas, mas insistem: “Até o último ucraniano!”.
A Rússia não ataca civis, ao contrário da OTAN na Iugoslávia, Iraque, Afeganistão…, e de neonazistas de Israel municiados pela OTAN na Palestina.
Há mortos civis, sim, porém Craig Murray diz que crianças foram 0,3% das perdas russas e ucranianas; em Gaza elas são 37,7% das vítimas palestinas. A diferença berra.
Tentaram quebrar a economia russa com cerca de 20.000 sanções, para derrubar Putin e balcanizar o país – como a OTAN fez na Iugoslávia e faz na Síria, entregue a terroristas degoladores.
Queriam dividir a Rússia para saquear a maior reserva global de minérios (voltarei a isto), e impedir eventual ajuda dela à China, cuja destruição é o objetivo final.
Falharam.
A Rússia está econômica e militarmente melhor que antes, unida como nunca à China, Coreia do Norte e Irã, e estreitou laços com várias nações.
A grande mídia omite como começou a guerra.
Ela apaga a origem de problemas mundiais e adultera narrativas para garantir a hegemonia das oligarquias ocidentais, suas donas.
Ela desinforma com meios de intoxicação de massa: daí a russofobia, islamofobia e o ódio político do tipo bolsonarista, fascista, que não nascem por geração espontânea.
Thomas Hobbes ensinou no Leviatã (1651) como governar povos pelo medo.
A Comissão Europeia, não eleita, ditatorial, usa a lição assustando com invasão russa ao ‘jardim europeu’ de Josep Borrel, para quem o resto do mundo é ameaçadora selva.
Ele também apela ao medo, ocultando que a colonização por ‘jardineiros’ arrasou a ‘selva’.
Quem atacou primeiro?
Em 2013 Europa e EUA urdiram a deposição do governo ucraniano, o Euromaidan.
A população na Ucrânia estava dividida entre se associar com a União Europeia, com dinheiro do FMI em condições abusivas, ou aderir à União Aduaneira da Bielorrússia, Cazaquistão e Rússia, com oferta de crédito e energia baratos.
Os EUA de Obama acusaram a Rússia de chantagem, organizaram protestos e levaram congressistas a Kiev para discursar.
Victoria Nuland, Secretária Adjunta de Estado dos EUA e regente do golpe de Estado, zombou das consequências para europeus: “Fuck Europe”.
O insulto ecoou em Odessa, cidade ucraniana de origem russa, onde neonazistas queimaram uma centena de pró-russos.
O ‘jardim europeu’ os desumanizou e ignorou, como faz ao ver pacientes palestinos queimando em leitos de hospitais bombardeados por Israel.
A Crimeia uniu-se por plebiscito à Rússia, e no leste o Donbass quis autonomia, razão de ataques do governo golpista que em oito anos tiraram 14 mil vidas, a maioria civis.
Maquiavel ensinou ser erro benéfico ao inimigo adiar guerra inevitável. Assim sucedeu.
A Rússia buscou paz nos Acordos de Minsk (2014 e 2015), que Angela Merkel (Alemanha) e François Hollande (França), signatários, depois confessariam ser mera artimanha para ganhar tempo e fortificar a Ucrânia.
Houve logro, como na reunificação alemã (1990), quando a OTAN prometeu não avançar ao leste.
Em 2022 a Rússia recusou-se a tolerar mais ameaças à sua volta, e propôs pacto à OTAN, pelo princípio de a segurança coletiva ser indivisível: recusaram com soberba.
Então ela deflagrou a Operação Militar Especial na Ucrânia.
Estes fatos a mídia omite ao insuflar russofobia criticando a ‘índole autoritária’ de Putin, o veto à apologia LGBT+ ou a prisão de angelicais dissidentes.
Porém a ‘democracia e diversidade’ da OTAN prende ou silencia quem protesta contra Israel ou critica governantes.
Autoritários são os outros, assim como o inferno de Sartre.
O resto é história: derrota da OTAN na Ucrânia, que sepulta a ordem unipolar ocidental.
Os EUA lucraram só na quebra da Europa, rival econômico, privando-a do gás russo barato, gerando recessão e dependência do caro gás dos EUA.
A guerra é custosa, sem novos ganhos para os EUA, cuja influência e poder desabam.
Então trocam a paz nos termos de Putin por vantagens econômicas: Os EUA querem minérios, que referi no início.
A Rússia cuida da sua riqueza, mas pode ter aceitado explorar em parceria as terras raras que os EUA queriam tomar da Ucrânia, no Donbass, e que agora são russas: Trump concorda com Putin anexar, desde que reparta o butim. Negócios!
Emmanuel Macron (França), Keir Starmer (Reino Unido), Friedrich Merz (Alemanha), Giorgia Meloni (Itália), Ursula von der Leyen (Comissão Europeia), Mark Rutte (OTAN) e Alexander Stubb (Finlândia), servos das oligarquias europeias, exigem mais sangue.
São sete maganões, palavra que significa ser muito inescrupuloso, ardiloso, trapaceiro.
Alguns oferecem até o sangue de compatriotas; nunca o próprio, claro.
A UE gastará um trilhão de Euros em armas.
O dinheiro sairá do bem-estar social (saúde, educação, moradia…) e de empréstimos.
Vão endividar-se e dar fim à austeridade fiscal, meta antes intocável, que reduziu direitos sociais e ampliou a idade de aposentadorias.
Assim os impostos irão para quem empresta a juros, isto é, tirarão da classe trabalhadora para dar ao capital improdutivo da especulação financeira.
“Se conservamos o gasto na saúde falaremos russo”, atemoriza Rutte.
Russofobia neles! Medo! Medo!
A mídia injeta medo dia e noite, como Hobbes ensinou.
Dane-se o bem-estar de quem quer paz e se iludiu vendo-a como central no toma lá dá cá econômico do Alasca.
Para pressionar Trump a renegar Putin e seguir na guerra, os sete maganões, sem convite, foram aos EUA apoiar Volodymyr Zelensky.
Zelensky fez fama com comédias toscas e daí pulou à presidência ucraniana: o vício no pó branco parece estimular o envio sem dó do povo para ser carne de canhão.
Não há voluntários, apenas gente caçada nas ruas e sem treinamento jogada à morte.
Os maganões viraram MAGA (Make America Great Again) anões com Trump: submissos, esperaram.
Trump impôs conversar antes com Zelensky.
Só aí deixou o ‘Branco de Pó’ unir-se aos sete MAGA anões.
Logo cortou o papo e falou meia hora com Putin, ligou exibindo ‘intimidade’ e, junto, desprezo pelos ‘anões’: que esperem!
Depois os servos puderam falar, pedir, e ouvir recusas do suserano.
Na mitologia grega Zeus seduz Europa mimetizado em belo touro.
Nos EUA ela se entregou indecorosa ao bufão, o fascista indisfarçável.
Papai Trump (como o chama Rutte) esmagou os maganões.
A classe trabalhadora europeia deve esmagá-los também.
Com revolta, terá paz; sem ela, mais guerra – a válvula de escape das crises do capital.
*Jordan Michel-Muniz é ativista social, mestre e doutor em filosofia pela UFSC, e pesquisa temas ligados à geopolítica, democracia e injustiças.
Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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