Luís Silva, candidato do Partido da Causa Operária (PCO) à prefeitura de São Paulo, concedeu uma entrevista ao jornal G1 no dia 13 de agosto. Luís Silva tem 27 anos, iniciou sua militância política e estudantil nas jornadas de junho de 2013, é filiado ao PCO desde 2015 e é coordenador da Aliança da Juventude Revolucionária (AJR) – juventude do Partido da Causa Operária.
A entrevista teve início com um questionamento da entrevistadora – Paula Paiva – com relação a uma declaração de Luís sobre os demais candidatos à prefeitura. Luís disse que quem alegar resolver algo em 4 anos de mandato é picareta, Paiva questionou-o sobre a reação do eleitorado à sua fala. O candidato do PCO falou que “não devemos medir o que vamos falar de acordo com o que as pessoas vão pensar, tem de falar aquilo que tem de ser dito: a verdade”.
Luís apontou para o fato de que a cidade de São Paulo já teve todo tipo de prefeito (velho, novo, de esquerda e de direita…) e nada foi resolvido. Segundo Luís, o objetivo de uma prefeitura do Partido da Causa Operária é dar o poder ao povo, fazer com que os trabaladores tomem as decisões sobre a maior cidade do país:
“O nosso trabalho é fazer o povo governar. Porque toda vez que você elege alguém, quem governa são burocratas anônimos e os interesses econômicos da cidade – os grandes capitalistas e os empresários. Temos de fazer com que o trabalador governe. Com que as pessoas usam o serviço público tomem as decisões sobre o serviço público”.
Saúde
Ao tratar da saúde, Paiva perguntou como seria resolvido o problema das filas de espera nos hospitais e postos na cidade. O candidato relatou uma experiência própria sobre a questão, em que teve de esperar 5 horas na fila de um hospital e não conseguiu ser atendido. Luís disse que o problema não é uma proposta dele, mas um orçamento reduzido – problema central para a administração pública em todas as cidades do país. Sustentou que o maior problema tanto da saúde, como da educação, transporte e dos mais diversos serviços essenciais é o problema do orçamento público. “Paga-se muito imposto e ele vai para a união e ela não gasta com o deveria ser gasto, tudo vai para a dívida pública – para pagar banqueiros e capitalistas – sendo que a dívida já deveria ter sido quitada”, disse Luís.
Declarou também que o orçamento de São Paulo, mesmo sendo o maior do país, é pequeno. Apontando para o fato de o salário dos servidores públicos, segundo os próprios servidores, é insuficiente. Para resolver a questão do orçamento público, Luís defendeu claramente a posição do PCO: dar calote na dívida pública.
Transporte
Quanto ao transporte na cidade com mais carros do país, Luís defendeu um transporte de qualidade e gratuito para todos. Apontou que, apesar de todos os outros candidatos estarem falando sobre a tarifa zero, nenhum está tocando no real problema do transporte público de São Paulo: a altíssima tarifa e os mais de 5 bilhões de reais pagos pela prefeitura a empresas privadas de transporte.
Luís sustentou o cancelamento dos contratos com as empresas privadas e a estatização de todo o transporte da cidade de São Paulo:
“Ninguém deveria lucrar com serviços essenciais. Acreditamos que transporte deveria ser gratuito. É absurdo que a gente pague IPVA, IPTU, imposto de renda, ICMS, tudo quanto é tipo de imposto e você não tem um transporte gratuito. O direito de ir e vir não é o direito da pessoa ir a pé. O Estado deveria provir o direito de a pessoa ir e vir de verdade”.
Disse, também, que os problemas de acidente e de transito são “resultado do transito frenético que tem aqui [São Paulo], que é resultado da falta de dinheiro, da privatização do transporte público e da situação que a cidade vive. Você tem gente que é obrigado a morar muito longe do trabalho por conta da especulação imobiliária. Tem gente que trabalha na zona leste, mas mora em Parelheiros e demora 3 horas para chegar no trabalho. Conheço gente assim e é uma coisa totalmente abusiva. E a pessoa não tem como morar perto do trabalho porque ela não ganha o suficiente”.
Segurança:
Na questão da segurança pública Luís disse que o aumento de policiais não resolve o problema da criminalidade. Batendo de frente com o candidato de PSOL, Guilherme Boulos, dizendo que a proposta dele para a segurança pública é ineficiente: “o que resolve problema da segurança pública é emprego, comida na mesa e oportunidade para as pessoas (…). vi o Guilherme Boulos falando que vai dobrar o número de policiais na cidade. Violência não é a resposta. Na minha opinião é uma capitulação ao bolsonarismo, o pessoal está ficando bolsonarista na questão da segurança”.
De acordo com o candidato, países em que a situação social é mais grave há maior criminalidade. Deu o exemplo de Cuba, onde, apesar de ser um país pobre, a taxa de criminalidade é baixa. Isto pois, a situação social no país caribenho é controlada. As riquezas nacionais são divididas entre o povo. A situação da segurança pública é estabilizada de tal forma que a polícia não porta armas.
Nesta linha, Paiva perguntou ao candidato se ele era favorável a utilização de armas e fuzis pela guarda-civil. Luís disse ser favorável não apenas a não utilização de armas, mas à extinção da corporação como um todo:
“Já temos muita polícia. Não precisa de mais uma. E a guarda-civil tem um histórico de violação de direitos básicos da população que não é brincadeira. Roubar cobertor de mendigo; roubar identidade; dar banho de agua fria no pessoal…”.
Luís defendeu a criação de milícias populares como força de segurança pública – modelo de organização da segurança pública utilizado em Cuba e na Venezuela. Em que os próprios moradores de um bairro elegeriam os membros da milícia responsáveis pelo policiamento, sendo passíveis de impeachments pela população.
Educação:
Para Luís, a educação pública necessita de uma melhoria nas estruturas das escolas e um aumento no número de professores e servidores contratados. Bem como uma diminuição do número de alunos por sala de aula. Defendeu também o aumento do salário dos professores, pois “se a educação é serviço essencial tem de pagar como serviço essencial, e isso o Estado não faz”.
O candidato declarou que em um governo seu, a Secretaria do Trabalho seria controlado por um sindicalista, alguém que conhece e sabe das necessidades dos trabalhadores.
Habitação:
Luís saudou todos os movimentos que estão ocupando os prédios inutilizados pelos especuladores imobiliários. Disse que em uma prefeitura do PCO, todos os movimentos de moradia que estão em alguma ocupação ou que criarem uma ocupação receberiam “toda e qualquer documentação que eles precisem para legalizar” a ocupação. Declarou ser totalmente contra a reintegração de posse: “Tem prédio que está sendo utilizado para especulação imobiliária? Está certo ocupar! ”.
Salientou a necessidade de que os riscos paguem pela habitação. Dizendo que o Estado faria um confisco dos imóveis utilizados para especulação imobiliária e coletiviza-los para toda a população.
Entretanto, ressaltou o seu compromisso com a verdade: não tem como resolver todos os problemas da cidade com apenas 4 anos.
“Não vamos mentir para ninguém, muitos dos problemas da cidade vão precisar de mais de 4 anos. Por isso que a nossa tarefa principal é garantir não que o PCO ou qualquer partido governe, mas que os trabalhadores governem”.
Aliança com partidos de esquerda:
Paiva, por fim, indagou sobre a decisão do Partido da Causa Operária de lançar candidatura própria e não unir forçar com os demais partidos de esquerda, dando enfoque para o PSOL e seu candidato, Guilherme Boulos.
A resposta de Luís foi direta e clara: “pior que um inimigo são falsos amigos”. Apontou para o desastre do mandato de Martha Suplicy e sua traição com o Partido dos Trabalhadores ao apoiar o golpe de 2016. Para o candidato do PCO, o ídolo do PSOL, Gabriel Boric (presidente do Chile), está mantendo uma previdência que mata idosos, está fazendo um ajuste fiscal perseguindo ambulantes, atacando a soberania da Venezuela, entre outras atrocidades. Se o ídolo do partido está realizando estes absurdos, não há de se esperar menos de um governo do PSOL em São Paulo.
“Não acreditamos em fazer compromissos, ou seja, abandonar aquilo que é certo – as nossas posições políticas – para obter vantagens eleitorais. Nós vamos a eleição para falar a verdade. Não vou falar que o Boulos é um bom candidato, porque não é verdade”, afirmou Luís Silva.